Cinco mulheres e uma tarefa: tornar o mundo mais justo

Grupo de mulheres responsáveis pelo Instituto Aurora oferece oficina para empoderar mulheres e tentar diminuir a violência de homens na periferia

Antes de fazer 30 anos, Michele Bravos já tinha feito coisas suficientes para encher páginas e páginas de currículo. Só para citar alguns pontos altos, tinha feito estágio na ONU, viajado para a Jordânia para ajudar refugiados da guerra na Síria e trabalhado com um sem-número de ONGs por aqui. Mas seu sonho ainda estava longe, ou pelo menos era o que ela pensava.

Michele pensava em agrupar as pessoas que conheceu nessas atividades e usar as habilidades que elas tinham para criar um instituto. Algo que abrigasse todos os projetos que ela tinha em mente – sempre relacionados a direitos humanos e à ideia de tornar o mundo mais justo. “Mas eu achava que isso era para quando eu tivesse mais idade, que não estava pronta”, diz. Até que numa conversa, alguém a convenceu a fazer isso já. “A hora perfeita nunca ia chegar.”

Atividade com jovens infratores: tentando criar relacionamentos mais saudáveis.

Mal sabia ela que, mesmo não sendo perfeita, a hora era aquela mesma. Michele começou a juntar amigas (hoje são cinco mulheres que formam o núcleo da ONG) e a traçar planos. E antes que pudesse gastar a graninha inicial que tinha juntado de seus próprios salários, Michele conseguiu um patrocínio pra lá de importante, do Instituto Avon. Era hora de pôr mãos à obra.

O Instituto Aurora ganhou seu nome da paixão que Michele tem por essa hora do dia, especialmente pela luz. “É uma luz sutil, que vai iluminando sem chocar, não é espalhafatosa. Torna tudo bonito mas sem chamar a atenção, diferente da luz do pôr do sol”, palpita. O instituto seria isso: uma tentativa de luz discreta mas eficiente.

Um mundo desigual

O fato de serem cinco mulheres na gestão do dia a dia do Aurora não é por acaso. Elas acreditam que uma de suas missões é combater a violência contra a mulher, garantir que o mundo seja menos pesado para os 50% da humanidade que sempre tiveram de se submeter à outra metade.

Dois dos principais projetos do Aurora hoje têm a ver com isso. Num deles, “Eu Vejo Flores”, a parceria é com outras mulheres. O grupo vai a lugares onde a vida feminina é particularmente sofrida, como penitenciárias e bairros muito violentos. Lá, faz rodas de conversa para mostrar às vítimas do machismo que elas são pessoas livres, belas e com direito a voz. Que há quem queira ouvi-las.

“Essas mulheres muitas vezes passam a vida com gente dizendo que elas não valem nada, que são feias, que são culpadas de tudo. E acabam acreditando em tudo isso, faz parte da psicologia delas”, diz Michele. “Nosso trabalho é desconstruir isso para melhorar a auto-estima, um primeiro passo para uma vida nova”, afirma.

E eles? Sim, eles também precisam mudar

Mas de nada adiantaria mudar a cabeça das mulheres e deixar os homens pensando que podem continuar a ser como são. Por isso, um outro projeto é ir a eles, de preferência ainda na adolescência, na juventude, e mostrar que a vida masculina pode ter várias possibilidades, e não apenas a do macho predador tão popular no Brasil (e em especial na violência da periferia).

O projeto, chamado “Homens Possíveis”, começou em Censes (os antigos educandários), com rodas de conversa e palestras de homens que têm vidas completamente diferentes. “Gostamos do termo ‘masculinidades’. E eles veem homens que podem servir de exemplo e que têm vidas interessantes, ricas e muito diferentes do estereótipo masculino que provavelmente conheceram”, diz Michele.

Oficina do “Homens Possíveis”: conversas com adolescentes infratores sobre outras “masculinidades”.

Para este ano, o segundo em que o Aurora está formalizado e com força total, a ideia é trabalhar também cada vez mais com um projeto chamado “Novas Lentes, Novas Mentes”. A Escola Tiradentes, estadual, no Centro da cidade, é a primeira parceira. Os alunos estão acompanhando, entre outras coisas, a grafitagem de rostos de quatro mulheres ligadas a direitos humanos no muro. A primeira, já feita, foi Marielle Franco.

“Imagina que bacana, bem ali onde tem shopping, praça, o Île de France, as pessoas vendo e perguntando quem são aquelas mulheres, pesquisando”, sonha Michele. E o sonho, ela sabe, está prestes a virar verdade.

Quem quiser conhecer mais do instituto e colaborar pode acessar o site oficial aqui.

https://www.plural.jor.br/tereza-uma-vida-de-luta-e-racismo-dentro-da-ufpr/

 

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