Seu Agenor e Dona Clementina eram casados há mais de sessenta anos e quase não brigaram durante todo este período matrimonial. Se amavam e aprenderam a tolerar um ao outro e a negociar as discordâncias, enfim, aprenderam o que foi preciso para terem um casamento duradouro e feliz, pelo menos, até aquele dia.
O Agenor sempre foi muito brincalhão e piadista; já a Clementina era mais séria e talvez por isso se davam tão bem.
Naquele dia tudo mudou, estavam sentados cada um em sua cadeira de balanço, lado a lado vedo tevê, e o gato, que também era idoso, estava por perto como sempre.
– Ui Agenor, que cheiro é este? Vá no banheiro fazer essas coisas!
– Foi você! Não coloque a culpa em mim das tuas bufas.
– Ah, faça-me o favor Agenor, olha o cheiro!
– Acho que é você que tá com as pregas soltas!
Até aquele instante tudo normal, coisa de casal, mas o Agenor resolveu ficar tirando sarro de Dona Clementina.
– Minha velha, pega o colírio pra mim?
– Caiu um cisco?
– Não, é que soltaram gás lacrimogêneo no ambiente! (hahahaha).
– Para com isso, até porque foi você!
– Tá bom, tá bom, só cuida pra não cagar aí na cadeira! Porque pelo jeito a merda ta vindo a trote!
– Para de ser idiota!
– Tudo bem, eu paro minha linda velha peidorreira!
– Odeio essas tuas piadinhas sem graça, só não vá começar com aquelas analogias bestas.
– Fica tranquila, não vou fazer analogia nenhuma de que você está se cagando.
– Mas não estou!
– Sim, eu sei, só toma cuidado porque a marmota está saindo da toca! (hahaha)
– Começou! Pode ir parando com isso porque não estou com paciência hoje!
– Tá, eu paro, só me diz uma coisa, não estamos em outubro?
– Sim, porque?
– Porque achei que estava tendo festa junina, por causa dos rojões!
– Ah, vá à merda Agenor.
– Se eu ficar perto de você, vamos todos! (hahaha)
– Não sei como aguentei ficar casada com você todos estes anos, você é um idiota.
– Calma, só to dizendo que você está cortando o rabo do macaco! (hahaha)
– Para com isso!
– É que eu precisava dizer que o teu charuto tá no beiço!
– Agenor, vá tomar no rabo!
– Até posso, pelo menos o meu ta limpo.
– Chega Agenor, se você não parar, juro que me separo de você e vou morar com a nossa filha Bibi!
– Eu é que deveria ir morar com o Joãozinho, nosso filho!
Com isso, seu Agenor parou de fazer colocações maldosas sobre a suposta flatulência, e assim, ficaram em silêncio vendo a novela por aproximadamente 15 minutos, até que…
– Eu não acredito Agenor, de novo? Que nojo!
– Ué, foi você Clementina!
– Foi você, velho porco!
– Sabe, minha velha, você me lembra aquele Chevette que eu tinha, ele também estava com a descarga desregulada e soltava uns estouros tremendos! (hahaha)
– Chega!!! Eu deveria ter me separado de você há muito tempo! Vou para a casa da Bibi, fica aí você com tuas piadas e teus peidos!
– É bom mesmo! Quer saber de uma coisa? Também estou farto! Vou para a casa do Joãozinho!
E assim terminou um casamento de mais de sessenta anos de muita tolerância. E a briga foi tamanha, que até esqueceram de levar o gato junto com algum deles.
O gato, por sua vez, pensava consigo mesmo:
– Ainda bem que eles não se ligaram que gato também peida! Objetivo concluído com sucesso. Agora a casa é toda minha!!!