“Eles já chegaram atirando. Três inocentes foram atingidos”, diz baleada em ação da GM no Largo

Ela foi socorrida no Hospital Universitário Evangélico Mackenzie e teve alta nesta terça-feira (14)

No último sábado (11), uma ação da Guarda Municipal de Curitiba para apartar um tumulto que ocorria no Largo da Ordem deixou duas pessoas feridas, além de Mateus Silva Noga, de 22 anos, que morreu após ser atingido por diversos tiros. Agora, o Plural conta a história de Fernanda*, autônoma de 31 anos que estava no local para se divertir com os amigos, mas saiu com uma bala no ombro.

Rua Trajano Reis, número 21. Era no Bar Tragos Largos que Fernanda estava com os amigos quando um grupo de jovens chegou para se enturmar. Todos começaram a conversar e logo ela descobriu o nome de dois dos garotos: Mateus Noga e Deivison Novaski. “Ele [Mateus] estava todo empolgado falando que iria para casa cedo porque no dia seguinte iria ficar com o filho.”

Naquele momento, Fernanda percebeu o início de uma confusão e logo viu diversas pessoas correndo pelas ruas. O grupo se apressou a sair do bar, passando a integrar a multidão em trânsito acelerado. O relógio marcava 22h30. “Saímos juntos, eu inclusive estava do lado do Mateus. Nisso eu senti que tinha levado um tiro. Daí não vi mais nada.”

Fernanda nunca entendeu o porquê dos tiros disparados pela Guarda. No momento que foi acertada pela bala calibre 12 no ombro direito, um amigo a puxou para o canto da rua, a separando de Mateus e do resto do grupo. “Eu não estava aguentando nem andar, estava com muita dor, cheia de sangue. Eu fiquei com medo, queria fugir porque achei que teriam mais tiros. Quando eu vi o sangue escorrendo percebi que era um tiro de verdade”, relata.

A prima da moça, que também estava no local, ajudava Deivison e Mateus no momento do tiroteio. Quando soube que Fernanda estava machucada, correu para acompanhá-la na ambulância. Foi no veículo do Serviço Integrado de Atendimento ao Trauma em Emergência (Siate) que Fernanda soube que, além dela, outras duas pessoas haviam sido atingidas, inclusive Mateus.

Enquanto o rapaz de 22 anos foi levado ao Hospital do Trabalhador, Fernanda e a outra vítima, uma menina de 14 anos, foram encaminhadas ao Hospital Universitário Evangélico Mackenzie. Lá, Fernanda soube que a garota havia levado três tiros, mas não sofria risco de morte.

Perto das 23h, Fernanda foi conduzida a uma cirurgia de emergência. Os médicos, no entanto, não conseguiram retirar o projétil, que continua alojado no ombro da vítima. “Não foi de raspão, a bala está parada no meu ombro. Não teve como tirar. Mas lavaram e deram quatro pontos.”

Segundo a moça, a Guarda Municipal a acompanhou ao hospital na esperança de que ela saísse logo para depor sobre o acontecimento. “Eles estavam esperando eu sair, mas estava muito machucada, com dor, precisava fazer uma cirurgia, não tinha como sair. Eles ficaram indo lá todos os dias atrás de mim.”

Apesar da alta recebida nesta terça-feira (14), Fernanda não poderá passar muito tempo longe do hospital. Como a bala permanece em seu corpo, ela terá que retornar em um mês para fazer acompanhamento. “Falaram que se eu sentir dor ou desconforto é para voltar antes, mas disseram que a bala vai ficar, não tem risco nenhum.”

Ainda nesta terça (14), Fernanda disse ter recebido uma intimação para comparecer na delegacia para prestar depoimento, mas afirmou que só irá daqui dois dias.

“Eu não tenho nem como descrever, foi super errado. Eles já chegaram atirando. Três pessoas inocentes foram atingidas, uma morreu. Foi super desnecessário isso. Eles disseram que eram armas não letais, mas se fossem não tinha acontecido isso”, avalia.

Fernanda ainda não consegue movimentar o braço e lamenta não ter comparecido ao velório de Mateus nesta segunda-feira (13). “Eu e o Mateus nos conhecemos lá, mas eu senti muito pelo o que aconteceu. Ele era uma pessoa tão legal e pude perceber isso só pelo pouco tempo que conversamos. Não vou deixar isso quieto. A pessoa sai para curtir, espairecer e passa por um lugar que está tendo uma confusão e acaba sendo atingida sem ter culpa de nada, sem nem saber o que está acontecendo”, afirma.

