Economista da Secretaria de Fazenda do PR é a primeira mulher negra a ocupar a diretoria da IFI

Vilma da Conceição Pinto atua como assessora de Renê Garcia, Secretário da Fazenda do Paraná

Vilma da Conceição Pinto é a primeira mulher negra a integrar o conselho diretor da Instituição Fiscal Independente (IFI), órgão vinculado ao Senado Federal. A indicação foi aprovada em plenário nesta quarta (7), em votação secreta. Ao todo, foram 51 votos a favor da nomeação, 2 contrários e 2 abstenções. Com isso, a economista deixará a assessoria da Secretaria da Fazenda do Paraná para assumir o cargo durante os próximos quatro anos. 

Logo após a votação, Vilma conversou com o Plural. Acompanhe a entrevista.

Plural: Vilma, eu acompanhei a sua fala durante a sabatina e queria, primeiro, te parabenizar pela trajetória e discretamente perguntar a sua idade, rs.

Vilma: Obrigada! Eu tenho 31, rs.

Plural: Você falou bastante da sua formação acadêmica e atuação profissional, mas eu quero voltar um pouquinho no tempo pra falar das suas origens. Quem é a Vilma? Onde nasceu, onde viveu?

Vilma: Eu nasci em Niterói, uma cidade que fica no Rio de Janeiro, na região metropolitana. Eu sou de uma família pobre, meu pai era pescador. Ele faleceu no meu último ano da faculdade, em 2013. A minha mãe era gari, agora é aposentada. Eu também tenho cinco irmãos. Bem, eu nasci num hospital público, estudei minha vida inteira em escola pública, fiz um cursinho pré-vestibular na Universidade Federal Fluminense (UFF) e a graduação na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). 

Plural: De onde veio o interesse pela economia?

Vilma: Eu sempre gostei de estudar, mas nunca tive referência familiar nessa área. Quando eu fiz 16 anos, soube que podia fazer estágio de ensino médio. Foi quando comecei a estagiar na auditoria de um shopping. Conheci administradores, contadores e comecei a pesquisar mais sobre essa área. Eu assistia o jornal e via o pessoal comentando, né? Agora, vamos ouvir o economista tal, falando sobre a inflação e tudo mais. E aí eu comecei a admirar muitos…  Depois de muita pesquisa, fiz o vestibular só pra economia. 

Plural: Qual é a sensação de ser a primeira mulher negra a chegar à diretoria da IFI?

Vilma: Eu tô muito feliz e ao mesmo tempo surpresa com a repercussão, né? A sabatina ocorreu na segunda-feira e depois muita gente mandou mensagens nas redes sociais, WhatsApp e tudo mais, eu nem consegui responder a todo mundo ainda, rs. Eu fico feliz e espero que a minha trajetória possa servir como inspiração e motivação para quem quer crescer profissionalmente e pessoalmente.

Plural: Na sua fala na sabatina, você também tratou brevemente da situação econômica do país, que não é boa, mencionando as taxas elevadas de desemprego. Podemos dizer que o desmonte das universidades públicas também reflete o momento. A UERJ, onde você se formou, por exemplo, é alvo de cortes há anos… Tendo isso em vista, qual é o seu posicionamento sobre a priorização da educação pública e da própria ciência nas contas públicas?

Vilma: Eu gosto de dar exemplos trazendo pra vida pessoal. Quando a gente fala de finanças públicas, a gente tá falando de como o governo recolhe os recursos da economia e aloca esses recursos. Ele tem algumas funções e uma dessas funções é a função locativa: como ele vai gastar esse dinheiro? É com saúde, é com educação, é com segurança, é com defesa? Muito depende da priorização. A gente tem formas hoje de evitar que uma determinada área, que é muito importante, fique sem recursos com os chamados gastos mínimos. Mesmo dentro dessa caixinha dos gastos mínimos você tem que definir qual é a prioridade que você vai dar e às vezes esse mínimo pode não ser suficiente, né? Eu acho que é importante a gente pensar que temos um déficit fiscal e precisamos equacionar esse déficit. Pensa numa família que quer pagar um curso de medicina pro filho. Ela não vai conseguir pagar esse curso se o que ela gasta com aluguel, gás, alimentação é superior ao que recebe de salário. Pra conseguir fazer esse investimento, é preciso equilibrar as contas. Mesma coisa no governo. Se você tem um déficit, precisa fazer cortes e definir melhor essas priorizações. Então, eu acho que avançar na avaliação do gasto público é muito importante pra conseguir reduzir excessos, economizar recursos e alocar onde é prioritário. Uma avaliação geral, periódica e sistemática dos gastos pode ajudar nisso. 

