O Pisa e o preço da nossa desigualdade

Quando o Pisa mostra que apenas 1% dos jovens brasileiros está na parte de cima da pirâmide do aprendizado em Matemática e que 43% dos jovens de Singapura estão nessa posição, entendemos o tamanho da estrada a ser construída

Saiu mais um resultado do Pisa, o exame que analisa o desempenho de jovens de 15 anos em 80 países, e que funciona, desde a primeira edição da qual participamos, em 2000, como um tapa na cara periódico na nossa incapacidade de melhorar o nível de escolarização dos nossos jovens. Ficamos entre os 20 piores países em Matemática e Ciências e entre os 30 piores em Leitura. Ou seja: a maioria dos jovens brasileiros não sabe calcular o percentual de probabilidade de um fato ocorrer; não sabe como as vacinas funcionam (e se funcionam!) e não saberão identificar as ideias principais deste texto. Um desastre que só não foi pior, nesse último período de avaliação, que foi de 2018 a 2022, por causa da ação de prefeitos e alguns governadores que compreenderam a necessidade urgente e permanente de compensar, na escola, a desigualdade que a História provocou e que a pandemia agravou seriamente.

A publicação dos resultados do Pisa funciona também como um gatilho para as acusações ideológicas de sempre, da educação “Paulo Freire”, do “agora faz o L”, e estultices do gênero. Tudo isso sem saber – porque não são só os jovens que não têm noção de matemática – que o único período no qual tivemos uma melhora nos resultados do Pisa em Matemática foi entre 2003 e 2012. Mas mesmo assim tudo ficou bem longe de ser o bastante. Como disse, a questão não é ideológica, como se a eficácia no aprendizado dependesse de um método “de direita” ou “de esquerda”; também não é um problema de competência dos professores , embora a precariedade da formação docente é uma bomba relógio de efeito catastrófico no médio prazo.

A questão principal é de como superar a desigualdade estrutural que coloca crianças longe dos livros, longe da tecnologia, da cultura global, da alimentação de qualidade, do tempo de estudo de 8 horas diárias, das aulas de reforço, do aprendizado da língua inglesa, do estudo paciente, persistente e profundo da Matemática e das Ciências, da leitura de jornais, revistas científicas e da literatura, muita literatura. Como afastar as crianças dos afazeres domésticos extenuantes e do trabalho precoce e como aproxima-las da arte, da música, do cinema, teatro, da filosofia, condições sem as quais as exigências de conhecimento situado exigidas nas avaliações do Pisa produzirão sempre resultados pífios, demonstrativo de como conseguimos, geração após geração, contaminar de maneira indelével o solo tão fértil da Nação, produzindo desertos sem fim.

A solução para o governo federal é buscar seguir os bons exemplos. O atual governo pareceu entender essa lógica, ao trazer o governador do Ceará para o Ministério da Educação. Os bons exemplos precisam ser estudados e replicados, com recursos e com formação de pessoal qualificado. E com foco no efetivo aprendizado dos jovens, dando a eles ferramentas, tempo, alimentação, afeto e espaço adequados para que prosperam suas potencialidades.

Quando o Pisa mostra que apenas 1% dos jovens brasileiros está na parte de cima da pirâmide do aprendizado em Matemática e que 43% dos jovens de Singapura estão nessa posição, entendemos o tamanho da estrada a ser construída. Países sem grande tradição e com recursos limitados, como a Irlanda ou a pequenina Estônia têm conseguido resultados extraordinários, com mudanças de posturas governamentais, transformando os esforços para educar os jovens em políticas de Estado, para além das acusações patéticas e infrutíferas (além de mentirosos) sobre nossas Universidades Públicas e nossos pesquisadores e docentes, mas focados no que interessa: a criação de um legado do qual, um dia, enfim, possamos nos orgulhar.

Como já disse o poeta, “a lição, nós sabemos de cor. Agora só falta aprender.”

Sobre o/a autor/a

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

O Plural se reserva o direito de não publicar comentários de baixo calão, que agridam a honra das pessoas ou que não respeitem níveis mínimos de civilidade. Os comentários são moderados por pessoas e não são publicados imediatamente.

Rolar para cima