Em dois anos, 65 crianças de até 5 anos morreram em decorrência da covid-19 no Paraná

Foram 22 mortes causadas diretamente pelo vírus e 43 pelo agravamento de outras doenças entre 2020 e 2021, segundo estudo do Observa Infância, da Fiocruz

O Paraná teve 65 mortes de crianças de até 5 anos de idade em decorrência da covid-19 entre 2020 e 2021, mostra um levantamento feito pelo Observa Infância, ligado ao Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Segundo o estudo, em todo o país foram 1.439 mortes, média de duas por dia.

O levantamento, feito com base nos dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), indica as mortes em que a causa básica foi a covid-19 e os casos em que a doença levou ao agravamento de outros quadros. No Paraná, foram 22 mortes que tiveram a covid-19 como causa direta (duas em 2020 e 20 em 2022) e 43 em que a doença agravou algum quadro (quatro em 2020 e 39 no ano passado). Em Curitiba foram 11 mortes nos dois anos (cinco causadas diretamente pela covid-19 e seis pelo agravamento de outro problema de saúde).

Segundo Cristiano Boccolini, um dos coordenadores do Observa Infância, a faixa etária de 0 a 5 anos passa a ficar mais exposta à medida em que o restante da população é vacinada e reduz as medidas de proteção. Dados preliminares, divulgados pelo Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, indicam que a média de duas mortes por dia vem sendo mantida em 2022 (291 mortes de janeiro a 13 de junho).

“Com o aumento da cobertura vacinal era de se esperar que essas crianças ficassem mais protegidas, mas a vacinação diminui a gravidade dos sintomas, não a circulação do vírus. Com o fim das medidas protetivas, acabamos expondo mais as crianças”.

Cristiano Boccolini, pesquisador e coordenador do Observa Infância, ligado à Fiocruz

O ideal seria iniciar a vacinação desta faixa etária (ainda não há previsão, segundo o Ministério da Saúde) ou imunizar pelo menos 95% de toda a população, afirma Boccolini. “Com 95% teria diminuiria muito a circulação do vírus e poderia interromper a transmissão. Como foi interrompida, durante um bom tempo, a transmissão do sarampo. Mas desde 2016 nenhum estado consegue atingir a cobertura do calendário nacional básicos e o vírus está voltando a circular”. Em oito países a vacina já é aplicada em crianças de 3 a 5 anos (os Estados Unidos começaram neste mês).

Desigualdades regionais

A taxa de mortalidade do Paraná (número de mortes em relação ao número de 100 mil crianças) foi a terceira menor do país, à frente apenas de Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul. As regiões Norte e Nordeste tiveram as piores taxas (0,44 e 0,42 mortes por 100 mil crianças nesta faixa etária, respectivamente). A taxa da região Centro-Oeste foi de 0,19; a da região Sudeste, 0,17; e a região Sul, de 0,14.

“O Nordeste concentra menos de 30% da população brasileira, mas tem metade dos óbitos. Alguma coisa está acontecendo lá, algo no gerenciamento da pandemia ou na oferta do serviço de saúde”, disse Cristiano Boccolini. “A distribuição de leitos de UTI pediátricos e neonatais é extremamente desigual no Brasil. O que a gente vê pode ser um reflexo disso”.

Segundo dados do Unicef, coletados até junho deste ano, 91 países monitoram os índices de covid-19 nesta faixa etária e registraram um total 5.376 mortes de crianças de 0 a 5 anos em decorrência da doença. O Brasil responde por 20% dessas mortes. “Se comparamos Brasil e Estados Unidos, a taxa de mortalidade do Brasil é três vezes maior. E aqui ainda temos essas imensas desigualdades regionais”, afirmou Cristiano Boccolini. O estudo será publicado na Revista de Saúde Pública, ainda sem data definida.

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1 comentário em “Em dois anos, 65 crianças de até 5 anos morreram em decorrência da covid-19 no Paraná”

  1. Pois é… “diretamente” e sob “influência”. Se contestar vc é um negacionista. Quem define o que é cada um desses estados? Pois é…

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