Curitiba gasta com apostilas “desnecessárias” da Educação Infantil

Cidade aderiu a compra de livros para educação infantil do Ministério da Educação, mas obras não dialogam com metodologia usada nos CMEIs

Os Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs) de Curitiba receberam em 2020, 2021 e 2022 lotes de livros do Programa Nacional do Livro Didático voltados a Educação Infantil. As obras deveriam dar suporte à mudança, por iniciativa do governo federal, na política nacional de alfabetização. Mas estão empilhadas sem uso nas instituições curitibanas.

A falta de uso, o Plural apurou, se deve à falta de relação do material com a formação e prática dos CMEIs da cidade. A política educacional curitibana na educação infantil prioriza o brincar, o desenvolvimento de habilidades sociais e a exploração do ambiente. Além de prever o processo de alfabetização no decorrer do ensino infantil até a 3ª série do ensino fundamental.

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Como o Plural já noticiou, o governo Bolsonaro criou, por decreto, uma política de alfabetização que não considera a que foi construída nos últimos 40 anos pelo sistema composto não só pelo Ministério, mas também pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), secretarias estaduais e municipais de educação, e conselhos estaduais e municipais de educação.

A nova política prioriza a alfabetização nos primeiros anos da infância, enquanto a atual prática escolar prevê um processo que se estende até o terceiro ano do Ensino Fundamental. Também prioriza o uso da metodologia fônica, estratégia criticada por especialistas da área. Em Curitiba, apesar da adesão a compra de livros para a Educação Infantil, a política e a formação dos docentes da rede municipal permaneceu inalterada.

Educadores ouvidos pelo Plural disseram não ter recebido orientação nem formação para inclusão das obras na rotina escolar. Vários disseram ter se oposto a aquisição justamente por não vislumbrar uso do material na atual prática escolar de Curitiba. A administração municipal, porém, seguiu com a adesão ao programa e a aquisição das obras, a despeito disso. Como consequência, os livros permanecem parados nas unidades escolares.

Apesar do desperdício da compra de livros que não serão usados, todos os educadores ouvidos pelo Plural disseram achar melhor do que interferir no trabalho dos instituições de ensino e a imposição de uma metodologia a despeito da formação de décadas da equipe docente em outras estratégias de ensino.

Quantidade insuficiente

Além do descompasso entre as obras compradas e prática dos professores da educação infantil de Curitiba, outro problema afeta a adesão ao uso dos livros. A quantidade adquirida e entregue aos CMEIs da cidade é inferior ao total de alunos matriculados.

É o caso de um CMEI que tem mais de 160 alunos e 10 professores, mas recebeu apenas 2 obras para docentes e 56 livros didáticos. Outro CMEI tem cerca de 195 alunos entre maternal e pré e 9 professores. A entrega feita pelo PNDL na instituição foi de 182 obras para crianças e 6 para docentes.

Com a diferença entre o número de alunos e o de livros, os professores temem que, caso o uso das obras seja exigido, o princípio de isonomia seja desrespeitado.

Segundo dados do Governo Federal, 346 entidades de ensino do município receberam obras da educação infantil dentro do PNLD em Curitiba. Dessas, 101 são instituições privadas que também foram contempladas. Em alguns casos, as escolas receberam dois livros, independente do número de estudantes matriculados.

No Paraná todo foram gastos quase meio milhão de reais na aquisição de livros para a educação infantil em 2020 e 2021. O Plural não conseguiu os dados atualizados de 2022, mas a quantidade de obras foi maior este ano.

O Plural entrou em contato com a Secretaria Municipal de Educação (SME) para pedir que ela se manifestasse sobre o assunto, principalmente sobre a existência de formação específica para uso das obras e o uso delas nos CMEIs, mas até o fechamento dessa reportagem não havia recebido resposta.

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