“O melhor está por vir” trata de um assunto difícil com leveza

Comédia francesa que estreia nos cinemas acompanha a amizade de dois amigos de longa data que já estão perto dos 60 anos – um deles sofre de um câncer terminal

A dupla de atores em “O melhor está por vir” é a melhor coisa do filme – eles e o roteiro, ao menos até o último terço da história.

Num paralelo meio exagerado, colocar Fabrice Luchini para contracenar com Patrick Bruel, no cinema francês, é como unir Brad Pitt e Leonardo DiCaprio. (Fora o fato de que os dois franceses já estão na terceira idade, com 68 e 60, e não são exatamente galãs).

Outro crédito importante de “O melhor está por vir”, que estreia nesta quinta-feira (5) nos cinemas, são os roteiristas e diretores Alexandre de La Patellière e Matthieu Delaporte. Este é apenas o segundo longa-metragem que os dois escreveram e dirigiram juntos. O anterior foi “Qual é o nome do bebê” (2012), uma das melhores comédias que o cinema produziu neste século – e francesa, ainda por cima.

Um dos trunfos de Alexandre e Matthieu é o diálogo: criativo, hilário e rápido. E é esse talento para diálogos que sustenta “O melhor está por vir”.

Na história, Arthur e César são melhores amigos desde a infância, apesar de serem muito diferentes um do outro (ou talvez justamente por causa disso). Arthur, interpretado por Luchini, é um médico pesquisador que trabalha no Instituto Pasteur. Ele é um sujeito culto, inteligente e neurótico. César (Bruel) não é nada, a não ser mulherengo, irresponsável e imaturo. Não fica claro como ele ganha a vida, mas sabemos que é incapaz de escrever uma frase de francês sem cometer um erro gramatical e que tem dívidas sérias.

Um acidente besta leva César ao hospital, acompanhado de Arthur. Trambiqueiro como é, César usa o plano de saúde de Arthur para evitar as despesas hospitalares. Ele faz uma radiografia porque desconfia ter fraturado as costelas numa queda. O exame mostra que está tudo bem com os ossos.

No dia seguinte, porém, porque a radiografia saiu no nome de Arthur (apesar de ter sido feita em César), um médico liga para Arthur e pede para conversar pessoalmente: o exame mostrou um problema grave. Gravíssimo. É um câncer de pulmão com metástase por tudo. Isso significa que não existem mais alternativas de tratamento. Arthur (na verdade, César) vai morrer em poucos meses.

Talvez seja o caso de dizer que “O melhor está por vir” é uma comédia. Não do tipo que faz engasgar com a pipoca de tanto rir, mas ainda assim uma comédia.

Arthur se vê numa situação terrível, em que tem de contar ao melhor amigo que ele tem um câncer inoperável e pouco tempo de vida. O problema é que Arthur não dá conta da tarefa. Ele gagueja, se atrapalha e cria uma confusão enorme. Em meio a frases inacabadas e outras enviesadas, César entende que é Arthur quem vai morrer de câncer. E Arthur não consegue esclarecer o mal-entendido (parte do mérito do roteiro está na maneira como consegue complicar tudo de maneira absolutamente factível).

O filme é então a história de como César tenta realizar os últimos desejos de Arthur, que por sua vez tenta contar para o amigo que, na real, quem vai morrer de câncer é César e não ele.

Porque os atores são bons e funcionam bem juntos, o desenrolar da história é divertido e tem momentos que conseguem ser ao mesmo tempo engraçados e elegantes – como quando os dois, vestindo smokings, decidem jantar em um restaurante fino e acabam sendo confundidos com um casal de homossexuais.

O problema é o último terço do filme, que desiste de falar de um assunto difícil com leveza para tentar fazer chorar a todo custo. E tome mal-entendidos, reencontros e discursos emocionados. Toda a criatividade que marcou o começo e o meio da história, diminui muito no fim. Você pode, é claro, não julgar o filme pelo desfecho.

Serviço

“O melhor está por vir” estreia nos cinemas nesta quinta-feira (5). A princípio, ele será exibido pelo Itaú Cinemas, do Shopping Crystal, e pelo Cineplex Batel, do Shopping Novo Batel.

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