Vereadora denuncia “descontão” de R$ 5 mi em permuta de terreno público

Condomínio de luxo construiu lago, quadra esportiva e salão de festas em um terreno público e a prefeitura quer dar desconto para regularizar a situação

Um projeto de lei que autoriza a Prefeitura a trocar uma área no Campo Comprido por lotes no Tatuquara será denunciado ao Ministério Público do Paraná essa semana pela vereadora Professora Josete (PT). A proposta, que tramita na Câmara de Curitiba e já recebeu pareceres positivos das Comissões de Constituição e Justiça e de Urbanismo, propõe uma avaliação que reduz em R$ 4,96 milhões o valor do imóvel público.

A denúncia também inclui outras duas propostas que tramitam na Câmara que tratam de descontos semelhantes, mas propõem a venda direta de áreas públicas. As três proposições de autoria do prefeito de Curitiba, Rafael Greca (PSD), se valem de uma previsão legal que permite a venda de áreas públicas quando a operação é de interesse público.

Para a vereadora Josete, o problema é que junto aos projetos a prefeitura apresenta laudos de avaliação das áreas que permitem a aplicação de um fator de depreciação ao imóvel, reduzindo o preço final a ser pago à Prefeitura. Esse fator de depreciação considera áreas com coeficiente de aproveitamento menor, necessidade de recuo obrigatório, a natureza topográfica da área ou ocupação de faixa não edificáveis de preservação ou drenagem.

A situação é igual a reportada pelo Plural, que mostrou média de 4% de redução no preço do metro quadrado em áreas públicas vendidas para particulares em 2022 e 2021.

No caso da área no Campo Comprido a prefeitura tenta a autorização do legislativo para trocar uma área pública de 8,89 mil metros quadrados por outras áreas no Tatuquara. A área fica no final da Rua Padre José Kentenich e está ocupada pelo Condomínio Ville Sanctuaire, de casas de alto padrão. A área pública está cercada pelos muros do condomínio e contém uma quadra esportiva, o salão de festas e um lago ornamental.

Segundo a denúncia, a prefeitura atribuiu ao terreno “o valor de R$ 6.614.230,72, porém por tratar-se de área de preservação, houve aplicação de depreciação de 75% do valor, determinando-se como valor da área R$ 1.650.000,00“.

“Dito isso, entendemos ser evidente o prejuízo ao patrimônio público, já que trata-se de área pública que poderia ter v.rias utilidades para a sociedade curitibana, entretanto foi usurpada por condomínio de luxo particular e, agora, ser. permutada pela Prefeitura sob um grande desconto para este mesmo particular que usurpou-a e inclusive realizou algumas construções em áreas de preservação”, detalha a denúncia.

O Plural tentou contato com a Esparta Loteamentos, proprietária dos lotes no Tatuquara e responsável pela aquisição da área no Campo Comprido para o Condomínio Ville Sanctuaire e irá atualizar esse texto caso ela se manifeste.

Imagem de divulgação de casa no Condomínio mostra lago construído em área pública. Foto: Imobiliária Prates.

O Condomínio, o Plural apurou, possui casas à venda por mais de R$ 2 milhões que listam entre as comodidades o lago, o salão de festas e quadras que estão, na realidade, em terreno público.

Quadra edificada em terreno público.

Em outro projeto denunciado pela vereadora, uma área de 90 metros quadrados no Uberaba que está ao lado de um córrego. Segundo a vereadora, o valor da avaliação sofreu a aplicação de depreciação de 80% por ele ser parte de área de preservação permanente (margem de córrego). O problema, porém, é que a área já conta com edificação dentro do espaço em que é vetada construção.

É o mesmo caso do terreno no São Lourenço cuja venda tramita na Câmara. Localizado na Rua Dr. Nelson de Souza Pinto ao lado de um trecho do Rio Belém, o lote de 100 metros quadrados foi avaliado em R$ 115,5 mil pela prefeitura, mas com o desconto de 80% a prefeitura pretende vendê-lo por R$ 23.000,00.

A denúncia da vereadora será entregue a Promotoria de Proteção ao Patrimônio Público de Curitiba.

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4 comentários em “Vereadora denuncia “descontão” de R$ 5 mi em permuta de terreno público”

  1. Mario Lobato da Costa

    As áreas invadidas pelos habitantes do andar de cima vão ser desocupadas pela PM? Vai rolar bomba de efeito moral e balas de borracha? Vão ser processados pelo MP.

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