O Brasil no lado certo da história

Lula não atacou nenhum povo, etnia ou religião, apenas destacou as ações praticadas e, com precisão, demonstrou sua brutalidade

Recente declaração do Presidente da República, tratando da violência contra o povo Palestino, gerou onda de apoios e revolta, retirando o cenário mundial de certa paralisia, em relação às atuais ações do governo israelense em Gaza.
Chama a atenção a tentativa de apropriação de termos como genocídio e massacre, como exclusivos para referir à brutalidade praticada na segunda guerra mundial contra o povo judeu.

Nesse sentido, as coisas não parecem ser tão ocasionais quanto imaginar-se-ia, pois, desde o surgimento do movimento sionista, o qual não se confunde com o judaísmo, claras estratégias de apropriação histórica e linguística são praticadas, como mecanismos para deslegitimar qualquer crítica às ações do Estado Sionista de Israel, contra o povo palestino.

A propósito, é importante compreender que sionismo nada tem a ver com religião, sendo um movimento político organizado no século XIX, exatamente no período em que os diferentes nacionalismos vão crescer, em especial na Europa, cujo objetivo era, em suas origens, a criação e é agora a manutenção e expansão de um Estado judeu independente.

Desde as primeiras obras teóricas do sionismo, de autoria de Moses Hess a ideia do Estado Nação, excludente das demais culturas e etnias é muito clara, sendo que a partir das obras e da militância de Theodor Herzl, assume conotação prática, sendo criada a Organização Sionista Mundial, congregando pessoas em todo o mundo para atuarem na mesma pauta, a da criação do Estado Nacional Judaico.

Quando, no âmbito da Organização Sionista Mundial, surge o debate sobre o local a ser criado o Estado nacional judaico, não se ignora ser a Palestina um território já ocupado, com um povo a ali viver desde o ano 638 d.c., tanto que o próprio Herzl defendia, inicialmente, fosse Estado Judeu no território desocupado da Patagônia Argentina.

De qualquer sorte, no Congresso Sionista, realizado na Basileia, na Suíca é definido que o Estado Sionista será na Palestina, independente de sua prévia ocupação e do que deva ser feito para realizar o objetivo, por isso, a Organização Sionista Internacional passa a ajudar no financiamento de ações militares do Reino Unido, em especial, na Primeira Guerra Mundial, em troca de compromisso de apoio na entrega da Palestina.

Justamente após a Primeira Guerra Mundial, com o forte apoio Inglês, ganha impulso a colonização da Palestina, sendo que pouco antes, já com o suporte da Inglaterra, havia sido criado um corredor de entrada a imigrantes judeus, em 1909, com a constituição da cidade de Tel Aviv, sendo originalmente estabelecida a “recolocação” da população Palestina no território de outros países vizinhos, o que vai assumir aspecto beligerante com o sionismo revisionista, o qual é predominante até hoje.

Com base no pensamento de Ze’ev Jabotinsky, o sionismo revisionista defende o uso da força, da coerção militar e o implemento de medidas de guerra e rebelião para ocupar o território e expulsar os palestinos, o que, segundo muitos pensadores, vai marcar o afastamento do sionismo da tradição judaica.
Outro ponto importante do sionismo revisionista de Jabotinsky é a defesa da aproximação sionista de uma nação poderosa para obter suporte, gerando, então, investimentos financeiros expressivos nos Estados Unidos, para aliar este país ao movimento sionista.

Assim, o atual cenário não é exatamente o desenhado por parte da grande mídia, sob a influência financeira e controle de informação norte-americano, pelo qual um Estado Democrático atua contra um grupo terrorista (Hamas), dentro de um direito legítimo de defesa. Essa afirmação é falsa, sendo mero estratagema para justificar a continuidade do processo de tomada forçada e violenta da Palestina, dentro do projeto desenvolvido pelo movimento do sionismo revisionista.

Desde o início, a criação de Israel foi acompanhada de contínuo massacre do povo palestino, com adoção de medidas muito claros de ocultamento da realidade, animalização dos palestinos, ações de extermínio contra população civil em geral, em especial, mulheres gravidas e crianças, impedindo a continuidade do grupo étnico.

Essas estratégias outra coisa não são que um genocídio e guardam perfeita similitude com os protocolos de ação da Gestapo e da SS, durante a Segunda Guerra Mundial, fazendo, portando, a comparação entre as ações ora promovidas pelo Estado Sionista de Israel e o Nazismo alemão serem precisas, notadamente quando já se contabilizam, em poucos meses, mais de 30.000 civis mortos, pelos menos 10.000 crianças.

Na verdade, o que o Presidente brasileiro faz ao desenvolver referida comparação, não é atacar nenhum povo, etnia ou religião (dizer que ele o fez é má-fé intelectual) mas, destaca as ações praticadas e, com precisão, demonstra a brutalidade delas, mais ou menos, como no conto do escritor dinamarquês Hans Christian Andersen, agiu como a criança que vendo o rei nu, simplesmente diz, o rei está nu.

O mestre do Direito Argentino Eugenio Raúl Zaffaroni ensina que a História jamais perdoa seus traidores, sendo que a causa da humanidade acompanha o sofrimento do povo palestino, o qual não se permitiu ser exterminado e esquecido, como se nunca tivesse existido, e o Presidente brasileiro coloca seu nome nos patamares mais elevados da história humana ao se levantar em favor dos palestinos, sendo aqueles que açodadamente assinaram pedidos de impeachment entre outras excrescência jurídicas, traidores da história e, seguramente, por ela não serão perdoados.

Justamente a tragédia do povo palestino, como ensina o brilhante pensador judeu-americado Noam Chomsky, principia na falta de apoio internacional, pela razão de não terem riquezas e, portanto, o mundo baseado no poder financeiro lhes nega até os direitos mais básicos, como o existencial, por isso, há total insensibilidade dos líderes dos países centrais com um dos maiores genocídios da História.

O Presidente brasileiro ao colocar as coisas em seu local adequado soma-se aos marginalizados e excluídos pelo sistema vigorante, em que as grandes corporações financeiras ditam as políticas globais e de governo, assumindo papel central na defesa das populações mais frágeis. Nada a criticar, só aplausos à sua capacidade de escolher, em meio a tantas distorções pelos grandes meios, o lado certo da História para colocar o Brasil.

Estranho mesmo é tantos revoltarem-se porque um genocídio é chamado de genocídio, ao mesmo tempo sensibilizados na defesa do genocida, mas, nas apropriações estratégicas de terminologias, ao menos, não ousem falar em antissemitismo, pois neste caso servirá como certidão de ignorância cultural, pois, os palestinos, assim como todos os árabes, são tão semitas quanto os judeus.

Sobre o/a autor/a

1 comentário em “O Brasil no lado certo da história”

  1. Maurício Chibinski

    Parabéns Professor pela Análise!!! Realmente um genocídio não se confunde com o direito de se defender! Espero que mais pessoas parem para pensar após ler seu artigo.

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