Designer põe o feminismo no peito das brasileiras

Pouca gente fez mais pela disseminação do feminismo no Brasil do que a designer Karina Gallon. Ela tem no currículo a estampa que já figurou no peito de Roger Waters, Angela Davis, Manuela D’Ávila e a viúva de Marielle Franco, […]

Pouca gente fez mais pela disseminação do feminismo no Brasil do que a designer Karina Gallon. Ela tem no currículo a estampa que já figurou no peito de Roger Waters, Angela Davis, Manuela D’Ávila e a viúva de Marielle Franco, a urbanista Mônica Benício. É dela a marca curitibana Peita, que produz camisetas com frases feministas desde 2017 e que vendeu 10 mil camisetas em 2018 em todo o Brasil.

A inspiração para o projeto veio em janeiro de 2017, quando milhares de mulheres ocuparam Washington DC, nos EUA, para protestar contra o governo de Donald Trump. “Pensei: isso precisa acontecer no Brasil. A gente precisa levar o feminismo para o cotidiano”, lembra.

Karina percebeu que o movimento tinha boas frases e que havia um “desejo de expressão” por parte das mulheres. O produto que ela idealizou se concretizou no dia 8 de março de 2017, na marcha das mulheres, em Curitiba. “Um amigo meu, que é tipógrafo, tinha uma oficina de serigrafia. Fizemos as camisetas e fomos para a marcha”, conta.

No fim da marcha, Karina já tinha inúmeras encomendas. Surgia a Peita. “Aí que eu fui pensar na cadeia, na estruturação da empresa”, diz. A fonte usada nas primeiras camisetas e que é criação do mesmo amigo que cedeu a oficina de serigrafia, permanece como marca da empresa até hoje.

Rede de mulheres

Obra da curitibana Maria Zefferina ilustra uma das paredes da sede da Peita. Foto: acervo Peita

Não é só nas mensagens impressas nas camisetas que a militância feminista de Karina aparece. A empresa é composta majoritariamente por mulheres, assim como as fornecedoras. “É uma puta rede de mulheres”, comemora Karina. Nas paredes da sede da empresa, no Bigorrilho, grafites e ilustrações de mulheres decoram o espaço.

O marketing da Puta Peita é quase totalmente espontâneo, fruto do que a designer vê como identificação das mulheres com a marca. “É comum uma cliente voltar de viagem sem as camisetas, porque foi distribuindo no caminho”, conta.

É mais ou menos isso que aconteceu com uma das principais garotas-propaganda da marca: a ex-deputada federal e ex-candidata a vice-presidência, Manuela D’Ávila (PCdoB). A primeira compra foi feita pelo site. “Acho que ela deve ter visto na rua, em Porto Alegre”, aposta. Quando identificou quem era a cliente, Karina resolveu colocar no pacote um bilhete e alguns cartazes.

Manuela D’Ávila

Aparição de Manuela D’Ávila no Roda Viva com uma camiseta Puta Peita alavancou as vendas. Foto: Karla Boughoff

Era da Puta Peita a camiseta que Manuela usou no Roda Viva, quando foi entrevistada como candidata à presidência pelo PCdoB. A aparição provocou um pico de vendas para a marca. Quando esteve em Curitiba, para o comício do ex-presidente Lula na praça Santos Andrade, em março de 2018, Manuela conheceu Karina num encontro promovido pela assessoria da então deputada.

Além da camiseta “Lute como uma garota”, carro-chefe da marca, Manuela usou outras estampas da Puta Peita durante a campanha, além de divulgar a empresa em suas redes sociais. “Ela foi muito gente boa”, elogia.

A proximidade, no entanto, fez muita gente pensar que a Puta Peita era uma marca da ex-parlamentar e que a camiseta era um material de campanha da chapa dela com o petista Fernando Haddad. Também fez as clientes pedirem camisetas com frases usadas por Manuela, mas que não são da Peita.

A confusão criou situações curiosas. No segundo turno da eleição de 2018, uma mesária de Curitiba, Cassia Bruel Moro, foi dispensada do trabalho por estar com a camiseta da marca. Ela teria sido denunciada por um fiscal de partido que considerou a roupa propaganda eleitoral. A Peita entrou em contato com Cassia e ofereceu assistência jurídica.

No dia seguinte, uma funcionária da Puta Peita, Vera Ramos, 60, foi agredida verbalmente na rua por estar com a mesma camiseta. Dois rapazes num carro teriam mandado Vera tirar a camiseta aos gritos, fazendo sinal de arma com as mãos e dizendo que ela era da “petezada”. “Achei um desrespeito”, declarou.

Marielle Franco

Outra notável que usa camisetas da Peita com frequência é a viúva da vereadora carioca Marielle Franco, assassinada em março de 2018, Mônica Benício. Logo após o crime, Karina produziu e enviou para a irmã de Marielle, Anielle, camisetas com a estampa “Lute como Marielle Franco”. “Foi uma forma de homenagem”, conta.

Meses depois Karina conheceu Mônica quando esteve na casa dela para gravar o minidoc “O que é lutar como uma garota?”.

Minidoc “O que é lutar como uma garota?”

Desde então a marca passou a abastecer Mônica com camisetas que são distribuídas por ela em eventos no Brasil e no exterior.

Trabalho social

Para Karina, o feminismo da Peita não está só nas camisetas vendidas. Para a designer, as frases estampadas no peito de milhares de pessoas “ajudam a começar um diálogo”, mesmo que quem compre nem entenda direito o que é que está vestindo. “Mesmo no site, não me importo se a pessoa entrar e não comprar nada. Quero que ela leia, se informe”, diz.

Além da divulgação de frases feministas, a Puta Peita também apoia causas sociais ligadas ao feminismo e ao público LGBT. A camiseta Meu corpo é político, por exemplo, tem parte da produção entregue para uma organização do Rio de Janeiro, a Casa Nem, que acolhe pessoas trans e travestis. A instituição fica com o valor integral do lucro das camisetas que recebe da marca. Ela também divulga um documentário de mesmo nome.

Teaser do documentário Meu Corpo é político

Em Curitiba, as camisetas da empresa patrocinam ações da ong Teto, o movimento negro no Parolin (ocupação urbana de Curitiba) e um grupo de curitibanas que viaja anualmente para o Haiti para trabalhar voluntariamente.

Onde comprar?

Balaio de Gato Brechó 
Pres. Carlos Cavalcanti, 450
seg à sex 10h -18h :: sáb 10h-16h
(41) 3092-5319 

Loja online: https://peita.me/collections/all

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