Há três graves ameaças ao meio ambiente no Congresso. Veja como votam os deputados do Paraná

Maioria dos deputados paranaenses são favoráveis a projetos de lei que destroem políticas ambientais brasileiras

Três projetos de lei em discussão na Câmara dos Deputados ameaçam o meio ambiente: a abertura de estradas nos parques nacionais e demais unidades de conservação; a expansão de terras cultiváveis na Amazônia; e a mineração em terras indígenas. Duas dessas propostas tramitam em regime de urgência, e a terceira está pronta para ir a plenário.

Abertura de estradas em parques nacionais

O autor do projeto é o deputado paranaense Vermelho, do PSD, mesmo partido de Ratinho Jr. Eleito pela região de Foz do Iguaçu, ele propôs a lei para burlar uma discussão já superada em âmbito judicial. O texto altera a lei 9.985/2000 e prevê a criação de uma nova categoria de unidade de conservação, a chamada “estrada-parque”, que, na prática, permite que estradas cortem quaisquer unidades de conservação no país – começando pela Estrada do Colono, que corta o Parque Nacional do Iguaçu.

Em 2001, o Supremo Tribunal Federal decidiu pelo fechamento da Estrada do Colono por considerá-la ilegal e inútil. Além disso, a peritagem judicial atestou que o tráfego de veículos propiciaria o “efeito borda”, facilitando o desmatamento ilegal do parque. Haveria ainda um expressivo aumento da caça ilegal (que já ocorre), contrabando, tráfico de drogas e animais silvestres. Mas o deputado Vermelho insiste em construir uma nova via, abrindo também precedente para que os mais de 2 mil parques do país sofram o mesmo. O deputado também é dono de uma
usina de asfalto na região.

Em junho, 27 dos 30 deputados paranaenses votaram um requerimento de urgência para o projeto, que teve aprovação de 315 votos a 138. A discussão, indevidamente acelerada no Congresso, é a mesma que levou décadas e
passou por todas as instâncias judiciais, com o agravante de que agora, para não ser chamado de casuístico, o PL de Vermelho afeta todos os parques nacionais.

Na votação pela urgência do PL 984, 18 deputados paranaenses votaram pelo sim, nove foram contrários e três não votaram. Agora o PL pode ser aprovado na volta do recesso parlamentar, em agosto, possibilitando um dano incalculável, pois é praticamente certo de que nossos parques serão parcialmente destruídos, já que atualmente não há meios de fiscalizá-los devidamente, mesmo sem obras no seu interior.

FAVORÁVEISCONTRÁRIOSNÃO VOTARAM
Hermes Parcianello MDBRubens BuenoCidadaniaGiacobo PL
Sergio Souza MDBGustavo Fruet PDTReinhold Stephanes JuniorPSD
Roman PatriotaAliel Machado PSBPedro Lupion DEM
Christiane de Souza Yared PLLuciano Ducci PSB
Luiz Nishimori PLEnio Verri PT
Diego Garcia PodemosGleisi Hoffmann PT
Ricardo Barros PPZeca Dirceu PT
Toninho Wandscheer PROSBoca Aberta PROS
Paulo Eduardo Martins PSCLeandre PV
Sargento Fahur PSD
Vermelho PSD
Rossoni PSDB
Aline Sleutjes PSL
Felipe Francischini PSL
Filipe Barros PSL
Luisa Canziani PTB
Aroldo Martins Republicanos
Luizão Goulart Republicanos

Marco temporal e mineração em Terras Indígenas

Há 14 anos em discussão, o projeto proposto pelo ex-deputado federal Romero Pereira (PR/MT) prevê restringir a demarcação de Terras Indígenas (TIs) àquelas que foram demarcadas até a exata data da promulgação da Constituição Federal (5 de outubro de 1988). Este marco temporal não leva em consideração a expulsão de povos indígenas de suas terras, que só puderam reavê-las depois deste marco, ou que ainda esperam por regularização. O projeto altera
o Estatuto do Índio (lei federal 6.001/1973) e já agrega outros 13 projetos de lei, todos com proposições similares.

Além de exigir destes povos a comprovação de posse das terras até o marco temporal, o texto pretende permitir que terras já demarcadas tenham seu perímetro revisto, ou seja, reduzido, caso haja “interesse público” sobre elas. O
governo poderia explorar essas terras com atividade de mineração, por exemplo, contratando empresas que fariam, elas próprias, contato com as aldeias. A situação é gravíssima: cerca de 114 povos indígenas vivem isolados. Além disso, terras já demarcadas não seriam ampliadas, favorecendo o agronegócio e a prática da grilagem.

