Descoberta feita por pesquisadores do Grupo Universitário de Pesquisas Espeleológicas (Gupe), vinculado à Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), lançou novas perspectivas sobre a arqueologia paranaense e abriu caminho para novos entendimentos sobre a relação histórica e cultural dos povos originários com a araucária, árvore símbolo do estado.
Pela primeira vez, estudiosos se depararam com representações rupestres da espécie. O ineditismo foi relatado em artigo publicado no fim de janeiro em uma das revistas do Programa de Pós-Graduação em Geografia da PUC Minas e representa mais um degrau em direção a respostas bastante buscadas pela ciência. A ausência de figuras rupestres de araucárias sempre foi um questionamento de cientistas dedicados ao estudo do popular pinheiro-do-paraná, parte de uma família com espécies ancestrais que conviveram com os dinossauros.
Os grafismos foram localizados na região de Piraí do Sul, dentro da Área de Proteção Ambiental (APA) da Escarpa Devoniana – formação geológica dos Campos Gerais rica em fornecimento de objetos de estudos por conter uma das biodiversidades mais peculiares do planeta. A descoberta deixou os pesquisadores atônitos.
“Identificar uma representação rupestre como essa é literalmente algo que foge em palavras porque é realmente emocionante. Tem uma importância simbólica para nós que temos esta espécie como símbolo do estado, para uma espécie em risco de extinção e para uma espécie que, além da beleza e da importância ecológica, nos fornece uma iguaria sem igual”, disse Henrique Simão Pontes, professor do Departamento e Geociência da UEPG, membro do Gupe e um dos autores do artigo em que está documentado o ineditismo. “Este achado surpreende de uma forma sem igual. É o que faltava nos anais da arqueologia paranaense”.
Segundo o docente, a descoberta propõe uma série de perguntas que podem ser problematizadas, a partir de agora, por diferentes áreas da ciência. Uma delas é a busca pela compreensão dos vínculos entre a araucária e os povos originários que viveram onde hoje se delimita o território paranaense.
“Quando identificamos, falamos ‘olha, está aqui representada a araucária’. De alguma forma, isso significa que a araucária passou pela interpretação desses povos”, acrescenta Pontes.
A pesquisa identificou ao todo 13 representações de Araucaria angustifolia e cerca de 20 figuras antropomórficas distribuídas entre os troncos das árvores, sendo uma primeira interpretação considerada a de que o grupo de pessoas represente um ato de colheita de sementes. Pelo menos três das figuras mostram troncos sendo escalados por humanos ou animais da fauna local, como o bugio.
Uma vertente importante de estudos sobre a araucária analisa a correlação da dispersão da espécie nos últimos milhares de anos sob a influência dos povos originários. O estudo conduzido pelo Gupe associa um possível protagonismo nesta história da etnia Macro-Jê – tronco-linguístico de povos como Kaingang e Xokleng que ocuparam o território paranaense há pelo menos 3 mil anos. Apesar de o achado arqueológico ainda não ter sido submetido a procedimentos de datação e não ser possível estabelecer, ao certo, possíveis autores, os desenhos altamente detalhados de espécies vegetais e antropomorfos – outro ineditismo entre outros achados rupestres da região – permite uma associação inicial cronocultural entre os painéis e membros da etnia Jê.
Se a hipótese futuramente ganhar corpo, seria capaz de indicar que a presença da araucária na região é muito mais antiga do se imagina. Importantes referências científicas supõem hoje que a espécie começou a avançar nos Campos Gerais cerca de 1,4 mil anos atrás.
“Isso abre oportunidades, com bastante desafios também. Mas esses caminhos ficam agora abertos para os investigadores testarem e refutarem diversas hipóteses hoje postas pela comunidade acadêmica”, analisa o pesquisador do Gupe.
Encontrados em condições consideráveis de deterioração – softwares de edição de imagens foram necessários em alguns casos –, os grafismos rupestres das araucárias deverão se tornar objeto de projetos mais específicos. Há possibilidade de que pesquisas com maior detalhamento não tardem a começar, incluindo trabalhos específicos na área da paleobotânica
Embora esteja em área protegida – a APA da Escarpa Devoniana é tombada e, por isso, segue padrões ambientais mais rígidos –, a proposta dos membros do Gupe é que ações junto a órgãos de gestão e fiscalização, como Ibama e Ministério Público, possam ser desenvolvidas em paralelo às atividades de educação patrimonial que serão aplicadas pelos próprios pesquisadores como etapa complementar do projeto de expedição na Escarpa.
Parabéns aos Pesquisadores do GUPE. Viva a Ciência!!!
Obrigado por nunca desistirem.
Realmente não há um vocabulário adequado para tentar descrever tal achado. Parabéns aos envolvidos.
Éssa descoberta é maravilhosa e mostra a importância de preservarmos cada vez mais nossas Araucárias árvore símbolo do nosso estado fiquei impressionado nos campos gerais temos muitos vestígios de pinturas rupestres artefatos e costumes de nossos antepassados
Emocionantes descobertas históricas !
Descobertas com estas apenas enfatizam o fato da existência do povos originais no território que hoje é o Brasil. E reforça a ideia de quando da chegada de povos europeus, já havia vida e civilização há muito tempo por estas bandas.