Vivemos tempos absurdos e não escapamos, por mais que queiramos, da grave situação do país. Há alguns anos estamos em meio a um clima beligerante, de distanciamento e divisão. É uma espécie de ressaca coletiva sem os excessos festivos do dia anterior. Isso nos atravessa a todos, corpos recém-saídos da maior catástrofe vivida por muitas gerações.
Mas há resistência. A necessidade de convívio é essencial, e para nós, dos bares e restaurantes, é nosso meio de vida. Existimos pelas alegrias, encontros, celebrações. Vivemos dos aniversários, das bodas, dos casais. Somos alento, casa e sala de estar. A alegria é o nosso negócio.
Inacreditável é quem tire proveito deliberado do clima de violência latente. Recentemente, a Abrabar – Associação Brasileira de Bares e Casas Noturnas – emparceirou-se com um stand de tiro para que empresários dos respectivos setores possam ter aulas gratuitas de tiro esportivo. De acordo com o representante da organização, a ação seria para “ensinar os empresários a se defender”.
Ora, para nos defender, é simples: precisamos de restituição das perdas que sofremos durante a pandemia, contrapesos contra a inflação cavalgante que achata nosso poder de compra, crédito fácil a juros baixos e um mercado pujante, formado por cidadãos vivendo uma realidade de pleno emprego. Só para citar alguns exemplos. Mas armas, que parecem nos incentivar a utilizar, não irão nos ajudar nisso. Pelo contrário.
Não é nossa função ser agente de segurança pública ou privada. Não salvaguardamos somente bens, mas acolhemos pessoas em nossos estabelecimentos. O que está sendo proposto é papel do Estado ao qual contribuímos. Falamos aqui sobre noções básicas de civilidade, que a barbárie em que vivemos nos tenta fazer esquecer. Não nos cabe embarcar no clima beligerante que move a nossa situação atual.
Há um problema sério e inegável de segurança pública. Porém, é de lógica e comprovada constatação que isso não será resolvido com o armamento da população. Muito menos com o treinamento de partes da população civil em cursinhos de tiro.
Os problemas de segurança enfrentados pelo setor vão muito além de assaltos. Há questões igualmente cotidianas e urgentes, como o abuso de álcool, violência contra a mulher, lgbtqifobia, o crescimento da população de rua, entre outros. Problemas para os quais a solução encontra-se, invariavelmente, na educação e em políticas públicas arquitetadas coletivamente e democraticamente, com o consenso de quem está na lida todo dia. Precisamos de medidas de combate à violência, não de incentivo. Um empreendedor não é um justiceiro.
Por estes motivos, e por acreditar que as atitudes propostas pela Abrabar estejam diametralmente opostas ao interesse comum do setor, condenamos veementemente a postura da organização. Cobramos também, publicamente, um alinhamento maior ao público que a associação pretende representar. Para que ela não dependa, única e exclusivamente, do afeiçoamento político-pessoal de suas lideranças.
Assinam esse manifesto os seguintes estabelecimentos, profissionais ligados a gastronomia e organizações sociais da cidade de Curitiba:
Petrisserie – Cultura e Gastronomia
A Caiçara
Rua Pagu
Policiais Antifascistas do PR
Manifesto Café
Cosmo G/astrobar
AstroLAB
Sérgio Medeiros
Brise Bar
André Bezerra
Chinchu Parrilla
James Bar e Garden
Nina Comida com Arte
Válvula Cafés e Coquetéis
Rause
Cão Véio Curitiba
Nada Yada
Madá Pizza e Vinho
Carlo Ristorante
Wonka
Mafalda
Beks Bar
Folia Bar e Cultura
Limbo
Cubano
Maricas Bar
Mandarina Comida e Afeto
Ramburgui
Rause
Lado B Bum Bar
Casa Portfólio
Quintana Gastronomia
Chef Marcos Schaffer
Chef Michele Dupont
O Pão Que o Viado Amassou
Venda Armazém e Boteco
GreenGo
Old Car Brew Pub
Red Light Burger and Beer
O Santo Corte
Mornings
Peppers
Hottel 418
Fôme
Paradis Club
Negrita Bar
Pero Que Sí
Ginger Bar
Veg Veg Veg
Yada Yada Yada
Sobre o/a autor/a
Felipe Petri
Engenheiro, cozinheiro, empresário, defende o consumo consciente, adora cerveja e música alta.