“Serial killer” homofóbico é condenado a 104 anos de prisão em Curitiba

José Soroka matou dois homens gays em Curitiba e confessou a morte de um terceiro em Santa Catarina

A Justiça do Paraná condenou a 104 anos e 4 meses de prisão, em regime fechado, o assassino de pelo menos dois homens gays em Curitiba. José Tiago Correia Soroka, de 33 anos, também cumprirá pena por tentativa de latrocínio, extorsão e agressão contra outras duas vítimas que conseguiram sair vivas das emboscadas tramadas pelo homicida. No decorrer dos interrogatórios, Soroka ainda confirmou ter roubado e matado, de jeito muito semelhante, outro homem com quem fingiu buscar relacionamento em Santa Catarina.   

A decisão considerou ainda crime de homofobia relacionado aos fatos sustentados pelo Ministério Público. O processo corre em segredo de Justiça, por isso, a reportagem ainda não conseguiu contato com a defesa do condenado.

“Isso porque o ódio que o acusado manifesta contra a comunidade LGBTQIA+ restou evidente, especialmente contra os homens homossexuais”, afirma a juíza Cristine Lopes. Segundo ela, no próprio parecer psicológico anexado aos autos o perito “confirmou que conseguiu verificar um significado homofóbico nos crimes praticados pelo réu”.

Os crimes praticados por Soroka começaram a chegar à polícia do Paraná em maio do ano passado. A linha de investigação começou a ser montada após dois homens gays serem encontrados mortos em condições muito similares na capital paranaense. Marcos Vinício Fonseca e de David Junior Levisio foram amarrados e asfixiados em seus respectivos apartamentos, de onde objetos foram levados. Este, ficou comprovado, era o modus operandi do condenado, a quem foram atreladas as investigações de outros cinco casos, inclusive um semanas antes em Santa Catarina.

O assassino confirmou também ter sido o responsável pela morte do professor Robson Paim, em Abelardo Luz, no Oeste catarinense.

Soroka usava aplicativos de mensagem e de encontros para se aproximar das vítimas. Foi assim que conheceu a primeira delas, com quem teve um relacionamento por cerca de quatro anos antes das extorsões e ameaças, que ocorreram em 2018.

As mortes ligadas ao nome de agora condenado ocorreram com dias de diferença, em abril e maio de 2021, já depois do assassinato do professor em Santa Catarina – que teve o carro roubado pelo criminoso. O paranaense armou encontros com David Junior Levisio e Marcos Vinício Fonseca já com intuito de roubá-los. Nos dois casos os homens gays foram mortos. Após dominá-los com um golpe mata-leão, Soroka asfixiou as vítimas até vê-las morrer para, depois, roubar joias, computadores, celulares, dinheiro e carro.

Um quarto homem poderia ter morrido nas mãos do assassino, mas conseguiu evitar o pior, “pois o ofendido lutou com o denunciado e passou a chutar um móvel que estava no local, o que ocasionou barulho e assustou o denunciado, de modo que ele não conseguiu matá-lo”, diz relato nos autos.

“Em um primeiro plano, o fato de o acusado manter relações sexuais com pessoas do mesmo sexo (…) não lhe tira o dolo especial de seus atos evidenciado nos autos, eis que a motivação de seu ódio, para além das vítimas e da comunidade LGBTQIA+, pode também residir na negativa de autoaceitação, da visão distorcida que tem de si mesmo, o que não se trata de causa que afaste a ilicitude ou culpabilidade de suas condutas e, muito menos, a tipicidade”, escreveu a juíza.

No ano passado, quando os casos começaram a ser descobertos, a polícia investigava a ligação de Soroka com sete casos, ao todo.

À época dos crimes, Soroka trabalhaba como chaveiro dentro de um shopping e levava uma vida particularmente “normal”, chegou a afirmar o delegado que iniciou as investigações. Nos autos, no entanto, a ex-esposa chegou a relatar que já havia sofrido violência doméstica.

Sobre o/a autor/a

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

O Plural se reserva o direito de não publicar comentários de baixo calão, que agridam a honra das pessoas ou que não respeitem níveis mínimos de civilidade. Os comentários são moderados por pessoas e não são publicados imediatamente.

Rolar para cima