Amanda Crispim é uma mulher potente

Amanda Crispim é escritora, pesquisadora, doutora em Letras e a primeira mulher negra a fazer parte do Departamento de Linguagem e Comunicação

Foi dentro da sala de aula que Amanda Crispim Ferreira traçou seu caminho até Curitiba. Antes como aluna e hoje como professora, a bisneta de Dona Antônia, neta de Dona Áurea e filha de Dona Nadir é escritora, pesquisadora e doutora em Letras. Aos 35 anos, essa mulher potente é uma ex-matadora de plantas e uma verdadeira “topa-tudo”, que não bebe café após as 18h.

Amanda nasceu em Londrina, no norte do Paraná. Além das mulheres que a educaram, Amanda foi criada por uma extensa comunidade que sempre a incentivou. “Boa parte da minha história é em Londrina. Desde pequena, eu era aquela neta, aquela filha, aquela vizinha conhecida como a menina que gosta de estudar. Isso sempre foi alimentado pela minha família e vizinhos”, diz.

Com uma filosofia que sua mãe repetia quase como um mantra, Amanda vivia fazendo cursos, frequentando palestras e lendo livros. Afinal, como Dona Nadir costumava dizer: “Conhecimento nunca é demais”.

A professora encontrou na educação uma forma de devolver para os outros aquilo que um dia ela recebeu. Para a educadora, “apesar do desgaste, a educação é um lugar potente que pode mudar realidades”. Ela já trabalhou como professora na educação básica e na Unopar. Hoje Amanda, ocupa um cargo como professora no colegiado de Letras-Português da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) em Curitiba e é a primeira mulher negra a fazer parte do Departamento de Linguagem e Comunicação (DALIC). “Eu sempre achei que a escola era meu lugar, mas quando terminei o doutorado, percebi que as universidades ainda estavam carentes de professores e pesquisadores que pudessem contribuir na discussão sobre os saberes afro-brasileiros”, conta.

“apesar do desgaste, a educação é um lugar potente que pode mudar realidades”

Em seu doutorado, Amanda estudou os manuscritos dos poemas da escritora Carolina Maria de Jesus. Quando Amanda conheceu Carolina, foi paixão à primeira vista, ou à primeira leitura. Em um único dia, ela leu o livro “Quarto de Despejo”, da autora, um livro de 264 páginas.

A professora Amanda Crispim | Foto: Tami Taketani/Plural.

Superação

Em 2018, Amanda descobriu um câncer de mama e diante das adversidades de seu diagnóstico, descobriu-se também como uma ‘supervivente’. “Isso pode parecer muito clichê, que todo mundo que passa por uma doença grave fala que tem uma missão para cumprir, mas eu me agarrei a isso com unhas e dentes e concluí meu doutorado”. Como Amanda gosta de dizer, a educação salvou sua vida e, nesse caso, foi um incentivo para que ela continuasse a viver.

Para ela, esse é só um dos capítulos que compõem sua história. 

Como nem só de estudos acadêmicos se vive, Amanda também foi incentivada pela mãe a buscar nas manifestações culturais outras formas de conhecimento.

“O primeiro filme que vi no cinema foi ‘Aladdin’, eu assisti sozinha. Lembro da minha mãe me colocando dentro da sala de cinema e dizendo: ‘Não sai daí, quando o filme acabar, eu volto aqui para te buscar'”, conta.

Hoje, em um novo contexto, onde as condições financeiras são mais favoráveis, as duas frequentam o cinema juntas e essa é uma das paixões que ambas compartilham.

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“A minha relação com Carolina é essa relação de ancestral muito potente”, diz Amanda Crispim.

Amanda, que sempre deixava as plantas morrerem, ganhou uma muda de espada de São Jorge que, além de sobreviver trouxe uma nova paixão para a vida da professora. Logo na entrada do seu apartamento, uma planta recepciona os visitantes. Na mesma parede, cheia de livros e dividindo espaço com a TV, outros seis diferentes vasos. “Eu matava tudo, nem suculenta sobrevivia. Hoje até cactos eu tenho”, diz.

Perto de sua janela tomando um suco de laranja com morango (depois das 18h café é proibido porque atrapalha o sono da professora), Amanda aprecia a vista da cidade, enquanto se define como uma mulher potente, que “topa qualquer rolê”, tem ânsia por viver e que é apaixonada por carnaval (tanto que mesmo duas semanas depois ainda se encontra glitter pelo chão da casa).

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