Médicos atendem sem prontuário no Hospital de Clínicas de Curitiba

Problema se deve à falta de funcionários no Servido de Arquivo Médico e Estatística (SAME). Redução no quadro de trabalhadores da Funpar já chega a 76%

As demissões não param. Com o fim do prazo judicial para o desligamento de todos os funcionários da Fundação da Universidade Federal do Paraná (Funpar) que atuam no Hospital de Clínicas (HC) de Curitiba, os pacientes vêm sentindo o impacto da ausência dos servidores. As filas estão cada vez maiores. Nesta semana, os atendimentos nos ambulatórios precisaram ser realizados sem os prontuários médicos, pois não havia quem os retirasse, já que são todos em papel.

A informação a que o Plural teve acesso foi repassada internamente às unidades assistenciais. O comunicado diz que “não será possível retirar os prontuários para consultas de todos os ambulatórios, devido à redução de 76% do quadro de pessoal da Funpar no Servido de Arquivo Médico e Estatística (SAME)”. Este, por sua vez, fará a “priorização para ambulatórios especializados”.

O texto cita, então, 171 especialidades médicas atendidas nos 29 ambulatórios do HC, para as quais os médicos precisarão atender sem um de seus principais instrumentos de trabalho: o prontuário. Nele, estão todas as informações sobre o paciente, seu histórico, exames, doenças, alergias, consultas e tratamentos já realizados.

“Está tudo anotado lá. No sistema do hospital não tem nada sobre o paciente; só serve pra pedir exame. O histórico, que são os prontuários, são todos em papel e ficam em outro prédio. Quando tem consulta, separam e encaminham; mas isso não tem acontecido nos últimos dias”, conta um dos médicos do SAM, que preferiu não se identificar. “Hoje começamos do zero e assim é difícil atender pois os pacientes têm diagnósticos complexos aqui e muitos nem sabem dizer as doenças que têm”, ressalta o médico.

Funcionários de outros setores também já sentem a precarização do trabalho. “O atendimento está muito demorando, as filas estão longas, os pacientes sofrem e acabam descontando nos funcionários. Mas não estamos dando conta. Não houve um preparo para as demissões, sentimos muito a falta desses trabalhadores, que são um patrimônio humano do CHC e agora o serviço está ficando precarizado”, destaca Carlos Alexandre Torres Garcia, técnico administrativo no HC.

Filas estão cada vez maiores nos ambulatórios. Foto: Sinditest

Falta Gestão

De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores em Educação das Instituições Federais de Ensino Superior no Paraná (Sinditest-PR), uma reunião na tarde de hoje (5) tentou amenizar os problemas no atendimento, mas sem muitos avanços. “O HC precisa emitir, ao menos, um comunicado para a população esclarecendo porque a situação está dessa forma. A culpa disso não é dos trabalhadores que estão na ponta, fazendo a atendimento, mas sim da falta de planejamento e gestão da Ebserh (que administra o HC), que já sabia que isso iria acontecer”, diz o coordenador-geral do sindicato, Daniel Mittelbach.

De concreto, ele aponta que a Superintendência do HC reafirmou a esperança na celeridade do processo licitatório, para terceirizar as funções administrativas exercidas pelos trabalhadores demitidos da Funpar. “Acreditam que poderão contar com esses terceirizados já a partir de janeiro e que, até lá, vão diminuir as consultas e remanejar pessoas de outros setores para ajudar no que for possível.”

Atendimentos mantidos

Ninguém da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) nem do HC quis dar entrevista. Em nota, o Complexo Hospital de Clínicas afirmou que “manteve seu atendimento à sociedade, apesar de diversas situações que afetam o bom atendimento dos Hospitais”.

“O Complexo está trabalhando para gerenciar os altos índices de absenteísmo; redistribuindo atividades de recentes pedidos de exoneração e aposentadoria; readequando as jornadas de trabalho; finalizando um processo para terceirização de cargos extintos; aguardando nomeação de concurso que está em andamento; e alterando o fluxo de processos. Nenhum ambulatório deixou de prestar atendimento no HC. Também não tivemos nenhuma notificação de pacientes que não foram atendidos”, garante o texto.

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