Sem diversidade de vivências, nenhuma agência vai sobreviver, diz publicitário  

Felipe Simi, fundador e CEO da Soko, participará como palestrante do evento Red Week Ideas 2021

Foi da vontade – e necessidade – de pensar a comunicação como um ambiente saudável, criativo e que representasse as pluralidades do Brasil que, em 2015, Felipe Simi fundou a agência de publicidade Soko. Hoje, a empresa está na lista World Changing Ideas da Fast Company e seu criador entre os cinco líderes de agências mais admirados por anunciantes no Brasil.

“Eu pensava: o dia que eu fundar a minha agência vai ser para provar para essa indústria que é possível produzir um trabalho criativo relevante ao mesmo tempo que a gente combate essas práticas tóxicas do mercado que eu mesmo sofri muito por ser gay”, relata Felipe. 

Ao longo da carreira, Felipe passou a questionar algumas máximas do mercado publicitário. Para ele, por exemplo, não fazia sentido o processo criativo ser centralizado em uma única área ou dupla de profissionais. “A criatividade é fluida, ela está em todos os lugares, em todas as pessoas. Todo mundo tem, com a sua história de vida, alguma coisa importante para contar a respeito de algum problema que a gente precisa resolver”, afirma.

Depois de trabalhar com marketing e construção de marcas em algumas empresas, Felipe transitou entre as agências New Content e CUBOCC, até fundar a Soko, com a premissa de que as vivências de cada um deveriam ser o foco da publicidade.

“Com as nossas histórias de vida a gente traz repertórios para a mesa que é de onde a criatividade flui. É por isso que eu nunca entendi porque as agências só tinham homens brancos heterossexuais trabalhando. Era todo mundo igual, tinha todo mundo a mesma referência, e quem tem as mesmas referências tende a contar as mesmas histórias.”

Para Felipe, a publicidade se acostumou a priorizar a criação a partir de formatos pré-estabelecidos, ou seja, pensando primeiro a forma do produto para depois refletir sobre a história que seria contada com aquele material. “Isso é uma coisa básica da Teoria da Comunicação que a gente esqueceu na publicidade. A gente começou a pensar no canal antes de pensar na mensagem. A Soko tinha que ser um resgate disso.”

Indústria tóxica

De acordo com o publicitário, existem diversas esferas que permeiam a toxicidade de um ambiente de trabalho ou mesmo do próprio mercado. Pensando a publicidade como uma indústria que reproduz comportamentos nefastos como a homofobia, o racismo, o machismo e o capacitismo, Felipe decidiu fazer diferente. “Combater essas práticas é possível e é o que a Soko se propôs a fazer desde o primeiro ano. O processo tem que ser bom, assim como o produto que você coloca na rua.”

Dois grandes problemas que afligem a comunicação como um todo, segundo Felipe, são a romantização do excesso de trabalho e a super-hierarquização do segmento, que não apenas coíbem a criatividade, como também perpetuam práticas nocivas.

Diversidade e proporcionalidade 

Indo na contramão desse modelo de mercado, a Soko busca saída nas próprias pessoas, trazendo diferentes e inúmeras experiências de vida que resultam em uma agência mais criativa, humana e plural em todas as suas interfaces.

Refletindo essa diversidade da sociedade brasileira, em raça, gênero e regionalidade, a Soko é formada hoje por pessoas negras (39%), mulheres (54%) – das quais 50% estão em cargos de liderança – pessoas que se identificam como parte da comunidade LGBTQIA+ (46%).

“A gente precisa lembrar que quando está fazendo propaganda a gente não está só vendendo um produto, está vendendo uma referência de mundo. E a diversidade tem um papel muito importante nisso. Nenhuma agência vai sobreviver sem um amplo repertório de vivências, é impossível. Tem um milhão de Brasis aqui dentro e a gente tem que ter essas vozes dentro da Soko. A gente faz isso não só porque a gente é humano e quer que as coisas sejam feitas do jeito certo, mas é por acreditar que isso faz toda a diferença para a sobrevivência da nossa indústria”, destaca Felipe.

Red Week Ideas 2021

Neste sábado (11), Felipe participa do evento Red Week Ideas 2021, promovido pela Redhook para celebrar ideias, pessoas e iniciativas que inspiram a criação de uma indústria criativa. 

Às 11h, o fundador e CEO da Soko divide o palco com a também publicitária Joana Mendes, atual presidente do Clube de Criação de São Paulo, para falar sobre os rumos do mercado publicitário criativo. O painel “What really matters to the industry: Creativity the Market Changes” será mediado pela publicitária especialista em Antropologia Cultural e mentora na Redhook há quatro anos, Caro Sartor.

“A ideia da palestra é justamente discutir esses caminhos do progresso que a indústria está tomando. A Soko e o Clube de Criação de São Paulo são dois movimentos que jogam a indústria para um lugar de mudança, de progresso, para trazer mais diversidade, para combater as práticas tóxicas, para entender que as perspectivas da comunicação daqui para frente não são centradas no olhar do homem branco heterossexual como foram nas últimas décadas”, pontua Felipe.

Para participar do evento, é preciso fazer a inscrição por meio deste link. A comemoração acontece no jardim do espaço A Fabrika, na Rua Fernando Amaro, 154 – Alto da XV, das 11 às 17h.

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