O que diz a Guarda Municipal

De acordo com a Guarda Municipal de Curitiba, os oficiais foram chamados para conter uma briga envolvendo diversas pessoas no Largo da Ordem. Chegando lá, os guardas foram recebidos por garrafas de vidros sendo arremessadas e, por isso, teriam reagido.

Conforme a corporação, a Corregedoria da Guarda Municipal abriu uma investigação para apurar fatos e circunstâncias. O caso também está sendo investigado pelo Ministério Público do Paraná e pela Polícia Civil.

Em coletiva nesta segunda-feira (13), o comandante da GM, Carlos Santos Júnior, informou o afastamento do guarda municipal que teria disparado os tiros no Largo da Ordem.

Leia a nota da Guarda Municipal na íntegra

A Guarda Municipal de Curitiba lamenta o falecimento de um jovem de 22 anos ferido por arma de fogo após uma confusão generalizada registrada na Rua Trajano Reis, no fim da noite deste sábado (11/9).

Uma equipe da GM foi acionada para conter uma briga envolvendo diversas pessoas na Trajano Reis. De acordo com relato dos guardas que atenderam a ocorrência, no local estavam aproximadamente 300 pessoas, grande parte consumindo bebida alcoólica e sem respeito ao distanciamento e ao uso de máscara. Ao chegar ao local, várias garrafas de vidro foram arremessadas contra os profissionais, que reagiram à injusta agressão.

Outras duas pessoas ficaram feridas: uma adolescente de 14 anos e uma mulher de 31. Os guardas prestaram socorro e acionaram o Siate.

Tão logo teve conhecimento do ocorrido, a Corregedoria da Guarda Municipal deu início à investigação para apurar fatos e responsabilidades. O procedimento vai apurar eventuais irregularidades, com as devidas providências previstas em regimento interno da corporação  e demais legislações inerentes à matéria. A sindicância administrativa tem prazo legal estabelecido de 15 dias, prorrogáveis por mais 15. No entanto, a Corregedoria pretende terminar a sindicância o mais rápido possível, a depender do recebimento de documentos essenciais, como o laudo do Instituto Médico-Legal (IML), para o esclarecimento integral dos fatos.”

*Nome fictício foi utilizado para preservar a identidade da fonte.

Reportagem sob orientação de João Frey

Sobre o/a autor/a

5 comentários em ““Eles já chegaram atirando. Três inocentes foram atingidos”, diz baleada em ação da GM no Largo”

  1. Olá eu estava presente no local, e tudo oq eu posso dizer, principalmente da nota da GM, e q a maior parte e mentira, não teve briga generalizada, não teve nem briga, era só um cara jogado no chão em posição fetal, levando chute de mais 5, ” não tenho certeza do motivo da discussão ” nesse mesmo momento, a viatura chegou, desceram os policiais, quem estava na briga saiu correndo, até o cara q tava apanhando, na hr em q os policiais estavam retornando para a viatura, um infeliz jogou uma garrafa na direção, só uma nada mais, o policial já foi em direção gritou algo e já fez o disparo, depois de descer calmamente pelo cavalo babão, eles foram socorrer a pessoas

  2. O Secretário Municipal da Segurança Pública não tem nada a dizer??
    O prefeita de Curitiba nomeou o chefe da Guarda Municipal?? Eles são mesmo de MATAR!
    Como se não bastasse o velho hábito da PM do Paraná em espancar professoras e idoso, agora vem a quadrilha da prefeitura autorizando a Guarda Municipal a fuzilar cidadãos nas praças…
    O povo deve se armar com a máxima urgência; guerra será guerra!

  3. Que horror! A cidade se desfazendo, aos tiros.

    A barbárie da polícia que atira e tira a vida, em pleno Largo da Ordem.

    E assim Curitiba vai se metamorfoseando em lugar de morte e desdém.

    Aqui, transtornado, revendo um conto de Dalton Trevisan. O título é “Ricardo seu nome”. Ao final, o parágrafo:

    “Dois ou três minutos ao pé do túmulo da família. Tudo acabado: ele tinha o resto da vida para se lembrar.”

    É isso. Uma cidade que vê morrer (e que mata) seus filhos tem o resto da vida pra se lembrar.

    Ai.

  4. Pastor Jorge Nunes

    Infelizmente a guarda municipal está muito mal treinada e esse tipo de ocorrência deve ser por polícias cidadã que possa não só conter A confusão , mas ajgir no rigor da lei para salvar vidas e não me atar, ninguém tem o direito de matar eles são pago para proteger e atuar com responsabilidades e tumulto de distúrbio social e com preferência com armas não lentais.

    Pastor Jorge Nunes
    PCDOB CURITIBA
    Presidente da Associação de Moradores AMIGOS DO Bairro de Cachimba AMACACH
    Whastapp 41 99261-0191

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