Estudantes preparam abaixo-assinado para pedir turmas noturnas de 1º ano no João Bettega

Atualmente Colégio João Bettega não tem o 1º ano e direção se preocupa com alunos que trabalham durante o dia

Estudantes do Grêmio “Todos Temos Voz”, do Colégio Estadual João Bettega, em Curitiba, preparam um abaixo-assinado para pedirem abertura de mais turmas de Ensino Médio no período noturno. A preocupação é com os colegas que trabalham e não podem estudar no formato integral. Atualmente a escola não tem turmas de 1º ano à noite.

De acordo com a presidenta da Grêmio, a estudante Camille Victória de Oliveira Campos, de 17 anos, os alunos já conversaram com a direção da escola e devem encaminhar o abaixo-assinado para a Secretaria Estadual de Educação (Seed).

“Eu mesma já conheci vários colegas que precisaram parar de estudar por causa do trabalho. No integral, por exemplo, começamos com 20 a turma e depois ficamos com onze, porque alguns arrumaram emprego. Aí tem que fazer a escolha ou estuda e passa necessidade ou vai trabalhar”, lamenta.

No Paraná há 142.041 alunos com 15 anos, 134.390 com 16 anos e 107.279 com 17 anos na rede pública de ensino. Deste total são 18.549 com 15 anos, 17.398 com 16 anos e 14.418 com 17 anos em Curitiba.

Educadores também estão preocupados. Para a diretora-auxiliar da escola, professora Cynthia Werpachowski, a redução da oferta de vagas no período noturno pode aumentar a evasão escolar.

“A longo prazo isso pode causar muitos problemas. Primeiro na qualificação desses alunos, que também reflete na renda. Então mesmo que a implementação do Novo Ensino Médio seja necessária, também precisamos pensar nos alunos que trabalham. Se eles param de estudar aos 15 só podem ir para o EJA (Educação de Jovens e Adultos) aos 18, e a chance disso acontecer é pequena”, observa a educadora.

Novo Ensino Médio

Em 2017 houve alteração na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que mudou a estrutura do Ensino Médio. As horas de aula passaram de 800 para mil com implementação até 2022.

A ideia do Ministério da Educação era “ofertar diferentes possibilidade de escolhas aos estudantes”.

No entanto, a pandemia da Covid-19 teve impacto direto no orçamento das famílias, principalmente as mais pobres. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2019, mais de 1,7 milhão de crianças e adolescentes de 5 a 17 anos estavam em situação de trabalho infantil. Os números não incluem adolescentes que trabalhavam legalmente no País, por meio de contrato de aprendizagem.

Em Curitiba, conforme dados do programa “Anjo da Guarda”, entre setembro de 2020 a abril de 2022, as equipes fizeram 5.032 abordagens sociais que envolveram violação de direitos contra crianças e adolescentes. O número se refere a situações de trabalho infantil e não de crianças e adolescentes nesta condição, o que significa que a mesma pessoa pode ter sido abordada mais de uma vez.

“Essas pessoas que precisam trabalhar não podem ficar sem aula, por isso a gente vai entregar o documento para o senador Flávio Arns (Podemos) e para o secretário (Renato Feder)”, defende Camille.

A implementação do Novo Ensino Médio ocorre gradativamente. Neste ano as turmas do 1º ano passam pela mudança e assim sucessivamente até 2024.

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