A Câmara de Curitiba interrompeu a sessão desta segunda-feira, para homenagear Danilo D’Ávila, proprietário da Danilo D’Ávila Eventos de Beleza, responsável por concursos de beleza para mulheres adultas e crianças em todo Brasil. Para homenagear D’Ávila, o vereador Tito Zeglin (PDT) reuniu um grupo de seis meninas – crianças e adolescentes – “coroadas” pela empresa do publicitário.
Em discurso para justificar a homenagem, Zeglin disse que D’Ávila “não ficou com seus braços simplesmente cruzados deixando que o tempo passasse e ele simplesmente olhando as belezas que Deus proporciona para nós”. O parlamentar também falou, se dirigindo às crianças, que elas estão nas mãos de uma “pessoa altamente responsável e que dedicou a vida toda por esses eventos” e que os títulos conquistados por elas são “um sucesso brilhante”.
Zeglin encerrou a homenagem destacando que o Voto de Louvor entregue à Danilo D’Ávila é uma homenagem “de toda a Câmara” e de toda a cidade “pela sua grandeza”. Em seguida o vereador e o homenageado tiraram fotos cercados das meninas em frente a mesa do plenário da Câmara e nas escadarias da sede do Legislativo.
As vereadoras da Casa reagiram ao discurso do parlamentar. “Não podemos admitir que em 2023 as meninas ainda sejam vistas como belezas que foram criadas para contemplar os homens, porque isso reflete o quão enraizada está a cultura que objetifica as mulheres. Pensamentos assim, quando levados às últimas circunstâncias, são utilizados para justificar o feminicídio e a violência sexual, crimes que aliás seguem quebrando recordes ano após ano. É para quebrar tudo isso que seguimos, sabendo que temos muito trabalho pela frente”, declarou Maria Letícia (PV). Ela também lembrou que o discurso de Zeglin não é exceção: “Importante lembrar que falas assim são constantes em toda a sociedade e a Câmara acaba refletindo isso. A naturalidade com que essas ideias são proferidas sublinha a importância da sociedade investir na educação sobre gênero”.
Já a vereadora Giorgia Prates (PT) disse que “O infeliz comentário reflete o machismo estrutural da sociedade, no qual meninas e mulheres são vistas como objeto sempre ao dispor da masculinidade. Como se cada menina presente ali não tivesse seus próprios sonhos, seus próprios objetivos, como se estivessem ali apenas para o deleite dos homens. Aliás, importante ressaltar também que se tratavam de crianças, sendo o comentário nesse caso mais desapropriado ainda”.
“Esses concursos estimulam a padronização do corpo da mulher. A busca por esse “tipo ideal” acaba adoecendo muitas meninas física e psicologicamente. Como instituição que deve primar pelo combate aos estereótipos e pela igualdade, a Câmara não deveria endossar a realização dessas “disputas de “beleza” , especialmente quando falamos de crianças”, afirmou a vereadora Professora Josete (PT).
Sobre o/a autor/a
Vergonha alheia. Pobres crianças.
É um absurdo que a câmara de vereadores ainda se presta para este tipo de situação. Ainda bem que temos a oposição para mostrar o quanto a sociedade curitibana ainda precisa mudar. Acho bem pertinente que este assunto seja divulgado.