No Dia Mundial de Combate ao AVC, leia relatos de quem passou por um

Da escrita às quadras, muitas são as formas de se reinventar após passar por um derrame

Nesta sexta-feira (29), é comemorado o Dia Mundial de Combate ao Acidente Vascular Cerebral (AVC). Segundo definição do Ministério da Saúde, o AVC acontece quando vasos que levam sangue ao cérebro entopem ou se rompem, provocando a paralisia da área cerebral que ficou sem circulação sanguínea.

A doença é a segunda maior causa de mortalidade no Brasil e a principal agente de incapacidade no mundo. Mesmo assim, pouco se fala sobre as pessoas que têm um derrame cerebral em algum momento da vida.

Hoje, o Plural traz três relatos de pessoas que passaram pelo acidente e tiveram que se readaptar na forma como conduzem suas vidas, confira abaixo:

Washington Luiz de Almeida, atleta

“Eu tinha 27 anos e uma rotina normal. Não tinha nenhum fator de risco que fosse propício  ao AVC, nenhum problema de saúde, malhava, corria, nada sedentário. Até que uma semana antes do fatídico dia eu andei muito sonolento e com muitas dores de cabeça.

Procurei várias vezes por atendimento médico até que um dia, no meu trabalho, comecei a sentir formigamento e perda de força no braço e perna esquerda. Fui encaminhado para o serviço médico do shopping onde trabalhava e eles suspeitaram de ‘princípio de AVC’ – também chamado de AVC transitório – que é como se fosse um aviso do que está  acontecendo. Em seguida, fui levado até uma UPA.

Chegando lá, a médica que me atendeu  julgou ser impossível um AVC na minha idade. Foram feitos alguns procedimentos, testes até que descartaram o ‘princípio de AVC’. Segundo o laudo dado pela médica, eu estava com acúmulo de stress. Fui mandado pra casa mas as dores de cabeça  e sonolência  persistiram. Após três dias, sozinho em casa, levantei da cama pela manhã e já caí no chão sem os movimentos do lado esquerdo. Liguei para o Samu pedindo por socorro  pois percebi que estava ficando sério, visto que estava perdendo a fala. Fui socorrido e levado para o hospital, seis horas e meia depois veio o diagnóstico: um AVC isquêmico.

Começaram as investigações do que teria causado esse AVC até que descobriram que tenho uma condição rara, chamada Síndrome de Moyamoya. Três dias depois do primeiro AVC, tive outro ainda no hospital, permaneci internado por um mês. Nessa época eu namorava e, graças a Deus, meu namorado – hoje, marido – me deu toda força e suporte para a minha recuperação. Veio a corrida contra o tempo para recuperar  o  máximo  possível da fala e dos movimentos. Foram sessões de terapia ocupacional, fisioterapia, fonoaudiologia, tudo que estivesse ao nosso alcance.  Aproximadamente um mês depois, consegui ficar em pé sozinho e a esperança  só  aumentou. Depois vieram os primeiros passos, os primeiros movimentos das mãos e, assim, continuei lutando. 

Até que um dia, enquanto andava na rua, uma mulher chamada Neide, presidente do instituto Reagir de paradesporto, me viu e me chamou para conhecer a instituição em que trabalhava para fazer um teste para atleta paralímpico. Agarrei essa oportunidade com todas as forças e fui. Me apaixonei pela oportunidade de me sentir vivo novamente, ainda mais fazendo algo que amo: esporte. Hoje, sou atleta paralímpico na classe F37 no arremesso de peso, lançamento de dardo e disco – graças a Deus já um atleta que já possui algumas medalhas.”

Simone Fagundes, bancária (e surfista)

“No dia 12 de junho de 2019 sofri um AVC isquêmico que atingiu 40% do meu cérebro. Foram 21 dias internada e 17 dias na UTI. Quando vim para casa tinha dificuldades para falar e também para andar. Foram meses de fisio e fono, fiquei com sequelas e hemiparesia no lado esquerdo do corpo. Em março tentei surfar, ainda não voltei a ficar em pé, é uma luta diária. Sou canhota, ainda não consegui escrever, o lado lesionado dói, mas bola pra frente. Tirando alguns desafios burocráticos, meu processo de reabilitação está sendo muito bom. Renasci, tive uma segunda chance, por isso, vivo um dia de cada vez, sem ser ligada no 220 como costumava ser. Tudo passa.”

