Em Curitiba, Stedile alerta sobre risco climático e critica Lula por não brigar com agro

Líder do MST diz que plantio de soja continua causando desmatamento e que governo precisa ser mais incisivo

“Nunca como hoje as mudanças climáticas estão afetando o dia a dia da população mundial.” Este foi o diagnóstico traçado pelo líder do MST João Pedro Stedile, que participou na manhã deste sábado (25) em Curitiba da quarta Jornada da Agroecologia, que vai até este domingo, no campus Rebouças da UFPR.

Stedile fez uma intervenção no palco principal para alertar sobre os riscos das mudanças climáticas que o mundo está enfrentando e não poupou das criticas nem o governo Lula, que fez do respeito ao meio ambiente uma de suas bandeiras na ultima campanha eleitoral. “Nós temos que ficar calados porque Lula é um de nós? Não, porque como se diz, se eu me calo também as pedras falarão”. O líder do MST se referiu ao Presidente Lula em relação à preservação da Amazônia. 

“É inegável que, graças à ministra Marina Silva, foi registrada uma queda do 30% no desmatamento da maior mata do mundo. Mas os mesmo tempo se continua desmatando onde há cultivos de soja. Tudo isso porque se fala que não podemos brigar com o agronegócio”, afirmou Stedile, insinuando que até agora o governo não interveio de maneira decisiva para reduzir o uso de agrotóxicos.

“Estamos usando agrotóxicos como nunca. Quem usa estes produtos está matando a biodiversidade e é um criminoso, porque sabe que está matando seres vivos. A maior parte deste veneno não se dissolve na natureza e continua contaminando porque evapora e recai na terra quando chove”, continuou o líder do MST, criticando também as mídias tradicionais que conseguem convencer boa parte da população de que os agrotóxicos não prejudicam a saúde e são fundamentais para a agricultura brasileira. “O grande uso de agrotóxicos na nossa agricultura determinou que 67% da cidades ofereçam água potável com uma percentual de glifosato que não é permitida na maioria dos países do mundo”, declarou Stedile.

Por outro lado, o representante do MST criticou a postura com que a delegação brasileira irá para Cop 28 no final deste mês. “O governo Lula está iludido com o crédito de carbono? Quem vai comprar este crédito na Cop em Dubai?”, perguntou retoricamente Stedile ao público que acompanhou sua fala no palco principal da feira. 

Stedile deixou claro na sua fala que a responsabilidade pelo desastre climático é de todos os governos, sejam de esquerda ou direita: “Parece que quem entra no governo cresce a sua língua e para de ouvir as vozes criticas.” De acordo com a visão de Stedile, a crise do clima está estritamente ligada à crise que está vivendo o capitalismo, com os capitais ainda mais concentrados nas mãos de menos pessoas: “A maioria deste capital hoje é um capital fictício, porque não é investido na produção mas faz parte da grande especulação financeira”. Uma prova disso, segundo Stedile, seria também a grande especulação imobiliária que se pode ver também em São Paulo. “Não é dinheiro para viver mas para transformar dinheiro fictício em patrimônio.”

Para concluir, o líder do MST denunciou a situação do povo indígena ianomâmi em Roraima. “Durante o governo do Capitão Rachadinha, 20 mil garimpeiros invadiram este território em busca do ouro e a grande mídia começou falar sobre isso apenas quando o Presidente Lula mandou as Forças Armadas. Agora a maior parte dos garimpeiros já saiu daquela região, mas quem os financiou? Sabemos que há grandes empresas estrangeiras por trás deles”. Para Stedile não está claro quantos indígenas morreram por conta da atividades dos garimpeiros mas é possível saber qual foi o resultado: “Os rios foram contaminados com mercúrio e agora quase o 30% dos peixes que são vendidos nos mercados de Manaus e Belém estão contaminados também”.

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