Surto de coronavírus atinge enfermagem de hospital em Curitiba

Pelo menos uma das enfermeiras do Marcelino Champagnat está internada em estado grave; há outros casos confirmados de Covid-19 na equipe

Fazia alguns dias que todos na equipe reparavam na ausência de uma das enfermeiras do turno da tarde da UTI, mas ninguém explicava o motivo das faltas. O último plantão dela tinha sido no dia 27 de março, quando ela ficou responsável por cuidar de um paciente com coronavírus – um médico da UPA Boqueirão que está até hoje internado no Marcelino Champagnat. Só quatro dias depois a direção do hospital fez uma reunião com a enfermagem para dizer o que estava acontecendo: a colega havia sido contaminada.

O pânico tomou conta da enfermagem. A primeira sensação foi de tristeza pela colega transformada em paciente. A descrição do caso, feita por um médico, foi de um caso grave de insuficiência respiratória, com risco de vida. Como o plano de saúde dos funcionários não cobre a permanência no próprio Marcelino, a enfermeira foi levada para a UTI do Ônix.

“Ficamos preocupadas primeiro por ela, claro. É uma pessoa querida por todos. Mas também começamos a ficar pensando no que poderia acontecer com a gente”, diz uma profissional de enfermagem entrevistada pelo Plural sob garantia de confidencialidade. “Soubemos que um outro enfermeiro já tinha sido afastado também.”

A preocupação não era à toa. Desde então, pelo menos mais três enfermeiras da UTI do Marcelino tiveram confirmação de contágio por coronavírus. Uma delas está internada também no Ônix, mas em condição menos grave. As outras duas estão isoladas em casa.

O medo só cresceu com o aumento de casos de coronavírus na UTI do hospital. Segundo o Plural apurou, dos 20 leitos de terapia intensiva do hospital, cinco estavam ocupados neste sábado por pacientes com confirmação de Covid-19. Outros cinco eram ocupados por pessoas que tinham suspeita da doença e aguardavam o retorno do exame.

“Cada uma de nós fica com dois pacientes por turno. Normalmente um de Covid e outro que não tem Covid. Então todas nós estamos expostas, e temos inclusive receio de passar o vírus para os pacientes que estão com outros problemas”, diz outra pessoa da equipe de enfermagem do Marcelino que prefere não ter seu nome divulgado.

As enfermeiras acreditam que o material de proteção que vêm recebendo é insuficiente. Além de máscara e luvas, elas usam o capacete e um jaleco de pano (ao invés de equipamento descartável). Segundo elas, as contaminações seriam uma prova de que isso não está sendo eficaz na proteção de quem trabalha diretamente com os pacientes.

O hospital nega que tenha havido descaso, e diz que está tomando todas as precauções exigidas para esse tipo de situação, inclusive com o fornecimento de EPIs. Quanto ao isolamento dos pacientes, o Marcelino Champagnat diz que cada internado da UTI permanece em um box, sem contato com os demais doentes.

O hospital, no entanto, afirma que não se manifesta sobre a situação individual de seus funcionários. Veja abaixo na íntegra a nota enviada pelo Marcelino Champagnat ao Plural.

Nota do Marcelino Champagnat

O Hospital Marcelino Champagnat, prezando pela segurança de seus clientes e colaboradores, montou uma estrutura exclusiva de Pronto Atendimento para pacientes com sintomas de gripe e suspeita de Coronavírus seguindo todas as recomendações dos órgãos competentes. Essa estrutura é separada do Pronto Atendimento que atende pacientes com outras questões de saúde em funcionamento 24h.

Com relação à EPIs, as equipes são constantemente treinadas para a correta utilização dos equipamentos e tem à disposição todo o material necessário para atendimento aos pacientes, com EPIs específicos para o atendimento dos pacientes com COVID-19.

Também informamos que todos os leitos da unidade de terapia intensiva do Hospital são separados, ou seja, não há contato entre os pacientes, independente do seu caso clínico.

Sobre colaboradores, não fornecemos informações.

O Hospital Marcelino Champagnat integra o seleto grupo de instituições de saúde brasileiras – e única no Paraná – reconhecida duas vezes pela Joint Comission International (JCI), a maior acreditação do mundo em qualidade e segurança assistencial.

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1 comentário em “Surto de coronavírus atinge enfermagem de hospital em Curitiba”

  1. Trabalho lá e o começo da pandemia, não tínhamos os epis corretos era muito assustador. Ver pessoas morrendo. O medo era grande.. sinto uma dor no coração de lembrar da nossa querida VAL… deixou filhos menores ela nem sabia que estava cuidando de um paciente com suspeita. Muito triste.
    O Dr Jarbas todos os dias acompanhando ela na uti do ônix… Dr uma boa pessoa humano de verdade. Deram todo o suporte a ela e a família que ela deixou….

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