Seminário destaca o protagonismo feminino na construção da agroecologia

Evento fez parte das discussões da 20ª Jornada de Agroecologia do MST

Durante a 20ª Jornada de Agroecologia, foi apresentado o seminário “Feminismo, segurança e soberania alimentar na construção da agroecologia: o protagonismo das mulheres do campo, da floresta e das águas” foi realizado no sábado (25) na Universidade Federal do Paraná (UFPR) – campus Rebouças, em Curitiba, reunindo 90 participantes.

Organizado pela Marcha Mundial das Mulheres, pelo Grupo de Pesquisas sobre Relações de Gênero, Raça e Tecnologia da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (GETEC-UTFPR) e pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), o evento contou com o depoimento de oito mulheres representando lideranças de diferentes regiões do estado e ligadas a práticas relacionadas à agroecologia. A coordenação do seminário foi feita pelas ativistas Rosani do Rosário Moreira, Vânia de Assis e Eliane Basilio de Oliveira. 

As discussões, mediadas pela professora Kátia Regina Isaguirre, da UFPR, não se limitaram apenas a práticas agrícolas, mas abordaram também temas como a luta contra o agronegócio, a falta de demarcação de territórios tradicionais, a violência e a invisibilização do trabalho feminino nas comunidades rurais.

O seminário teve início com uma apresentação musical de lideranças indígenas de diversas aldeias do Paraná e do Acre, destacando as principais bandeiras de luta do movimento, como a demarcação imediata dos territórios e o combate à aprovação da PEC do marco temporal.

Leia também: Material de orientação para aborto legal é lançado pelo FAL-PR

Em seguida, uma mesa de debates foi formada, apresentando e mediando as falas das oito participantes, que compartilharam experiências e reflexões sobre o papel das mulheres em suas comunidades. Isabela Cruz, ativista e pesquisadora do feminismo quilombola, destacou os desafios enfrentados pelas mulheres em comunidades tradicionais, enfatizando a dificuldade de acesso a informações acadêmicas sobre o feminismo devido ao isolamento e à carga de trabalho. No entanto, ela ressaltou a compatibilidade entre o feminismo e o modo de vida tradicional das mulheres quilombolas, afirmando que os princípios feministas já estão incorporados em suas rotinas.

Priscila Facina Monnerat, educadora e agricultora do MST, enfatizou a importância das mulheres na agroecologia e apontou para a necessidade de enfrentar o machismo presente no movimento. Ela destacou a luta das mulheres contra o agronegócio, buscando uma agricultura benéfica ao meio ambiente e à comunidade, e mencionou a crescente força das lutas feministas dentro do MST.

A benzedeira Vera Lúcia da Silva, do assentamento Zilda Arns, trouxe à tona a importância do reconhecimento das práticas ancestrais, como as terapias naturais, e a luta pela inclusão da fitoterapia no Sistema Único de Saúde (SUS). Ela enfatizou a relação entre a preservação da cultura e da natureza, evidenciando o valor da medicina tradicional popular.

Karina Gonçalves David, integrante da Rede Ecovida de Agroecologia, destacou a invisibilidade do trabalho feminino no campo e a necessidade de combater o machismo, que contribui para casos alarmantes de violência no meio rural. Ela compartilhou experiências de superação e conscientização na Rede, que hoje conta com uma diretoria composta exclusivamente por mulheres.

Neiva Gabriel Fernandes, líder indígena Guarani Mbyá, ressaltou a importância da educação na preservação das identidades tradicionais e culturais das mulheres do campo. Destacou a agroecologia não apenas como produção, mas como uma cultura que precisa ser mantida e valorizada.

Marilei de Fátima Ferreira, da Articulação Puxirão dos Povos Faxinalenses, trouxe à tona a realidade dos faxinais, pequenas propriedades ameaçadas pelo avanço do agronegócio. Ela ressaltou a importância da identidade e da união para a resistência dessas comunidades.

plateia
Organizado pela Marcha Mundial das Mulheres, pelo Grupo de Pesquisas sobre Relações de Gênero, Raça e Tecnologia da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (GETEC-UTFPR) e pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), o evento contou com o depoimento de oito mulheres | Foto: Marcelo Lima

Suzana Camargo e Vera Lúcia Rodrigues, da Rede Agroecológica de Mulheres Agricultoras de Barra do Turvo, destacaram o avanço da exploração ambiental na região do Vale do Ribeira, a violência contra as mulheres e a luta pela visibilidade do trabalho feminino na cultura local.

Ao fim das apresentações, foram propostos encaminhamentos para dar continuidade às discussões e ações levantadas durante o seminário, incluindo a criação de espaços permanentes de debates, novos encontros para discutir problemas e soluções, e a ampliação dessas discussões para diversos espaços, como escolas, universidades e comunidades.

O evento destacou não apenas a importância do protagonismo feminino na agroecologia, mas também a diversidade de desafios enfrentados por mulheres em diferentes contextos do campo, da floresta e das águas, reforçando a necessidade de união, reconhecimento e valorização do papel das mulheres nessas comunidades.

Sobre o/a autor/a

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

O Plural se reserva o direito de não publicar comentários de baixo calão, que agridam a honra das pessoas ou que não respeitem níveis mínimos de civilidade. Os comentários são moderados por pessoas e não são publicados imediatamente.

Rolar para cima