Como Ratinho acabou com a rádio e a tevê da Educativa

Governo vem desmontando sistematicamente a grade cultural dos veículos

Quando a gente fala em desmonte, desmanche, sucateamento muitas vezes é um pequeno exagero – um jeito de chamar a atenção para um problema. Mas às vezes é de verdade mesmo; e tenho receio de que no caso da TV e da Rádio Educativa do Paraná o desmonte, o desmanche, o sucateamento sejam não só reais, sejam também deliberados.

Comecei a me dar conta do que estava acontecendo na rádio quando o programa que eu mais ouvia sumiu de uma hora para outra do horário nobre. Quantas vezes ouvi o Tempo de Jazz, comandado pelo mestre Osvaldo Hoffmann Filho, na locução sensacional da Betina Müller, às seis da tarde, na hora de pegar as crias na escola e voltar para casa.

Um dia, liguei lá na hora de sempre e… cadê? No lugar que antes tinha Duke Ellington, estava tocando Jota Quest, sei lá. Fui falar com um amigo que sabe do que se passa no governo e ele me disse que a ideia dos maiorais da era Ratinho é colocar uma música mais “para cima” na hora do pico de trânsito.

Algo mais animado e mais dançante do que jazz… Jota Quest. Sei.

A grade tinha mudado toda, na verdade. Os programas de jazz e música clássica iam sendo cada vez mais escanteados e sendo substituídos por coisas mais pop. Como se a função de uma rádio educativa fosse competir por audiência – na verdade é justo o contrário, essas rádios servem para mostrar o que as outras não mostram…

Com o tempo, a programação piorou ainda mais, com espaço maior para o jornalismo oficialesco e cada vez encurralando mais a parte cultural.

Na tevê, a desgraça começou já no primeiro mês de governo, quando a programação saiu do ar para reformulação. A linda grade foi trocada inteirinha e a tevê voltou como um canal especializado em TURISMO. Todo o caráter educativo foi sendo jogado fora em nome de programas para mandar as pessoas a Itaipulândia ou para tocar jingles de Ivaiporã.

Mas piorou. Porque governos que são contra a cultura não se contentam com pouco, querem de fato acabar com tudo sem deixar rastros.

Agora a gestão Ratinho consegue o momento mais baixo da Educativa em sua história. A TV Cultura anunciou o fim da parceria com a rede paranaense. Preferiu repassar a autorização de retransmissão para o iniciante canal 13, de Wilson Picler, da Uninter.

Há quem fale em jogada política, mas aparentemente Ratinho simplesmente não está nem aí para os ótimos programas da Cultura e quer cada vez mais tornar a tevê estatal uma nulidade com zero audiência, que não esclareça, não ensine e não eduque.

Nesse aspecto peculiar. Ratinho vem conseguindo ser pior do que Beto Richa, o que, sinceramente, nem parecia possível.

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