Nove anos após operação, delegados são condenados por facilitar desmanche ilegal de carros em Curitiba

Três deles continuam atuando em delegacias da região

Quatro delegados da Polícia Civil do Paraná – três deles na ativa – foram condenados no âmbito de operação deflagrada em 2013 contra práticas de cobrar propina em ferros-velhos de Curitiba. Em comum, eles foram apontados como integrantes de uma “organização criminosa com o intuito de arrecadar vantagem financeira indevida para autorizar a continuidade de práticas ilegais” nesses estabelecimentos. Em tese, a atuação dos policiais facilitava crimes de roubo e desmanche de veículos.

A decisão é da última quinta-feira (24). Segundo a sentença da 3.ª Vara Criminal do Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba, Luiz Carlos de Oliveira, hoje na Delegacia Móvel de Atendimento ao Futebol e Eventos; Marco Antonio de Goes Alves, lotado no 2.º Centro Integrado de Atendimento ao Cidadão; e Anderson Cassio Ormeni Franco, da Divisão de Polícia Metropolitana, faziam parte de uma organização criminosa denominada “Esquad”.

O delegado aposentado Gerson Alves Machado também foi condenado por participação no esquema – o que a defesa contesta. A reportagem não conseguiu contato com os advogados dos demais citados no processo. Entre aposentadoria e salários, todos têm hoje vencimentos designados em folha acima de R$ 20 mil.

Conforme a Justiça, o grupo se aproveitava do status institucional para cobrar dinheiro de donos de desmanches ilegais em troca de manter o local em funcionamento. Na época da ocorrência dos fatos, todos tinham vínculo com a Delegacia de Furtos e Roubos de Veículo (DFRV).

Além dos quatro delegados, dois empresários e outros 14 investigadores da PCPR também foram considerados culpados. Pelo menos sete deles seguem na corporação. A conclusão é que os delegados teriam dirigido “a atividade dos demais agentes, sendo suas ordens determinantes para a consecução dos crimes estudados”.

As sentenças decorrem de denúncias feitas pelo Ministério Público do Paraná (MPPR) após investigações que culminaram na Operação Vortex, coordenada pelo Gaeco, braço do MPPR para investigar o crime organizado, e também pela corregedoria da Polícia Civil.

As investigações do Gaeco duraram cerca de oito meses. Com base nos autos, Justiça concluiu a prática de 23 episódios de corrupção e concussão, uma espécie de corrupção quando a cobrança é claramente exigida.

Durante os mandados de busca e apreensão, chegaram a ser encontrados no endereço do delegado Luiz Carlos de Oliveira 98 mil dólares, dinheiro que a juíza Camile de Souza Siqueira afirma se tratar de valores dissimulados “provenientes da prática de crimes contra a Administração Pública, convertendo o dinheiro angariado através da atuação da quadrilha em dólares americanos, conferindo-lhe a aparência de valores obtidos através de jogos de azar em cassinos na Argentina”.

No processo, Oliveira negou a irregularidade da origem do dinheiro. Todos eles, em depoimento, rechaçaram ligação com o esquema.

As defesas dos delegados condenados foram procuradas pela Plural na tarde desta quarta-feira (2).

A reportagem não conseguiu contato com o advogado de Luiz Carlos de Oliveira – condenado a 50 anos e 5 meses. As chamadas para a defesa de Marco Antonio de Goes Alves caíram na caixa postal e, até a publicação deste conteúdo, não houve retorno para o recado deixado. A pena estabelecida a ele foi de 11 anos e 3 meses. Os telefonemas ao escritório do advogado de Anderson Cassio Ormeni Franco, cuja pena dada é de 42 anos e 10 meses, não foram atendidos.

O advogado Antonio Pellizzetti, o único com o qual a reportagem conseguiu contato, contestou a sentença contra o delegado aposentado Gerson Alves Machado – condenado a 44 anos e 11 meses.

Ele disse que vai recorrer da condenação e que já sistematiza embargos declaratórios para esclarecer pontos supostamente equivocados do veredito. Nas palavras do profissional, a decisão “comprova que a bandidagem tem mais força que os próprios delegados”.

“Não existe no processo nenhuma prova contra dos delegados, é tudo suposição. Isso tudo é porque o doutor Machado tem uma personalidade muito forte no trabalho que ele faz, nas investigações que ele conduz”, defendeu, dizendo que é possível que “algum policial possa ter recebido um troquinho”, mas que não há provas contundentes.

“Tenho certeza que o Tribunal do Paraná vai rever essa sentença. Não tem fundamento. Não vai ser necessário irmos para tribunais superiores”, disse.

A Polícia Civil informou que ainda não foi comunicada oficialmente da decisão.

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3 comentários em “Nove anos após operação, delegados são condenados por facilitar desmanche ilegal de carros em Curitiba”

  1. Esta é a justiça brasileira 10 anos p/ sair uma condenação que ainda cabe recurso , e todos os envolvidos trabalhando salvo aposentado ,( s ) recebendo do erário público e a sentença ainda não os incrimina , pois há mais recursos que os advogados podem recorrer , resumindo até o processo transitar em julgado na última instância STF , todos saíram ganhando , menos a chamada (Justiça ) é o Brasil de meu Deus e durma com um barulho destes.

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