Todos somos feitos de sonhos e inquietudes. No meu caso, sempre convivi com um sonho que me embaraçava um pouco: eu, um engenheiro civil, descobri a certa altura da vida que queria mesmo era trabalhar em jornal, rádio, tevê.
Mas como? – perguntava pra mim mesmo. Não fiz Letras, não sou jornalista, fui homem público e, não dá pra negar, isso é demérito hoje em dia.
Esta coluna, este espaço que agora ocupo aqui no Plural para falar com você, é parte do meu sonho que se torna realidade. Ironicamente para quem chega até o leitor via Internet, o sonho toma corpo de forma analógica. Escrevo com caneta Bic em um bloco de papel pautado. Me sinto mais confortável assim.
Se o que me parecia impossível acontece é porque algumas pessoas me prepararam para comunicar ideias, ainda que não tivessem a intenção de me ajudar ou nem soubessem que existo. Por isso a primeira coisa que preciso fazer é agradecer aos responsáveis: Jamil Snege, Domingos Pellegrini, Dalton Trevisan, Cristovão Tezza, Mario Vargas Llosa, Paul Auster. E a lista segue, até virar na esquina.
São dezenas de escribas que me trouxeram a ideia de cultura como algo que nos completa e enriquece, que me ensinaram empatia, responsabilidade, virtudes e o principal que é amar.
Foi no trabalho deles que enxerguei o que é o fazer com amor, fazer apaixonado, fazer com excelência, com destreza e com ética.
Aqui pretendo dividir com vocês as minhas inquietudes que canalizo e exploro através das leituras. Leitores gostam de encontrar outros leitores e agora tenho onde contar minhas descobertas, seja um lançamento bom, uma editora pequena e brilhante, um escritor maravilhoso, um conto dos céus, uma crônica imperdível. De vez em quando também vou dizer “fuja desse autor” (hehehe), “não compre esse livro”.
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Da alegria para a tristeza… Enquanto escrevia me chegou a notícia de que Ricardo Boechat morreu. Sim, eu sei, a vida é assim, a qualquer momento podemos ser “desplugados”. Vida que segue, ainda que em alguns momentos seja difícil continuar.
A leitura que faço do que assisti depois (porque lemos não apenas livros, mas também as situações, as pessoas) me dá esperança. A reação de boa parte do país à morte de um jornalista mostra que a sociedade não está alheia ao valor da informação, da franqueza, da excelência. A sociedade está confusa, mas respira.
Da minha parte, vou tentar trazer aqui um pouco de otimismo para um mundo que queremos melhorar e mais desanuviado.
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Já de saída quero compartilhar o que considero uma boa dica. Prestem atenção nos livros da editora carioca Rádio Londres. Começo a gostar dela pelo nome; amo Londres e amo rádio (sou comentarista diariamente na 104,9 FM). A editora publica uma seleção de ótimos autores estrangeiros, em edições com capas lindas e traduções caprichadas.
Recomendo quatro livros da Rádio Londres: Coração e Alma, da francesa Maylis de Kerangal, que nos introduz no universo dos transplantes de órgãos pelo ponto de vista da família de um doador; Stoner, do americano John Williams (um dos meus livros favoritos!), Tirza, do holandês Arnon Yasha Yves Grunberg (traduzido pela paranaense Mariângela Guimarães) e, finalmente, o romance de formação Joe Speedboat, de outro holandês, Tommy Wieringa. Com qualquer um deles, você estará em ótima companhia.
Sobre o/a autor/a
Marcelo Almeida
Marcelo Almeida é engenheiro civil de formação, foi vereador em Curitiba, diretor do Detran e deputado federal. Nos últimos anos, tem se dedicado ao projeto Marcelo Almeida Cultura, que envolve trabalhos na área cultural e na difusão de ideias. No Plural, assina uma coluna sobre o mundo dos livros e os debates que eles estimulam.