Atraso na aquisição de remédio impossibilita tratamento de paciente com leucemia 

Conforme decisão judicial, a medicação deveria ter sido adquirida pelo Ministério da Saúde em novembro de 2022

Faz quatro meses que Odiney Wellington Padilha da Silva, de 23 anos, está esperando pela medicação Trisenox, ou Trióxido de arsênio (ATO), a única que pode ajudá-lo atualmente no tratamento contra a leucemia. Como o remédio não é ofertado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), Odiney precisou entrar na Justiça, que, em novembro de 2022, determinou a aquisição do medicamento pelo Ministério da Saúde. O problema é que, até agora, a decisão não foi cumprida.

Desde que foi diagnosticado com Leucemia Promielocítica Aguda (LPA) – um tipo de câncer que tem origem na medula óssea e afeta os glóbulos brancos recém-formados – em junho de 2020, Odiney faz tratamento quimioterápico no Complexo do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (HC-UFPR). O lutador de Muay Thai é natural de Mato Grosso do Sul, mas vive na capital paranaense há oito anos.

Após duas tentativas de quimioterapia e um transplante de medula óssea, Odiney teve duas recaídas. Isso porque, como explicou uma enfermeira do Setor de Quimioterapia de Alto Risco do HC-UFPR, que prefere não se identificar, as medicações disponíveis atualmente pelo SUS já não são suficientes para tratar o caso de Odiney.

“Ele precisa do Trisenox para garantir a vida dele. Hoje a gente não consegue tratá-lo sem essa medicação. Temos feito algumas quimioterapias que não são as mais adequadas, mas é uma tentativa de segurar a evolução da doença até essa medicação chegar.”

Internado há 58 dias no hospital, Odiney conta que entrou na Justiça com um pedido para que a União arcasse com a compra do medicamento em setembro do ano passado. Uma caixa do Trisenox, que contém 10 ampolas de 10 mL, pode custar entre R$ 8 e 16 mil.

“Estou esperando até agora. Isso está me deixando muito triste e incomodado porque a doença não espera. A expectativa é grande. Querendo ou não é a minha vida que está em jogo”, afirma.

O processo

Inicialmente, de acordo com o advogado de Odiney, Gabriel Primo Sanches Sella, o pedido para o fornecimento do Trisenox pela União foi indeferido pela 3ª Vara da Justiça Federal de Curitiba porque o juízo entendeu que era necessária uma opinião especializada para avaliar se a medicação era de fato essencial para o tratamento de Odiney e se não existiam outras possibilidades dentro do SUS.

Segundo Sella, mesmo com o parecer técnico do perito manifestando a necessidade e urgência do medicamento para o tratamento de Odiney, a 3ª Vara Federal argumentou que não estava evidenciada a superioridade do remédio e que, como ele não faz parte daqueles ofertados pelo SUS, não seria o caso da União fornecê-lo.

A decisão foi contraposta pela defesa de Odiney, que, em 23 de novembro, obteve uma liminar junto ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) garantindo o remédio. Conforme a liminar, o Ministério da Saúde deveria fazer a aquisição do Trisenox até o dia 24 de dezembro.

O processo, que corre em segredo de Justiça, ficou parado durante o período de recesso forense e férias, e só voltou a andar no fim de janeiro deste ano, quando a 3ª Vara Federal solicitou que a defesa de Odiney fizesse os orçamentos e especificasse quanto custaria o tratamento com o Trisenox para três, seis e 12 meses. 

A Justiça então deferiu o pagamento do tratamento equivalente a seis meses – que são sete caixas do medicamento em um valor total de aproximadamente R$ 65 mil – e concedeu outro prazo para a União adquirir a medicação, que se encerrou, sem cumprimento, em 23 de fevereiro.

Agora, o advogado aguarda a intimação da Caixa Econômica, prevista para o dia 16 de março, que deve reter o valor equivalente aos seis meses de tratamento com o Trisenox. Caso os próximos passos do processo (depósito do dinheiro na conta vinculada ao juízo e transferência do valor para a distribuidora do medicamento) ocorram sem nenhum percalço, Sella estima que, em cerca de uma semana Odiney poderia iniciar o tratamento com o Trisenox.

“Para a Caixa cumprir essa retenção dos valores não tem previsão. Então por ora continuamos sem previsão do medicamento. Nós esperamos com urgência porque os meios que o hospital tinha para frear a doença de Odiney não estão surtindo mais efeito. Não existe outra forma ou alternativa para conseguir esse medicamento. Então ficamos de mãos atadas esperando a União cumprir essa decisão e salvar uma vida”, afirma Sella.

Ministério da Saúde

Por meio do Departamento de Gestão das Demandas em Judicialização na Saúde, o Ministério da Saúde informou ao Plural apenas que as providências para cumprimento da decisão judicial já estão sendo adotadas.

Sobre o/a autor/a

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

O Plural se reserva o direito de não publicar comentários de baixo calão, que agridam a honra das pessoas ou que não respeitem níveis mínimos de civilidade. Os comentários são moderados por pessoas e não são publicados imediatamente.

Rolar para cima