Não, Coronel Lee. O senhor não está sendo perseguido pela Justiça

Cassado, deputado bolsonarista diz que não tinha como controlar o partido, mas se beneficiou do que o PSL fez

O deputado Coronel Lee (União Brasil) exerce na Internet o seu direito de espernear. Cassado pelo TRE junto com todos os seus correligionários, ele diz estar sendo perseguido. Assim como seus colegas ele estaria sendo punido por ser bolsonarista.

É parte do processo de luto: negação primeiro, depois revolta. Mas os fatos do processo judicial parecem sólidos o suficiente para recomendar ao deputado um atalho até o último estágio, a aceitação. .

O argumento de Lee no vídeo postado na Internet diz que ele não era presidente nem gestor do PSL, seu partido em 2018. Aliás, como era militar da ativa, ele só se filiou em cima da hora (diz ele que dois meses depois de eleito). Portanto, não pode responder pelo que o partido fez.

Indo direto ao ponto questionado (a fraude das cotas de gênero, com uso de candidatas fantasmas para driblar a lei), o coronel afirma que não tinha controle sobre isso. E portanto, não poderia ser punido. Pode até fazer sentido do ponto de vista da lógica, mas não é assim.

Pela lei brasileira, não existe candidato avulso. Você precisa de um partido e de uma chapa para concorrer. E a vaga no Legislativo nem é do candidato: é do partido. Ou seja, sem o PSL, Lee nem seria deputado.

Mesmo que a lei não fosse essa, o Coronel Lee jamais se elegeria sozinho. O PM fez um caminhão de votos: mais de 58 mil. Mas para conseguir uma vaga sozinho, sem depender dos votos do restante da chapa, precisaria quase dobrar isso: o quociente eleitoral em 2018 foi de 97 mil votos.

Na política brasileira, um parlamentar está para o partido mais ou menos como um jogador de um time de futebol. Não adianta Lee dizer que não tinha como controlar o que acontecia na chapa. É o mesmo que um jogador de futebol reclamar que foi rebaixado apesar de jogar bem: se os outros cometeram faltas, fizeram pênalti e marcaram gol contra, vai todo mundo junto para a segundona.

Claro que a suposta perseguição é um argumento para que os eleitores confiem nele e fiquem ainda com mais raiva do sistema eleitoral – uma jogada a que os bolsonaristas sempre recorrem, ainda que sabendo que com isso nossa democracia, já frágil, fica ainda em piores condições.

Mas a culpa de usar uma fraude para driblar a lei, segundo o TRE, está estabelecida. E quem foi o eleito pelo partido, goste ou não, está cassado. Resta agora recorrer, que é o que se faz numa democracia.

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