Passeio Público está mais vivo do que nunca 

O parque mais antigo da cidade já foi Jardim Botânico, Zoológico e cenário de acontecimentos históricos de Curitiba

Faz 14 anos que Maria de Fatima Gois repete a mesma rotina: acorda pontualmente às 5h30 da manhã, arruma a cama, toma banho, faz café, dá bom dia para os amigos no grupo do WhatsApp e sai, por volta das 9h, rumo ao lugar que ela gosta quase tanto quanto a própria casa, o Passeio Público de Curitiba. 

Todos os dias, com exceção das segundas-feiras, Dona Maria apronta o carrinho verde de pipoca em frente ao parquinho do Passeio para aguardar os primeiros visitantes. Ela integra o grupo de 12 pipoqueiros que trabalham no parque. 

No início, Dona Maria acompanhava o marido, Francisco Gois, também pipoqueiro, que faleceu há três meses. “Meu esposo tinha 45 anos aqui no Passeio Público. Antes de morrer ele pediu para eu continuar com o trabalho porque ele gostava muito do Passeio, e eu continuei”, conta.

“O Passeio é um lugar muito gostoso, que a gente encontra bastante paz na natureza e nas pessoas que conhecemos. Eu pretendo vir até eu não aguentar mais. Até ficar velhinha e não aguentar empurrar o carrinho”, relata Dona Maria, rindo.

Dona Maria arrumando o carrinho de pipoca no Passeio Público. Foto: Cecília Zarpelon/Plural

Há 136 anos o Passeio Público recebe pessoas de diversos lugares do Brasil. Criado em 2 de maio de 1886 pelo então presidente da província do Paraná, Alfredo D’Estragnolle Taunay, com o objetivo de drenar um terreno pantanoso, o primeiro parque de Curitiba não faz parte apenas da história da família Gois, mas de muitos brasileiros. 

Durante 87 anos (1886 – 1973), o Passeio foi o único parque público da cidade. Momentos históricos de Curitiba tiveram o local como palco, a exemplo do primeiro registro de luz por energia elétrica na cidade e a decolagem do balão granada, pilotado pela primeira mulher balonista, em 1909.

Passeio Público em 1905. Foto do Acervo Julia Wanderley da Fundação Cultural de Curitiba (FCC). 

O Passeio é um lugar muito gostoso, que a gente encontra bastante paz na natureza e nas pessoas que conhecemos. Eu pretendo vir até eu não aguentar mais. Até ficar velhinha e não aguentar empurrar o carrinho

Maria de Fatima Gois

Os quase 70 mil metros quadrados do parque eram originalmente o lar dos animais que hoje estão no Zoológico Municipal da cidade. Desde 1981, quando os bichos passaram a ser transferidos, o Passeio abriga fauna de pequeno porte que permaneceu no lugar, como aves (sabiás, tico-ticos, canários-da-terra), serpentes e lagartos, e 30 variedades de peixes.

Quem fez uma visita ao Passeio justamente por causa desses animais foi a professora de educação infantil da rede municipal de ensino Noely Olegini, que foi acompanhada do marido e do sobrinho. “É a primeira vez do meu sobrinho aqui e ele está adorando. Ele queria ver os animais, daí trouxemos aqui, porque é quase um zoológico, né?”.

Nascida em Vitorino, no sudoeste do Paraná, Noely conta que mora em Curitiba há mais de 30 anos e que, assim como viu a cidade se desenvolver, acompanhou as transformações do Passeio.

Ao longo do tempo, o Passeio Público se manteve como um reduto verde em meio aos prédios e ruas de concreto que dão forma ao centro da cidade. Já foi tombado duas vezes (em 1970 e 1980), mas no início dos anos 2000 o espaço sofreu com a falta de manutenção, com cada vez mais ambientes deteriorados e aumento da violência, o que afastou os visitantes. Em 2017, o governo municipal iniciou um projeto de revitalização a fim de recuperar e preservar o Passeio, dando um novo fôlego ao espaço. “O parque mudou bastante, já está virando mais um espaço cultural hoje. Esse local é um investimento muito bom”, elogia.

Uma das atrações preferidas de Noely são os pássaros. Foto: Cecília Zarpelon/Plural

Além da fauna, o Passeio Público conta com uma extensa área de vegetação formada por carvalhos, ciprestes, paineiras, jacarandás, ipês-amarelos, canelas e eucaliptos. Todas são plantadas, sendo algumas das mais antigas os plátanos, que ficam na via em frente ao Colégio Estadual do Paraná.

São três lagos, pontes, estátuas, aviários, decks, playgrounds, espaço pet, academias e até um cinema do Coreto Digital com programação diversificada e variável mensalmente. São exibidos, entre outros, vídeos-exposições artísticas, vídeo clips de gêneros musicais diversos, espetáculos de dança, teatro, contação de histórias e gravações de bandas locais. 

Seu Nereu dos Santos frequenta o Passeio Público desde que seu tio, médico veterinário, era diretor do local. Há mais de 10 anos ele vai ao parque caminhar e fazer exercício, e já é amigo de todos que passam por lá. “Venho todo o dia, de terça a domingo, só não segunda porque o parque é fechado. Eu adoro aqui”, conta.

Desde 2017, o Passeio também funciona como sede do Departamento de Proteção e Conservação da Fauna, da Secretaria do Meio Ambiente, que administra diversos espaços e desenvolve trabalhos de educação e conscientização ambiental.

Serviço

Passeio Público

  • Endereço: Rua Carlos Cavalcanti, Av. João Gualberto, Rua Presidente Faria;
  • Horário de funcionamento: de terça a domingo, das 6h às 20h;
  • Entrada: gratuita
  • Telefone: (41) 3350-9940.

O terrário e o aquário funcionam de terça a sexta-feira, das 9h às 17h. Aos sábados, domingos e feriados os dois espaços funcionam das 10h às 16h.

Sobre o/a autor/a

6 comentários em “Passeio Público está mais vivo do que nunca ”

  1. Dá dó ver aquelas aves lindas e imensas presas numa gaiola. Inclusive já vi várias crianças jogando pedrinhas nelas.
    Tá mais que na hora de acabar com essa cultura imbecil e criminosa de manter bichos em cativeiro pra entretenimento humano.
    Se não podem voltar à natureza, que fiquem em espaços controlados mais amplos, onde ao menos possam voar, tais como santuários ecológicos.

  2. André Cavalcante

    Excelente matéria. Curto muito passeio. Só não tenho viso funcionar o aquário e terrário a algum tempo. É um espaço realmente muito agradável e belo. Parabéns pelas fotos e entrevistas!

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