Plural: O Plural é um veículo de Curitiba e estamos falando principalmente porque você ficou um ano conosco aqui no Paraná, assessorando o secretário Renê Garcia. Não posso deixar de perguntar: como foi a sua experiência na nossa terra? 

Vilma: Sim, foi muito boa. Eu conheci o secretário em um evento que a gente fez em São Paulo, sobre finanças dos produtos estaduais – eu palestrante, ele também. E desde então ele passou a acompanhar um pouco do meu trabalho, eu dei uma palestra aqui no Paraná também. Quando eu vim pra cá, achei um pouco desafiador, no meio da pandemia, né? Eu comecei no finalzinho de maio do ano passado. Mas foi muito bom assessorar a experiência e conhecimento que o secretário tem, a equipe aqui da Secretaria da Fazenda é excepcional, então pude aprender muito. Acho que é só gratidão. Tenho que agradecer pela oportunidade de ter estado aqui na Secretaria da Fazenda. 

Plural: Obrigada, Vilma. Quando você toma posse?

Vilma: Eu tenho até 30 dias após a nomeação. A nomeação não tem uma data específica pra acontecer, depende das pautas do Senado.

Trajetória profissional

Em 2014, Vilma concluiu a graduação em Ciências Econômicas pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Em 2018, obteve o título de mestre em Economia Empresarial e Finanças pela Escola de Pós-Graduação em Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV-EPGE).

Sua carreira profissional começou no Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV-IBRE), onde atuou de 2012 a 2020. No ano passado, a economista deu um passo adiante e aceitou um novo projeto: passou a assessorar o secretário de Fazenda do Paraná, Renê Garcia Junior. 

“A economista Vilma da Conceição Pinto é um exemplo a ser seguido e representa que é possível chegar onde queremos, sendo capaz de superar os preconceitos culturais e raciais impostos pela sociedade”, resumiu o secretário.

Indicação

Na segunda (5), a indicação do presidente da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), Otto Alencar, foi aprovada pela própria Comissão e seguiu para deliberação no Senado. Em seu parecer, Alencar escreveu que Vilma “tem perfil acadêmico e profissional que, sem dúvida, a credencia ao cargo de Diretora da IFI e, também, atende aos demais requisitos previstos no RISF”. Em seguida, acrescentou que ela “certamente contribuirá no desenvolvimento das relevantes atribuições” da instituição.

Durante a sabatina, a economista falou brevemente sobre a situação do país e também exaltou a importância da IFI. “Artigo recente do Banco Mundial mostrou a importância das IFIs no contexto da pandemia da Covid-19 e destacou que à medida em que os países emergem da pandemia, os conselhos fiscais podem ajudar os governos a reorientar o foco para finanças públicas, zelando pela sustentabilidade”, frisou. 

Segundo Vilma, o Brasil vive uma situação de desequilíbrio fiscal desde pelo menos 2014, quando foi evidenciado, depois de mais de 15  anos, um déficit fiscal primário. “O déficit é persistente, de modo que estamos caminhando para o oitavo ano consecutivo nesta situação. É inegável que foram feitos esforços no sentido de reduzir essa trajetória, mas ainda há desafios a superar para alcançar o reequilíbrio fiscal com qualidade e eficiência dos gastos públicos. Dentre os desafios existentes, podemos citar a necessidade de melhorar as políticas de assistências mais vulneráveis e retomar investimentos públicos eficientes.”

“O último relatório de acompanhamento fiscal da IFI alertou que o desafio fiscal ainda não foi superado e a dívida pública segue cerca de trinta pontos percentuais acima da média dos outros países emergentes. Este relatório também mostrou que o cenário macroeconômico está melhorando e que essa melhora de curto prazo favoreceu as contas públicas com aumento de receita e redução do endividamento, reduzindo o risco de descumprimento das metas atuais. Mas alertou que o país ainda amarga o desemprego muito elevado”, concluiu a profissional.

IFI

Criada em 2016, a IFI tem por objetivo aumentar a transparência das contas públicas do país. Ela é composta por uma equipe técnica de economistas experientes mais um conselho diretor composto por três membros: um diretor-executivo, tradicionalmente indicado pelo presidente do Senado; um diretor indicado pela Comissão de Transparência, Governança, Fiscalização e Controle e Defesa do Consumidor (CTFC); e um diretor indicado pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) – vaga que Vilma passa a ocupar após a saída de Josué Pellegrini.

No Twitter, o atual diretor-executivo do órgão comemorou a indicação. “Que honra será ter na IFI uma pessoa com a trajetória, o caráter e a competência técnica da Vilma. Viva!”, disse Felipe Salto.

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