Bia Moraes, escritora e colunista do Plural

“Eu sofri um AVC isquêmico em março de 2017. Fui para o hospital e fiquei internada durante três noites na UTI e uma noite no quarto. Voltei para minha casa em cadeira de rodas sem conseguir falar, andar, ou mexer o braço. Graças a fono que fiz e a fisio e pilates e fono que faço até hoje consigo caminhar, falar e mexer um pouquinho braço – a mão ainda não consigo mexer. Eu era jornalista, daí me aposentei por invalidez mas, hoje em dia, eu assino uma coisa aqui no Plural e me tornei escritora, pois sempre quis escrever. Costumava escrever apenas para os outros, mas agora escrevo para mim. Com base nos diários que fiz, um dia vou escrever um livro sobre minha experiência pós-AVC.

Geralmente, fico incomodada com despreparo de certos lugares com deficientes. Mas, essa semana aconteceu algo muito legal que eu não estava esperando. Vai acontecer um evento que eu queria muito ir, mas os ingressos seriam distribuídos apenas meia hora antes do início. Ficaria inviável para eu ir, visto que não consigo permanecer numa fila por muito tempo. Entrei em contato com a organização e eles reservaram um lugar especialmente para mim. Eu quase chorei, era algo que nunca tinha acontecido comigo. Na maioria das vezes, a acessibilidade nos lugares é bem complicada e nos deparamos com muita falta de respeito, mas dessa vez foi diferente.

O que eu acho importante ressaltar quando o assunto é AVC é que eu não gosto de ser chamada de heroína, nem de exemplo, coisas do tipo. O fato de eu ser deficiente hemiplégica não me define. De fato, é uma parte de mim, mas não me define. Não gosto quando as pessoas falam sobre lutar contra o AVC, a doença faz parte de mim e eu não vou lutar contra eu mesma.”

Reportagem produzida por Jully Ana Mendes sob orientação de João Frey

Sobre o/a autor/a

4 comentários em “No Dia Mundial de Combate ao AVC, leia relatos de quem passou por um”

  1. Tive um avc esquemico,fazem 20 dias fiquei com lado esquerdo paralisado,tive medo foi horrível estou usando fralda e tenho apenas 39 anos sou muito nova, comecei a fisioterapia e com a fonoudiologa e já estou falando perfeitamente, detalhes eu n conseguia falar e meu lado do rosto estava torto,estou caminhando mas a mão esquerda ainda tenho dificuldade.

  2. Rejane Laurindo

    Tive um AVC hemorrágico talâmico em dezembro de 2021.Tenho 58 anos.A partir desta data não dormi mais , não tenho fome, não tenho sono e não consigo expressar emoções.Fiquei com o lado direito com sequelas inclusive o rosto.A medicação para dormir não faz efeito nenhum. Estou bastante assustada.O meu neurologista disse que não pode acontecer tudo isso e alega que estou com depressão.Pela manhã é muito difícil levantar da cama .Comer me esforço e empurro goela abaixo.Quando chega a noite,fico apavorada.Algum conselho?

  3. Meu pai teve AVC EM NOVEMBRO 2021 EU tenho 34 anos fiquei assustada pelo fato de agora meu pai depender de mim estou buscando informações pra melhorar dia dia dele ainda não passamos pelo neurologista

  4. Jaldir Oliveira Matos

    Histórias com históricos diversos e emocionantes.
    Instantes q mudam toda nossas realidades, o que nos energiza é a ressignificação q procuramos.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

O Plural se reserva o direito de não publicar comentários de baixo calão, que agridam a honra das pessoas ou que não respeitem níveis mínimos de civilidade. Os comentários são moderados por pessoas e não são publicados imediatamente.

Rolar para cima