Escritor de Campo Largo se destaca na cena nacional com crônicas bem-humoradas

Finalista do Jabuti, Arzírio Cardoso fala sobre sua relação com a crônica e sobre seu livro "Conheço duas formas de acabar com a vida que são tiro e queda"

O escritor Arzírio Cardoso foi um dos cinco finalistas do Prêmio Jabuti 2021, na categoria de crônicas, com o livro “Conheço duas formas de acabar com a vida que são tiro e queda”, publicado pela Patuá. Dá para ver pelo título que os textos são bem-humorados, mas é um tipo de humor que faz pensar.

Poeta e cronista, o paranaense de Campo Largo transita por temas delicados com perspicácia e leveza. Em entrevista ao Plural, Cardoso fala de sua relação com a crônica e do livro que quase levou o Jabuti (o prêmio acabou ficando com “Histórias ao redor”, de Flávio Carneiro).

“Qualquer coisa pode render uma crônica, de uma guerra fratricida ao uso da palavra top“, diz Cardoso. “A crônica se alimenta da vida, e a vida comporta tudo.”

Na sua opinião, uma crônica pode ser ficcional?
Pode ser ficcional, sim. No meu livro mesmo há duas crônicas integralmente inventadas. Aliás, me arriscaria a dizer que todas, em alguma medida, têm uma ou outra pincelada de invenção, se não a invenção pura, fabular, ao menos aquele tipo de invenção que a memória e a subjetividade produzem. Se a crônica trata de impressões idiossincráticas da realidade, e se mais ninguém fora o cronista perceberia a realidade daquela forma, significa que no momento mesmo da observação os fatos já estão sendo alterados, coloridos por uma paleta de cores bastante particular, ou, em uma palavra, ficcionalizados.
Acredito, contudo, que a crônica se diferencia de outros gêneros não por ser ficcional ou factual, mas pelo tom da escrita, pelo modo de narrar. Costumo dizer que, na crônica, até o que é ficção é contado como se tivesse sido presenciado ali na esquina, e, no conto, até o que foi presenciado ali na esquina é contado como se fosse ficção.

Não que seja assim com todo cronista, mas, para mim, o fato de eu escrever sem compromissos, sem pressão, sem data limite, sem limite de caracteres transforma a minha relação com o gênero em algo bastante prazeroso.

Arzírio Cardoso, escritor

O que rende uma crônica para você?
Qualquer coisa pode render uma crônica, de uma guerra fratricida ao uso da palavra top. A crônica se alimenta da vida, e a vida comporta tudo. O texto que foi o pontapé inicial do livro, por exemplo, escrevi após observar um asterisco numa lata de sardinha. A lata apresentava a informação: Contém ômega 3. E abaixo, no famigerado asterisco, uma outra, que dizia: como todo produto desta natureza. Um misto de riso e indignação me levou a escrever a crônica “A língua, o asterisco e a natureza da sardinha”, que acabou vencendo o Prêmio Escriba de Crônicas e me motivou a praticar mais ainda o gênero. Asteriscos e letras miúdas são um perigo.

Qual é sua relação com a crônica?
Divertida. Livre. Espontânea. Acredito que sejam essas as características que mais me encantam na produção do gênero. Não que seja assim com todo cronista, mas, para mim, o fato de eu escrever sem compromissos, sem pressão, sem data limite, sem limite de caracteres transforma a minha relação com o gênero em algo bastante prazeroso. Não que tudo flua naturalmente e súbito o texto esteja ali, pronto. A despeito do prazer, ainda é escrita, e escrita é meio que ir moldando o lodo inorgânico até que alguma vida se desprenda dali. O prazer do difícil, do detalhe que conta.

Gosto de escrever sobre língua e linguagem, fazer jogos de palavras e brincadeiras com elas.

Arzírio Cardoso, escritor

O que pode interessar ou encantar os leitores no livro de crônicas “Conheço duas formas de acabar com a vida que são tiro e queda”?
Se eu tivesse que escolher uma característica, seria o humor, mais especificamente o humor metalinguístico, aquele feito mais sobre as palavras (com alguma sorte, sob) do que com elas. Os temas do livro são bastante variados, assim como o estilo de escrita, mas o tom geral é o da tentativa de fazer rir, como o título já sugere (ou grita).
Gosto de escrever sobre língua e linguagem, fazer jogos de palavras e brincadeiras com elas, sempre com a seriedade inerente a qualquer brincadeira, a seriedade de uma criança que criasse um mundo explodindo uma bolha de sabão.
Mas também há textos mais reflexivos e filosóficos, alguns com crítica social, tem até um sobre a minha cidade, Campo Largo. E, como é característica do gênero crônica, observações enviesadas do cotidiano também estão presentes. Diria, então, que é um livro bastante heterogêneo, mas com uma inclinação geral para o humor. Espero, sinceramente, que o leitor se encante por considerar um livro bem escrito. Já não será pouca coisa.

Livro

“Conheço duas formas de acabar com a vida que são tiro e queda”, de Arzírio Cardoso. Patuá, 217 páginas, R$ 40. Crônicas.

Sobre o/a autor/a

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