Quando eu comecei a cobrir política, em 2000, a Roseli Abrão já era uma lenda. Lembro que eu entrava na parte da Assembleia reservada à imprensa e estava todo mundo andando pra lá e pra cá atrás de notícia. Ela não precisava disso: a notícia vinha atrás dela.
O cantinho do imenso balcão de onde a gente via a sessão era sempre dela e de sua fiel escudeira, a Betinha. A essa altura a Roseli já tinha trabalhado em todos os veículos e os deputados sabiam que ela era a nossa decana. Mesmo que ela não estivesse no jornal mais influente, era ela que procuravam. E ela dava a notícia antes.
Eu achava estranho porque eu e outros colegas estávamos em jornais maiores. Um fotógrafo, o Liudi, foi que me abriu o olho: “Eles sabem que ela vai dar e todos os colegas vão ler, e vão atrás.” E era verdade. Ela era quem informava os outros jornalistas, muitas vezes, fosse na coluna, fosse falando baixinho, discreta, no comitê de imprensa.
Não convivi muito com ela. Acabei não cobrindo por muito tempo a Assembleia, que era o dia a dia dela – e de fato é o centro da política local. Mas sempre que ia lá ficava meio fascinado com aquela senhora pequena, que parecia estar no domínio da situação, que nunca se exaltava, e que resolveu dedicar a vida àquilo.
Uma vez, numa coletiva com o Lerner, aconteceu alguma coisa (não lembro o que), que deixou os colegas irritados. Acho que alguém ligado ao governo foi arrogante com os repórteres. E ela disse uma coisa que eu nunca esqueci. Falou que desde o José Richa aprendeu que os políticos vêm e vão, mas os jornalistas permanecem.
Roseli Abrão partiu nesta terça, mas sim, permanece o trabalho dela, e permanece com o que escreveu, como nossa decana.