Por uma TV Educativa realmente plural

TV pública de Ponta Grossa passa para a UEPG. O que isso significa? E o que precisa ser feito?

A TV Educativa de Ponta Grossa, cuja história começou em 1999, passa neste mês para uma nova fase, com a concessão do canal sendo transferida da Prefeitura Municipal para a Universidade Estadual de Ponta Grossa, que se torna com isso a nova mantenedora. Após várias ameaças de fechamento por parte da administração pública, desta e de outras gestões, a TV Educativa, deixa de ser gestada pelo Município.

A história da TV Educativa de Ponta Grossa é repleta de contribuições para a educação e para cultura da cidade e região e não poderia ser simplesmente encerrada. Basta lembrar dos programas como o Vem Aprender que, durante o período de isolamento, no auge da pandemia, possibilitou que as crianças da rede pública, muitas sem conexão de internet, tivessem acesso ao ensino. Poderia citar ainda a relação da TV Educativa com o Operário Futebol Clube, que remonta ao período em que o futebol profissional da cidade não era de interesse das TV comerciais, sempre em evidência através do programa Esporte Emoção. Essa relação inclui ainda as coberturas ao vivo da München Fest, entre várias outras iniciativas de valorização da cultura local e regional. Extinguir a TV Educativa não era alternativa!

Para muitos, inclusive, a decisão da UEPG em assumir a gestão da TV Educativa foi o melhor caminho. Ela, por certo, dentre os entes públicos da cidade e região, é a que reúne melhores condições, tanto econômicas quanto técnicas, para essa tarefa. Muito que bem! Mas como fica agora?

É fundamental, nessa nova fase e pensando no futuro da TVE-UEPG, que ela avance alcançando sua plenitude como emissora de televisão realmente pública, autônoma e plural. Mas como alcançar suas potencialidades? Modestamente, cabe reconhecer sua natureza complementar. Como define a lei de concessões de emissoras educativas públicas no Brasil, ela, a TVE-UEPG deve atuar onde a emissoras comerciais não têm interesse, uma vez que elas (TVs que integram grandes grupos empresariais) são orientadas pelo lucro via publicidade. Em geral, ignoram temas, assuntos, pautas e acontecimentos que podem colocar em risco sua viabilidade financeira e política ou que representem ameaça aos interesses de seus gestores, os empresários. A complementaridade é princípio, por tanto. Repetir temas, pautas, conteúdos e padrões adotados pelo modelo comercial é um desserviço à sociedade e vai na contramão de outra orientação: a pluralidade.

Mas como alcançar a pluralidade de conteúdos? Como expressar a diversidade de vozes de um conjunto tão heterogêneo como o brasileiro? Simples: é garantir que a sociedade civil organizada participe da gestão, como prevê a lei que regulamenta o funcionamento de emissoras públicas, organizado em torno de uma Fundação privada de direito público, estruturada especificamente para este fim. Através da Fundação estariam representadas as múltiplas expressões sociais, intervindo, decidindo, fiscalizando, enfim, agindo para garantir o pleno exercício da manifestação popular e da execução do serviço. Para tanto, torna-se necessário, por parte da mantenedora, reconhecer seu lugar: (a) garantidora tanto econômica quanto técnica da manutenção da emissora pública; (b) mediadora democrática dos múltiplos interesses representados; (c) salvaguardar a autonomia plena de conteúdos.

A gestão da TV Educativa pela UEPG é um estímulo e um desafio, pois oferece a oportunidade de ela aplicar alguns de seus ideais como a valorização das “múltiplas formas de conhecimento e expressão, técnicas e científicas, artísticas e culturais”; e “Lutar pela universalização da cidadania e pela consolidação da democracia”, entre outros relacionados à missão da UEPG.

Como apontava Paulo Freire: “Este esforço, o de diminuir a distância entre o discurso e a prática, é já uma dessas virtudes indispensáveis – a da coerência”.

Sobre o/a autor/a

1 comentário em “Por uma TV Educativa realmente plural”

  1. Sérgio Ubiratã Alves de Freitas

    Parabenizo o professor Miguel Sanches, reitor, o Conselho e a comunidade por acertada decisão.
    Agora é criar os mecanismos de suporte e autonomia (Conselho, orçamento etc)

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