Milhares de crianças continuam sem aula enquanto Greca ignora professoras

Endividamento de docentes leva a situações limite. Professora chegou a ser constrangida por agiota dentro de uma escola, mas Greca e Pimentel seguem ignorando a categoria

A greve das professoras da Educação Básica de Curitiba deve continuar na próxima segunda-feira, dia 21 de agosto, deixando milhares de crianças fora da sala de aula. A paralisação é uma tentativa desesperada da categoria de tentar garantir um plano de carreira que não impeça a promoção de quem busca qualificação profissional. No entanto, as dez mil professoras da rede municipal foram solenemente ignoradas até agora pelo prefeito Rafael Greca (PSD).

Na sexta, dia 18, segundo dia da paralisação, as representantes da categoria foram finalmente recebidas na prefeitura. Não para negociar, mas para intimidar as docentes a voltar para a sala de aula. Nesse encontro nem Greca nem o vice-prefeito (e pré-candidato a prefeito em 2024), Eduardo Pimentel (PSD), apareceram. As docentes foram recebidas pela secretária municipal de Educação, Maria Bacila, o secretário de Governo, Luiz Fernando Jamur e o vereador Tico Kuzma.

Era de se imaginar que a Cidade Educativa ficaria um pouco preocupada com o fato de milhares de seus estudantes estarem fora da sala de aula já pelo segundo dia. Mas ao invés de estar à frente da negociação, Greca aproveitou o dia ontem para inaugurar uma unidade de saúde no Campina do Siqueira. Já o vice-prefeito estava em um evento da Itaipu Binacional representando o governador Ratinho Júnior (PSD).

Não se trata de um fato isolado. Greca e Pimentel também ignoraram solenemente as salas de aula vazias durante a pandemia de Covid-19, quando as escolas privadas foram autorizadas a retomar as aulas presenciais, mas as públicas – e as crianças matriculadas em escolas privadas pagas pelo município – permaneceram fechadas. Tudo porque o prefeito não queria se dar ao trabalho de negociar com os sindicatos as condições para a retomada das aulas.

A greve do magistério é resultado de uma situação grave: a perda de poder aquisitivo dos salários das professoras. Sem conseguir aumento real nem evoluir na carreira, as docentes se vêem cada vez mais endividadas. Em 2022, uma professora chegou a ser constrangida dentro da escola por um agiota após não ter conseguido quitar suas dívidas. A história foi compartilhada em uma das muitas mobilizações do Sindicato dos Servidores do Magistério Municipal de Curitiba (SISMMAC) pelo fim do congelamento das carreiras.

Como o Plural noticiou, só entre 2017 e 2020 a perda de poder de compra dos salários das professores foi de 14%. Além disso, sem plano de carreira definido, as docentes não conseguem promoções após concluírem cursos de especialização, mestrado e doutorado, qualificações fundamentais para quem está trabalhando com com educação.

O mau tratamento dispensado pela prefeitura aos docentes vai na contramão do que se sabe que faz uma boa educação: profissionais qualificados e experientes. Claro, uma professora qualificada e competente não permite as mesmas oportunidades de foto que os vistosos farois do saber com impressoras 3D que custaram mais de R$ 30 milhões à prefeitura e agora adornam salas de aula vazias nas escolas. Mas se há uma boa escola sem impressoras 3D, não podemos dizer o mesmo sobre escolas sem professoras qualificadas.

Apesar do desprezo de Greca pelo assunto, as escolas da rede municipal atendem 70% dos estudantes dos primeiros anos do Ensino Fundamental em Curitiba (1o. ao 5o ano), cerca de 210 mil alunos. Também detém um corpo docente mais qualificado e com menor rotatividade que as escolas privadas. Achacar salários é uma estratégia para empurrar essas profissionais para fora da rede municipal (e para fora da educação, já que a rede privada dificilmente irá oferecer salários atraentes para a categoria). A estratégia também mantém os salários de toda a categoria mais baixos, porque a escola pública é quem determina o padrão de remuneração no setor.

Pode ser uma boa estratégia para economizar agora, enquanto Greca se prepara para garantir a eleição de Pimentel como seu sucessor. Mas os custos serão cobrados, não do prefeito, mas dessa geração cujo futuro é tratado com tanto descaso.

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