Por que o número de mortos por covid não diminui mesmo com o avanço da vacinação?

Curitiba tem 64% da população vacinada com pelo menos uma dose; média diária de óbitos fica em torno de 20

Seis meses após o início da vacinação contra o coronavírus, Curitiba aplicou 1.190.868 doses do imunizante (levando em conta primeira dose, segunda dose e as vacinas de dose única). Isso, no entanto, não parece ter reduzido significativamente o número de pessoas que morrem diariamente por complicações da doença. 

Até a última segunda-feira (12), a capital vacinou 888.957 pessoas com a primeira dose, o equivalente a 63.7% da população acima de 18 anos. O número aparenta ser alto. Mas, quando levamos em conta a quantidade de indivíduos imunizados, isso é, que receberam as duas doses ou a vacina de dose única da Janssen, esse valor fica bem mais enxuto. 

Considerando a população total estimada para Curitiba em 2020 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 1.948.626 pessoas, apenas 15% dessas estariam imunizadas contra o Sars-COV-2, o que corresponde a 301.911 pessoas. De acordo com dados da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), da população total, são 265.511 que receberam a segunda dose até o dia 12 de julho e outras 36.400 que receberam a vacina em dose única, completando esquema vacinal contra o vírus.

O professor de infectologia do curso de Medicina da Universidade Positivo (UP) e médico do Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Marcelo Abreu Ducroquet, esclarece que o principal motivo que explicaria a redução sutil no número de óbitos mesmo com parte da população vacinada é o delay entre o primeiro contato da pessoa com a doença e o falecimento. “Entre a pessoa contrair o vírus, adoecer, ir para o hospital e evoluir a óbito se passa um mês, às vezes 40 dias. Quem está entrando para a estatística de mortos hoje, quem está morrendo hoje de covid, é quem se contaminou talvez há 30 ou 40 dias. O que a gente vê agora é o reflexo do que aconteceu lá atrás.” 

O infectologista aponta que existem diversos fatores que influenciam a estagnação do número de mortos por covid na cidade, entre eles estão a flexibilização das medidas de restrição, o impacto das novas variantes do vírus e a efetividade das vacinas, por exemplo.

De acordo com o médico, ainda que a principal medida seja a vacinação, ações como lockdown, isolamento social e uso de máscaras, irão refletir, futuramente, na diminuição dos indicadores. Porém, por ser o último estágio, o número de óbitos é, consequentemente, o último a ser impactado. Antes dele devem ser reduzidos os indicadores de casos ativos e número de internações, por exemplo.

Na visão de Marcelo, uma queda significativa na taxa de mortes em Curitiba pode ser esperada daqui duas ou três semanas, momento em que o ciclo infeccioso de pacientes que estão internados atualmente deve terminar. 

Em resposta ao Plural, a SMS confirmou que a maioria das pessoas que evoluem a óbito por covid neste momento foram contaminadas em um período superior a 20 dias, tendo casos de pacientes internados há mais de três meses.

Para a Secretaria, um possível indicador do motivo do número de óbitos continuar elevado é o aumento da letalidade da doença em 2021, se comparado ao ano anterior. De acordo com a SMS, a taxa “está possivelmente associada à introdução da variante gama (P.1)”.

Mudança de perfil

Além da taxa de mortos continuar elevada, há um novo padrão da doença: a internação e morte de jovens, parcela populacional ainda não contemplada pela vacinação. Em Curitiba, dos 19 óbitos registrados nesta quarta-feira (14), 13 eram de pessoas com menos de 60 anos. Até o momento, a capital conta com um total de 6.429 mortes.

De acordo com dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), em junho de 2021, foram 691 óbitos em Curitiba. Destes, 343 eram pessoas entre 40 e 59 anos. O número de mortos com 60 anos ou mais diminui para 299. Em comparação com o mês de março – em que ocorreu um dos picos de letalidade do vírus – das 1.014 mortes, 261 foram de pessoas entre 40 e 59 anos, enquanto 699 foram de pessoas acima de 60 anos.

Número de óbitos por faixa etária no mês de junho de 2021 em Curitiba. Imagem: Painel da Covid-19 em Curitiba, da Secretaria Municipal de Saúde (SMS).

Procurada pela reportagem, a SMS informou que, com o avanço da pandemia em 2021, foi possível observar a “migração da doença para a faixa de 30-59 anos, inclusive com óbitos nesta faixa etária”.

Uma análise feita pelo Centro de Epidemiologia da SMS mostrou que, antes do início da vacinação, os óbitos entre idosos (primeiro grupo a ser imunizado) representavam 78% das mortes. Após o início da imunização até o dia 31 de maio de 2021, esse percentual caiu para 69%. Os óbitos entre pessoas com 80 anos ou mais diminuíram 38%, já entre 70 e 79 anos não houve variação. Entre os 1.911 óbitos de pessoas acima de 60 anos analisados, 85% (1.627) da pessoas não haviam recebido nenhuma dose de vacina.

Segundo o órgão, a redução dos indicadores da pandemia está associada ao avanço da imunização, ou seja, quanto maior o número de pessoas vacinadas, menor o número de novos infectados e óbitos. Por isso, a prefeitura afirma que não é possível precisar um período para melhoria do cenário, “já que o município depende do repasse dos imunizantes, que é feito pelo Ministério da Saúde”.

Reportagem sob orientação de Rogerio Galindo

Sobre o/a autor/a

1 comentário em “Por que o número de mortos por covid não diminui mesmo com o avanço da vacinação?”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

O Plural se reserva o direito de não publicar comentários de baixo calão, que agridam a honra das pessoas ou que não respeitem níveis mínimos de civilidade. Os comentários são moderados por pessoas e não são publicados imediatamente.

Rolar para cima