Coronavírus, o nome da guerra

Poeta curitibano conta como perdeu pai para Covid e viu 12 pessoas da família infectadas

“Deus antes de criar o mundo não sentia solidão, depois sim”.

Às vezes tudo parece distante, fora do alcance, alguma coisa que só acontece com os outros, como se fôssemos imunes a tudo. Mas não é assim. Meu pai, de 94 anos, e dona Luíza, minha madrasta, foram contaminados pelo corona. Não foram feitos testes no hospital em que meu pai ficou internado no primeiro momento. Foi o que bastou para que ele contagiasse a todos.

Eu, minha companheira Catarina, duas irmãs, um irmão e 6 sobrinhos que cuidamos deles, fizemos afagos, conversamos de perto, enfim, nos expusemos, também. Nós que sempre saíamos de máscara, lavávamos as mãos, usávamos álcool gel, na casa de meu pai, deixamos os cuidados de lado, para viver o amor que nos unia por algumas horas. Os dois infelizmente morreram.

Dia 6 de abril, papai faleceu. Dia 8 meus exames deram positivo. Depois o restante dos irmãos que moram em Curitiba. Um drama para o qual ninguém está preparado. Depois de duas semanas na UTI morreu dona Luíza. E nem o consolo das últimas homenagens foi possível. O que parecia tão longe, na verdade, estava tão perto.

Hoje, eu e meus irmãos e sobrinhos, estamos curados. Mas, no Brasil e no mundo, as últimas notícias são sempre o prenúncio de outras piores ainda. O número de cepas do novo corona vírus se multiplicou consideravelmente. Algumas aumentaram o grau de letalidade do vírus em 270 vezes. São 30 cepas diferentes até agora.

E não pensem que eu e minha família estamos a salvo, ficamos imunes a apenas uma delas, após nossa cura. Estamos sujeitos, assim como qualquer terráqueo, a um novo contágio.

E a triste constatação é que estamos em guerra. Uma guerra em tempo integral, sem tréguas ou bandeiras brancas, até que a vacina seja descoberta. Não há mais há espaço para ignorância, insensatez e radicalismo. A ciência. a pesquisa, a OMS, nunca foram os inimigos.

A empatia e a solidariedade hoje são necessárias à sobrevivência da espécie humana. Ficar em casa é a única opção enquanto não temos os equipamentos e hospitais em condições de salvaguardar vidas. Chega de negação. De discussões sem fim em redes sociais. Nada disso nos salvará. Não há vilões ou bandidos nessa guerra, somente vítimas. Sim, vítimas apenas.

Se continuarmos nessa atmosfera infectada pelo ódio, até a esperança necessitará de um respirador.

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