O deputado federal Ney Leprevost (PSD), atualmente secretário da Justiça, Família e Trabalho no governo de Ratinho Jr. (PSD), perdeu o pai na semana passada. Luiz Antonio Leprevost faleceu no Hospital Nossa Senhora das Graças, em Curitiba, depois de várias complicações causadas, aparentemente, pelo kit de medicamentos do “tratamento precoce” contra a Covid. Em entrevista exclusiva ao Plural, Leprevost fala sobre o tema:
Há pessoas ligando a morte do seu pai a possíveis efeitos do “tratamento precoce” contra a Covid. Existe essa ligação?
Ele não era um negador da ciência. Usava máscara, se cuidava muito e, principalmente, cuidava das outras pessoas. Mas, de fato, fez o tratamento precoce, à risca.
Cabe salientar que isso foi em novembro do ano passado. Na época, não se tinha de forma tão clara e evidente como temos hoje, a informação de que a cloroquina, associada com determinados medicamentos, pode fazer imenso mal para algumas pessoas. Principalmente ao fígado e aos rins.
Eu mesmo cheguei, por algum tempo, a acreditar em tratamento precoce e explicitei isto em entrevista concedida em setembro de 2020. Comecei a desconfiar quando vi os maiores defensores de tratamento precoce pregando contra as vacinas. Ali acendeu a luz amarela no meu cérebro.
O seu pai de fato tomou esses medicamentos?
Sim, tomou. É muito difícil provar que as complicações que ele teve foram decorrentes da cloroquina associada aos demais medicamentos. Mas, o diretor do Incor, afirmou que de cada 3 pacientes que chegam na UTI, 2 fizeram tratamento precoce.
Tendo em vista os fatos recentes, o senhor recomendaria o “tratamento precoce” para alguém?
Não tenho o direto de me intrometer na vida particular de ninguém. A decisão sobre como se tratar de uma doença cabe ao paciente, após ouvir um médico de confiança que relate a ele os prós e os contras da droga que vai ser usada. Só posso dizer que tive Covid este ano, não fiz tratamento precoce e estou vivo. Meu pai fez, e faleceu. Talvez o sofrimento dele tenha me salvado, assim como a minha mulher e ao meu filho. Nenhum de nós tomou cloroquina e, graças a Deus, ficamos todos bem.
Como o senhor vê a postura do governo Bolsonaro de incentivar esses medicamentos mesmo com comprovação de que não funcionam e de que têm efeitos colaterais graves?
Nunca fui um “bolsonarista”. Mas votei no atual presidente no segundo turno e sempre torço pelo sucesso do Brasil. A meu ver, a gestão dele na pandemia foi um desastre absoluto. Não só por propagandear cloroquina. Mas também por negar a ciência, estimulando e participando de aglomerações. Por tentar desmoralizar as vacinas. Pela demora para adquiri-las. E por incentivar a população a não usar máscaras.
Alguns radicais da extrema-direita tentam impingir a quem não se alia à negação da ciência um rótulo de petista. Pois eu, nunca votei em Lula e nem no PT e digo a essas milícias virtuais que o presidente errou feio e que ao invés de politizar uma pandemia deveríamos todos cobrar vacinas com urgência.
Até que ponto isso afeta a sua relação com o governo Bolsonaro?
Eu não tenho, nem nunca tive, relação pessoal nenhuma com o atual presidente. Acredito que ele nem saiba da minha existência, apesar de já termos falado rapidamente em 2 ou 3 eventos públicos. Diferente do vice presidente, o general Hamilton Mourão, com quem mantenho um ótimo relacionamento e a quem elogio por sempre ter feito um contraponto democrático às falas equivocadas do presidente. Minha relação com os ministérios continuará sendo do jeito que sempre foi: institucional, séria e construtiva.
Quer dizer que o sr. secretário desconfiou apenas no fim do ano passado que a cloroquina era ineficaz? Pois desde abril de 2020 já existia vasta literatura científica e médica comprovando que tratamento precoce era um absurdo. Tenha coragem e diga que seguiu a receita do inquilino do Alvorada.