Emprego e visibilidade para pessoas trans são a receita de O Pão Que O Viado Amassou

Padaria de Curitiba serve sanduíche especial e reverte renda obtida para o Transgrupo Marcela Prado

“Esse é o primeiro emprego que me aceita como eu sou”, diz Dani Arashi, 23, travesti que desde novembro trabalha como atendente n’O Pão Que O Viado Amassou, a padaria de Curitiba que inaugurou no ano passado para vender pão, claro, e cultura gay.

Dani é uma das seis pessoas transgênero que atualmente trabalham de forma fixa ou temporária no local que nasceu com o propósito de ampliar visibilidade e oportunidades a pessoas da comunidade LGBTQIA+. Numa equipe de 20 pessoas, o único funcionário hétero é uma mulher venezuelana de 65 anos.

“Encontrar um trabalho em que você se encaixe e que te aceite como você é, é muito complicado, quase ninguém te quer, ainda mais se você não tiver começado a transição e terapia hormonal. Quanto menos ‘passabilidade’ você tiver, mais difícil você conseguir algum trabalho, sobretudo sendo trans feminino”, explica Arashi.

No Pão, as pessoas transexuais trabalham na chapa, no caixa, no salão e na padaria. “Essa luta pela visibilidade e empregabilidade das pessoas trans sempre foi uma premissa da loja. É muito difícil a inserção no mercado porque na realidade essa dificuldade vem de antes: as pessoas não se sentem acolhidas nos ambientes de preparo, estudo e capacitação”, diz o padeiro e criador da marca, Gabriel Castro.

Além de discriminadas pela sociedade e excluídas pelas famílias e do mercado de trabalho, as pessoas trans estão também entre as categorias mais vulneráveis à violência.

No ano passado, 140 trans e travestis foram assassinadas no Brasil, acima da média de 123 mortes registradas entre 2008 e 2021, de acordo com a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra). Com sete homicídios, o Paraná é o oitavo estado no ranking nacional, liderado por São Paulo, com 25 assassinatos.

Segundo a ouvidora da Defensoria Pública do Paraná e colaboradora do Transgrupo Marcela Prado, Karollyne Nascimento, menos de dez mulheres trans têm emprego formal em Curitiba. Elas atuam em supermercado, restaurante e empresas de tecnologia. Já a maioria sobrevive na prostituição ou na informalidade.

“A falta de escolaridade e capacitação é o principal entrave para o mercado de trabalho: os índices de meninas que não terminaram os ensinos fundamental e médio é altíssimo. E falta de capacitação significa menos oportunidades de trabalho. Afinal, tudo isso é consequência do preconceito”, afirma Nascimento.

Lorena Rodrigues, 22, serve o sanduíche Vanessa, cuja renda é revertida para o Transgrupo Marcela Prado. Foto: Divulgação.

A atendente Lorena Rodrigues Reis, 22, diz que é preciso naturalizar uma comunicação mais saudável na sociedade e exorta para uma tomada de consciência “para enxergar a necessidade de união sem fusão, e distinção sem separação”.

“O Pão Que O Viado Amassou ainda será visto como o mínimo que o mercado de trabalho e a sociedade nos deve: respeito e inclusão, para que mais espaços possam ter a oportunidade de nos compreender enquanto pessoas normais e capacitadas”, afirma Reis.

Para apoiar as atividades do Transgrupo, até sábado (5), O Pão Que O Viado Amasso vai reverter para a entidade parte da renda obtida com a venda do sanduíche Vanessa (R$ 20), feito com pão de ervas e recheado com frango empanado na crosta de ervas, parmesão, alface roxa e um molho da casa. A opção vegetariana substitui a ave pela abobrinha empanada.

O lanche foi lançado no dia 29 de janeiro, data que marca o Dia da Visibilidade Trans e Travesti no Brasil.

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