Metade dos papagaios-de-cara-roxa vive em Pontal e Paranaguá

Pássaros podem voltar a correr riscos com a construção de Porto privado na região

O último censo do Projeto Conservação do Papagaio-de-cara-roxa (Amazona brasiliensis) registrou uma população de 7.493 pássaros no litoral do Paraná. Os números foram levantados em junho de 2019 e mostram que quase metade da espécie – cerca de três mil aves –  vive nos arredores de Pontal do Paraná e Paranaguá, região definida para receber um novo complexo portuário privado. A construção, segundo ambientalistas, representa uma ameaça à espécie, que recentemente saiu da lista de animais em risco de extinção e ainda consegue manter sua população estável por aqui.

Divulgado anualmente pela Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), o monitoramento conta com a participação de voluntários, entre moradores, pesquisadores, estudantes e conservacionistas. Neste ano, o trabalho organizou uma campanha de financiamento coletivo,  com mais de 40 doadores, entre eles o Parque das Aves. A união possibilitou cobrir toda a área de distribuição da espécie no Paraná. O estado concentra cerca de 80% da população do papagaio-de-cara-roxa, encontrado apenas entre o litoral do Paraná e o litoral sul de São Paulo, na região conhecida como Grande Reserva Mata Atlântica. Ela concentra os últimos dois milhões de hectares contínuos desse bioma no mundo.

O censo pode ser considerado um indicador de resultados das ações de conservação, já que registra os deslocamentos dos grupos e suas principais áreas de habitat e reprodução. Segundo o levantamento, os principais dormitórios da espécie são as áreas protegidas da Ilha Rasa da Cotinga (Reserva Indígena), a Ilha do Pinheiro, no Parque Nacional do Superagui, a Ilha Rasa, na Área de Proteção Ambiental (APA) de Guaraqueçaba, e a Estação Ecológica Ilha do Mel.

Aves vivem entre o litoral do PR e o litoral sul de SP. Foto: Projeto Conservação do Papagaio-de-cara-roxa

“Desde 2011, quando passamos a registrar uma população maior no Paraná, também passamos a contabilizar um número maior de papagaios descansando na Ilha da Cotinga e se deslocando para as planícies costeiras, o que demonstra que, para a recuperação dessa espécie, as planícies de Pontal do Paraná e Guaraguaçu (Paranaguá) são áreas fundamentais, pois fornecem alimento e cavidades para a construção de ninhos”, destaca a coordenadora do Projeto de Conservação do Papagaio-de-cara-roxa, Elenise Sipinski.

Anteriormente o papagaio-de-cara-roxa também habitava Santa Catarina, nos municípios de Itapoá e São Francisco, porém o último registro da ave na região foi feito em 1990. “A área de distribuição diminuiu ao longo dos anos. Na cidade de Guaratuba, que faz divisa com Santa Catarina, encontramos apenas 11 papagaios-de-cara-roxa neste ano. É um local onde a retirada de filhotes dos ninhos e a pressão urbana são muito fortes”, explica a coordenadora.

Segundo os ambientalistas, apesar da estabilidade da população, demonstrada com o censo, a possibilidade de desenvolvimento de empreendimentos no litoral paranaense – como o porto privado –  representa uma grande ameaça para a espécie. A região de Paranaguá e Pontal do Paraná concentra quase metade dos papagaios-de-cara-roxa, que se deslocam até a planície litorânea em busca de alimento. A construção do complexo portuário em Pontal afetaria cerca de três mil aves, além de gerar outros impactos ambientais e sociais na região, como a redução dos remanescentes de Mata Atlântica próximos à Ilha do Mel.

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