O deputado Diego Garcia (PODEMOS-PR), que se intitula “deputado da família”, com certeza não é deputado das famílias indígenas. Em seu site oficial, está publicado o artigo 226 da Constituição Federal que protege a família como base social. No entanto, o deputado não leva em conta que a mesma CF assegura aos povos indígenas as terras por eles tradicionalmente ocupadas, para proteção de suas famílias. No art. 231: “São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam”. Também defensor “da família e das crianças”, Filipe Barros (PSL) votou favorável. Ainda votaram sim na CCJ Luizão Goulart (REPUBLICANOS) e Reinhold Stephanes Junior (PSD). Em seu site oficial, Stephanes posa ao lado de cães e se chama “defensor da causa animal”.

Parte dos 13 PLs que tramitam juntamente com o de número 490 teve aprovação da Comissão de Constituição e Justiça e Cidadania (mais conhecida como CCJ), que decidiu que o texto segue para ser votado em plenário, por 40 votos a 21. Dos deputados paranaenses, seis votaram na comissão, sendo 4 favoráveis.

FAVORÁVEISCONTRÁRIOS
Diego Garcia – PodemosGleisi Hoffmann – PT
Filipe Barros – PSLRubens Bueno – Cidadania
Paulo Eduardo Martins – PSC
Luizão Goulart – Republicanos
Stephanes Jr – PSD

“PL da Grilagem”

O projeto, de autoria de Zé Silva (SOLIDARIEDADE/MG), altera normas de ocupação de terras públicas federais e legaliza ocupações irregulares. A pressa de votação é puxada pela bancada ruralista, com apoio do presidente da
Casa, Arthur Lira (PP-AL). Por vezes, desde junho deste ano, Lira propôs votação do requerimento de urgência para o projeto, tendo êxito no último 13 de julho. O requerimento foi aprovado com 330 votos a 109, sendo duas abstenções, mas a votação do projeto não ocorreu antes do recesso do meio do ano. O PL 2633 teve apoio de 21 deputados paranaenses.

FAVORÁVEISCONTRÁRIOSNÃO VOTARAM
Aline Sleutjes PSLEnio Verri PTAliel Machado PSB
Aroldo Martins RepublicanosGleisi Hoffmann PTBoca Aberta PROS
Christiane Yared PLGustavo Fruet PDTReinhold Stephanes Junior PSD
Diego Garcia PodemosLuciano Ducci PSBPedro Lupion DEM
Felipe Francischini PSLZeca Dirceu PT
Filipe Barros PSL
Giacobo PL
Hermes Parcianello MDB
Leandre PV
Luisa Canziani PTB
Luiz Nishimori PL
Luizão Goulart Republicanos
Paulo Eduardo Martins PSC
Ricardo Barros PP
Roman Patriota
Rossoni PSDB
Rubens Bueno Cidadania
Sargento Fahur PSD
Sergio Souza MDB
Toninho Wandscheer PROS
Vermelho PSD

Se aprovado, haveria ampliação de dispensa de vistoria prévia para titular médias e grandes propriedades rurais, o que beneficia quem desmata. Proprietários também ficariam livres de vistoria para regularização ambiental em propriedades onde não houve auto de infração antes da titulação. O PL 2633 surgiu a partir da medida provisória 910/2019, que perdeu a validade em maio de 2020 e que propunha o aumento da área de seis para 15 módulos fiscais para dispensar o proprietário de vistoria prévia. Bastaria a declaração do ocupante para regularizar terras griladas da União. Isso faria com que inúmeros casos de roubo de terras na Amazônia fossem legitimados. No texto do projeto de lei, o autor baixou novamente a medida de 15 para seis módulos fiscais, o que pode mudar de acordo com a discussão na Câmara

A bancada ruralista, interessada na aprovação do PL, tem nome e peso no Paraná. A deputada Aline Steutjes (PSL) é atual presidente da comissão Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural e deu seu voto
para a ampliação de áreas destinadas ao agronegócio. O deputado Vermelho (PSD), proponente de rodovias no meio de unidades de conservação, também votou para a urgência da nova regularização fundiária. Paradoxalmente, a
deputada Leandre, do Partido Verde, e o deputado Rubens Bueno, do Cidadania, são contrários à urgência do PL da estrada-parque, mas têm pressa para novas normas de regularização de terras.

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