Pobre arrumada não é sinônimo de puta, presidente

A minha História e a minha ancestralidade ensinam que mulher é rainha e deve ser respeitada

A eleição de 2018 abriu a caixa de Pandora no Brasil e até agora seguem saindo males dela. 

Pobre, mulher, preta, de bairro. Se você se arruma, certeza que é só para “ganha a vida”. Pra esses caras, pobres arrumada só pode ser puta. 

Isso foi dito pelo próprio presidente. Um presidente que evidentemente é do time dos que acham que mulheres da periferia “são fáceis porque são pobres”. Acham que mulher é um objeto, e um objeto negociável.

Crescendo sabendo dividir o mundo em dois: tem os lugares onde posso ser eu mesma; em outros posso estar lá na minha e de repente vem alguém baixar falando em prostituição, ou então alguém diz que você “está tentando ser menino”. Cheios de preconceitos e estereótipos, sempre colocando ideias como verdade. 

Sendo mulher, criada e nascida em vila, sei o quanto é ruim, doloroso ser taxada de todo tipo de coisa. E, o pior, isso se tornou constante na sociedade.

Vejo essas pessoas dizendo que são cristãs, dizendo que nacionalidade, cor e classe social definem alguém. Até meninas de 14-15 anos fazendo curso de estética viram prostitutas; se é pobre é vagabundo; quem vive na favela é bandido.

No país onde cresci, o costume é menosprezar e pisar na esperança do povo; nesse país é aceitável um presidente falar que “pintou um clima” com adolescentes e logo pedir desculpas e dizer que foi uma distorção. 

Aqui, a qualquer momento, alguém que tenha um pouco mais de condições que eu (ou, especificando, alguém branco) com ideologias fascistas pode me taxar do que quiser como se tivesse direito. Como se me conhecesse. Como se meu gênero fosse um passe livre para ser tratada como eles bem entendam. 

Conforme fui crescendo nessa sociedade, em vez criar momentos bons e me sentir segura, fui criando muros e armas para que a qualquer momento pudesse me defender. Porque da minha casa pra fora, sendo mulher, preta, pode acontecer muita coisa desagradável. Desde que eu me “comporte” como querem, tudo bem; mas basta um movimento em falso e posso ser taxada de puta.

Por que devo mudar minha roupa de vez eles desfazerem o pensamento tóxico de que mulher sendo pobre é puta? Tem um motivo: quem espalha esses esses estereótipos são brancos, ricos, empresários.

Por que é senso comum dizer que uma mulher de vila ou de nacionalidade diferente pra ganhar a vida tem que se envolver com  prostituição? Quem deu o direito de pensar isso de mim? Quem são vocês para falar de mim? Por que aceitar como verdade absoluta o rótulo que eles colocaram? 

O que me assusta é saber que quando algo terrível assim acontece, basta olhar pro outro lado ou alguém vir com desculpas esfarrapadas para que se finja que nada aconteceu. Me diz até quando tenho que me sentir com medo de ser taxada de algo só porque alguém inventou essa história? Até quando vou ter que viver com medo? 

Nasceu mulher? Penso duas coisas: primeiro, que protejam ela; segundo, peço perdão pelo que elas vão ter que ouvir em pleno século 21. 

Quem são vocês para falarem ou pensarem qualquer coisa sobre mim, com base no preconceito de vocês? E quem são vocês que defendem atitudes como essa? 

Sim, dói crescer onde mulher é carne barata, negociável, como se não fosse nada. Matam a gente todo dia. País que deleta histórias, vidas e mata a esperança. 

Deus me fez livre demais pra viver preso em ideologias.” Sou livre pra ser e pra não ser o que quiser, sou mulher preta que sabe que o mundo é pequeno pra minha grandeza, que mesmo doendo segue em frente desejando e lutando para um país onde meninas possam ser o que quiserem, vestir o que quiserem ou participarem do que quiserem sem ser rotuladas de coisa nenhuma. 

A minha História e a minha ancestralidade ensinam que mulher é rainha e deve ser respeitada. Não importa como estiver, mulher é livre, sem estereótipos. 

Este texto faz parte do projeto Periferias Plurais, que convida seis jovens a falar sobre suas vidas e suas comunidades.

Sobre o/a autor/a

4 comentários em “Pobre arrumada não é sinônimo de puta, presidente”

  1. Senir Martins Dos Santos

    Nielly Vitória, minha maravilhosa e grandiosa filha. Como amo você minha pequena grande MULHER, saiba filha que te admiro muito, muito por tudo que você é. Inteligente, dedicada, amorosa e cheia de vida. Suas atitudes, me faz ver o quão grandiosa você é. Torço pela sua felicidade, que realize todos os seus sonhos. Voe minha filha, voe alto e mostra ao mundo que somos mulheres NEGRAS SIM, COM MUITO ORGULHO.
    Podemos ser quem quisermos ser SIM.
    Temos coragem pra lutar por nossos direitos e ideais.
    #niellyvitoriameugrandeamo.

    Com amor
    Sua mãe
    SENIR 💜

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