A cientista francesa que “reescreveu o código da vida”

Emmanuelle Charpentier é uma das figuras mais importantes na busca de ferramentas de edição genética, e foi premiada com o Nobel

Em 2020, quando o mundo já estava debaixo da pandemia de coronavírus, o Nobel de Química foi concedido a duas cientistas que ajudaram a desenvolver a mais revolucionária técnica de edição genética já concebida. A ferramenta descoberta por elas pode, entre outras coisas, libertar a humanidade de futuras epidemias como a do coronavírus, além de trazer muitas outras melhorias.

As pesquisadoras vinham de lugares e tradições muito diferentes. Uma delas é a química americana Jennifer Doudna. A outra é a bióloga francesa Emmanuelle Charpentier, que foi quem iniciou a pesquisa e chamou a americana para ajudar na definição química das moléculas envolvidas.

O sistema desenvolvido pelos laboratórios das duas tem um nome que pode parecer complicado: é o CRISPR-Cas9. Mas entender o princípio básico por trás da ideia pode não ser tão difícil. Claro que os detalhes cabulosos que exigiram anos de trabalho e dedicação são para poucos, mas veja só como funciona.

Vírus e bactérias são inimigos mortais. Nós costumamos pensar em vírus como seres que infernizam apenas os humanos, mas eles atacam qualquer forma de vida, a começar pelas bactérias. E durante os milhões de anos de sua batalha contra os vírus, as bactérias conseguiram bolar um sistema de defesa muito eficiente.

A cada vez que um vírus novo chega, a bactéria “corta” um pedacinho do material genético do invasor. Serve como uma espécie de impressão digital de um criminoso. Esses trechos de RNA são usados para identificar o agressor a cada vez que ele aparece. E a bactéria a partir daí sabe como enviar a defesa certa contra aquele inimigo.

Esses trechos de material genético recortados dos vírus foram descobertos por um pesquisador espanhol e mais tarde ganharam o nome de CRISPR. O que Emmanuelle Charpentier descobriu foi um modo de usar isso a nosso favor, reconstruindo em laboratório o método utilizado pelas bactérias para que nossas células, ao receber o comando certo, possam fazer o mesmo.

Isso inclui desenvolver um método de enviar a informação certa para o lugar certo, o que é feito por meio de um “RNA guia”. E também envolveu descobrir a enzima que é capaz de “picotar” o material genético necessário para o trabalho, que recebu o nome de CAS9.

Charpentier, formada na Universidade Pierre e Marie Curie e no Instituto Pasteur, de Paris, foi quem desenvolveu boa parte desse trabalho. Mais tarde, quando precisou da ajuda de uma química especializada em RNA para descobrir o funcionamento do processo, convidou Doudna e seu laboratório de Berkeley para a empreitada.

O sistema é tão poderoso que, na entrega do Nobel, as duas foram citadas como as pessoas que descobriram o meio de “reescrever o código da vida”. Com o CRISPR-Cas9 espera-se no futuro poder modificar qualquer característica de nosso código genético, resolvendo por meio de edição de DNA problemas e deficiências para as quais hoje não há remédio, e nos protegendo contra inimigos como vírus e bactérias.

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