UPAs de Curitiba não têm pediatras à noite e sindicato dos médicos vai à Justiça

Falta reflete a escassez da rede: apenas 42 pediatras atuam nas UPAs e UBSs da cidade - e somente durante o dia

Na semana passada, o Sindicato dos Médicos no Estado do Paraná (Simepar) fez reunião com pediatras que atendem nas Unidades de Pronto Atendimento (UPA) de Curitiba e se deparou com um grupo de profissionais absolutamente exaustos e desesperançosos. 

“A principal queixa da categoria é a sobrecarga de trabalho. Curitiba tem poucos pediatras, muito poucos. É uma política da prefeitura ter clínicos gerais atendendo pediatria, isso foi uma decisão da gestão”, afirma Claudia Paola, secretária geral do Simepar. Segundo ela, durante o dia, fica apenas um especialista em cada unidade. À noite não tem nenhum. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, são 42 pediatras atendendo em toda a cidade, entre UPAs e UBSs.

“O que acontece é que muitos clínicos não se sentem preparados para atender pediatria, então as crianças acabam ficando em observação a noite inteira para serem reavaliadas de manhã, quando o pediatra chega”, explica Claudia. “Ou seja: o pediatra, quando começa o trabalho na UPA, precisa revisar os casos da noite. A fila de pacientes e a pressão aumentam, e também o estresse.”

A secretária geral do Simepar menciona um caso emblemático: dia desses, uma criança precisou ser atendida após ser picada por formigas. “Ela passou a noite em observação porque o clínico que a atendeu estava inseguro de sua avaliação, então não quis liberá-la”, fala. “Para coisas mais básicas, não tem problema, os clínicos dão conta, mas para os pacientes graves, o risco é grande.”

O Sindicato reuniu um conjunto de provas da sobrecarga de trabalho dos pediatras e seus danos e afirma que vai acionar a Justiça, mas preferiu não repassar os documentos à reportagem sob a justificativa de preservar as identidades dos denunciantes.

Sobreposição de danos

“A UBS não tem especialista, apenas médico de família. Isso se você estiver falando de unidades de saúde que adotam a Estratégia de Saúde da Família, programa pago pelo governo federal”, explica o médico de família e comunidade Rogerio Luz Coelha Neto, que atua em uma UBS de Curitiba. “A prefeitura está fechando essas unidades e realocando os profissionais, e aí as unidades se tornam o que a gente chama de unidades básicas. Nelas atuam clínicos gerais sem experiência em pediatria, daí a necessidade de pediatras.”

Para ele, a sobrecarga das UPAs é um reflexo da escassez da rede. “Se não tem pediatra na unidade básica, a criança é enviada para as UPAs, ao contrário do que aconteceria se você tivesse as ESFs funcionando. Elas diminuem o encaminhamento porque os médicos de família estão acostumados a atender crianças desde a sua formação.”

“As UPAs escondem a falta de pediatras escalando clínico geral para atuar na pediatria, o que é muito grave, porque a população pediátrica é muito diferente de uma população adulta”, continua Rogerio. “Os clínicos acabam pedindo muito exame desnecessário e por vezes pedem informações por telefone para um pediatra de sobreaviso, para tirar dúvidas. É como tapar o sol com a peneira.”

O que diz a prefeitura

Em nota, a SMS disse que cumpre integralmente as normativas estabelecidas pelo Ministério da Saúde para o funcionamento das Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). “Não há nenhuma exigência que tenham médicos especialistas, visto que o foco do atendimento nessas unidades é o primeiro atendimento a urgências e emergências, conforme a classificação de risco, para todos pacientes, independentemente de idade ou tipo de agravo.”

“Mesmo sem essa exigência, Curitiba segue seu histórico de ofertar mais que o exigido e mantém no seu quadro pediatras nas UPAs, que são acionados durante o atendimento infantil quando verificado a necessidade, especialmente nos casos graves”, segue o texto.

A Secretaria acrescentou que dos 2,7 mil atendimentos realizados nas UPAs de Curitiba em dezembro, um quarto foram de infantis (usuários de até 18 anos), sendo que apenas oito foram atendimentos de urgência e emergência para essa faixa etária.

A Fundação Estatal de Atenção em Saúde de Curitiba (Feas) também informou que tem atendido a todos os contatos feitos pelo Simepar.

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3 comentários em “UPAs de Curitiba não têm pediatras à noite e sindicato dos médicos vai à Justiça”

  1. Rosiane Correia de Freitas

    Oi Margareth, tudo bem? Nossos autores têm liberdade para se identificar como quiserem. Nós respeitamos e incentivamos todos a se orgulhar do que são. Recomendo que você faça o mesmo. Abraço e obrigada pela audiência.
    Rosiane

  2. É um absurdo a prefeitura achar que atendimento infantil é igual atendimento de adultos. Se fosse não existiria uma RESIDÊNCIA em pediatria… é necessário sim ter especialidade para tal… doses de remédios diferentes, tratamentos diferentes para uma mesma condição, doenças restritas a faixa etária infantil… isso é CORTE DE GASTOS! Há anos haviam filas distintas de adultos e pediatras, e há alguns anos colocaram “fila única” pq não querem contratar pediatras… Cada ano que passa o atendimento nas Upas vira uma piada maior ainda!

    1. Rosiane Correia de Freitas

      Oi Brenda, é realmente um descaso enorme com nossas crianças. Vamos continuar acompanhando o assunto. Obrigada pela audiência. Abraço.

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