Podcast – Professor não deve fazer greve…

A desvalorização do ensino é uma desonra para o nosso país, diz Daniel MEdeiros

…porque greve de professores é uma desonra para todos os cidadãos desse país! Professores deveriam ser festejados e adulados, principalmente os professores dos pequenos, porta de entrada de toda a cultura e sabedoria do mundo adulto. Professores deveriam ser ouvidos diariamente em suas necessidades e desejos e todo o esforço do poder público deveria ser voltado ao atendimento dessas demandas. Mais do que isso: todo o esforço do poder público deveria estar voltado para antecipar essas demandas, garantindo que o tempo e a atenção dos professores permanecesse voltado fundamentalmente para as crianças e jovens, presente e futuro desse país que precisa tanto de um futuro.  E  esse presente está nas mãos dos professores.

Um governante deveria ter como cartão postal as escolas de sua cidade e do seu estado. Não deveriam ser as pontes ou os estádios, nem mesmo os parques de rios mortos ou as calçadas de pedras que soltam. Deveriam ser as escolas, com projetos arquitetônicos planejados para a eficácia, para o conforto e para o deleite. As pessoas passariam em frente às escolas e apontariam entre maravilhadas e orgulhosas. Muitas diriam, cheias de satisfação: meus filhos estudam aqui!. Outras, ainda mais orgulhosas, responderiam: E eu sou professora dessa escola!

Professor não deve fazer greve porque isso escancara a inversão absoluta de valores de uma gestão que é tudo menos interessada em política de Estado. Um Estado que não olha para as lições dos outros e nem nos projetos dos outros. Que tem no seu umbigo seu plano de governo e na sua perpetuação os seus cânones programáticos. Não é a cidade, não é o estado, não é o país o fim desse governante. É a sala de sua casa, a sua garagem, o espelho que reflete seu rosto sem rugas de preocupação com o destino de alunos e professores.

Professor não deve fazer greve porque assim desvela nosso irracionalismo da classe média, que só se vê preocupada com as ruas cheias de carros dentro do seu carro; as ruas cheias de lixo que é seu lixo; as profissões vazias de talentos enquanto querem mais e mais policiais e leis mais severas contra aqueles que a escola salvaria e tornaria nosso amigo e colaborador mas que nossa inapetência em votar e em cobrar obnubila e escamoteia essa possibilidade óbvia.

Assim, nossas opiniões jactadas em perdigotos viris nos meios de comunicação perdem-se como água na areia escaldante do deserto de nossa falta de visão. A educação, a escola, o professor são o caminho da democracia, da civilidade, da ecologia, da eficiência, da produtividade. Nosso olhar gelado de tanta iniquidade e indiferente ao apelo das vozes que clamam por políticas de Estado, de investimentos e atenção para a escola, já não consegue enxergar o evidente e, irritados, pegamos nosso carro e enfrentamos, xingando, o caminho para o shopping mais próximo.

Professor não deve fazer greve porque obriga as autoridades públicas a inundar-nos de desculpas e gráficos e promessas. Aquilo que ainda não foi feito, porque o orçamento isso e aquilo e o compromisso de que será feito ainda antes do final da gestão e isso e aquilo. O tempo de fazer escola boa e do professor atendido já passou há muito. O tempo de um Estado voltado para a formação de seus cidadãos é o tempo da urgência e da prioridade absoluta. Não é o tempo do metrô nem do entorno dos estádios. Os governantes deveriam vestir-se com simplicidade e manterem a cabeça baixa enquanto a educação não melhorar. Os governantes deveriam pedir desculpas todos os dias, ininterruptamente, para cada cidadão que lhes passasse pela frente, a frase grudada nos lábios: “desculpe pelo estado das escolas da minha cidade, do meu estado, do meu país.”

Muitos reclamam da falta de preparo, do corporativismo dos professores. Muitos reclamam dos jovens que não querem aprender e da falta geral de empenho, como se o problema fosse esse e é para isso que deveríamos olhar. Mas esse não é o problema, são os sintomas do problema. A escola está com febre alta. Mas ela não precisa de um termômetro.

Muitos afirmam, graves, que o problema da Educação é gravíssimo e a solução difícil ( dizem isso já com o meio sorriso do “não me cobre o que é tão difícil de resolver”). Pois então  concentremo-nos nisso! Pois então abandonemos nossas misérias cotidianas e falemos o tempo todo em educação, em escolas, em professores, até construirmos soluções aplicáveis no curto, no médio e no longo prazo. E apliquemos essas medidas desde já, começando por ontem!” Porque professor não deve fazer greve. Professor deve educar nossos filhos, com condições dignas. E com o aplauso de todos.

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