Mineradores e políticos fazem lobby com ministro de Bolsonaro para extinguir parque

Ministro do Meio Ambiente se reunirá com grupo que faz lobby por fim do Parque Nacional dos Campos Gerais

Um grupo de políticos e empresários da área de mineração e agropecuária aproveitará a presença do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, no Paraná, para fazer lobby pela extinção de um parque nacional. Segundo eles, o Parque Nacional dos Campos Gerais é um empecilho a atividades econômicas e deve ser removido do mapa. Salles vem a Curitiba nesta terça (30) e em seguida deve participar de uma reunião sobre o assunto em Ponta Grossa.

A reunião com o ministro foi intermediada pela deputada federal Aline Sleutjes (PSL), correligionária do presidente Jair Bolsonaro (PSL) que já foi vereadora por Castro, um dos municípios que têm terras dentro do parque, criado em 2006, na época em que Marina Silva (Rede) era ministra do Meio Ambiente do governo Lula (PT).

No início de abril deste ano, a deputada protocolou um ofício ao Ministério do Meio Ambiente solicitando o fim do Parque Nacional. A justificativa seria a falta de indenização aos moradores e produtores que residem nos limites da área.

“O ministro está vindo aqui para realmente verificar esses erros, tudo aquilo que nós sempre denunciamos”, declara o presidente da Associação Comercial, Industrial e Empresarial de Ponta Grossa (ACIPG), Douglas Taques Fonseca. A ACIPG, bem como as representações rurais da região questionam a situação: “Ninguém é contra parque, ninguém é contra conservação, mas precisa ser razoável”, afirma.

O Parque

Criado em 2006 por decreto federal, o parque abrange uma área de mais de 21 mil hectares – localizados em parte dos municípios de Ponta Grossa, Castro e Carambeí. Sob a tutela do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a unidade de conservação visa preservar a biodiversidade da mata com Araucária e dos campos sulinos, nativo da região dos Campos Gerais.

Para os ambientalistas, a criação do parque foi fundamental. “Sobrou muito pouco dos campos gerais como vegetação nativa, como biodiversidade, tanto do ponto de vista de espécies botânicas, quanto do ponto de vista da fauna associada à vegetação”, afirma o pesquisador da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Carlos Hugo Rocha.

Além da preservação da vegetação característica da região oeste do Paraná, a região do Parque agrega atrações como o Buraco do Padre, o Balneário Capão da Onça, e as cachoeiras do Rio São Jorge e Mariquinha. Há uma série de paisagens naturais com potencial para uso público e turístico: cachoeiras, cavernas, fendas e afins.

A água, salienta Carlos Hugo, é outro fator chave da importância do Parque: cerca de 20% da área de captação da bacia hidrográfica da região está dentro dos limites da área. “O que nos ajuda a ganhar em qualidade de água, e por consequência, em saúde”, ressalta o pesquisador.

Impasse

A unanimidade entre as partes é que os impasses a cerca do Parque acontecem desde sua criação, uma vez que o decreto prevê a desapropriação dos imóveis rurais privados localizados dentro dos limites da área. Treze anos mais tarde, o processo – no entanto – não foi finalizado.

No ofício, encaminhado ao ministro, a deputada federal defende o fim do Parque Nacional seja pelo cancelamento do decreto, ou pela sua alteração para Monumento Natural. É essa segunda possibilidade, que Aline Sleutjes (PSL) pretende apresentar ao ministro, Ricardo Salles, no dia primeiro. De acordo com o documento protocolado, os proprietários de terras inseridas na área da unidade de conservação estariam sofrendo restrições que desvalorizam os imóveis e dificultam o uso das terras para atividades do agronegócio.

Em sua rede social, a deputada chegou a mencionar propriedades em que há a extração de calcário. “Conversei com Ney Batista Rosas e seu genro Marcius a respeito do Parque Nacional dos Campos Gerais. O perímetro do parque atinge sua propriedade e restringe a atividade de mineração de calcário. Juntos vamos encontrar uma alternativa para que continuem com seu trabalho e preservem o parque”, afirmou.

A medida, no entanto, não se justificaria nesse caso, de acordo com Carlos Hugo: “É um retrocesso prático transformar uma unidade conservação, de Parque para um Monumento Natural – que tem uma importância menor”, evidencia.

Como o objetivo da preservação não é um ponto específico, como uma cachoeira, ou uma caverna, mas sim o conjunto natural da região, passando dos lugares pela vegetação e pela fauna, a classificação como Parque é um acerto, na visão do pesquisador. Para ele, falta um debate mais articulado entre as iniciativas públicas e privadas envolvidas, que poderiam transformar o Parque em uma oportunidade de renda e turismo, além de um exemplo de conservação e preservação.

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