Empresa de pianos Essenfelder se reinventa para o século 21

Bisneto do fundador da Essenfelder criou um novo negócio depois que a empresa curitibana faliu em 1997

Para evitar o fim de um negócio que faz parte da história da música no Brasil, Alanderson encarou o desafio de repensar como vender os instrumentos musicais que levam o sobrenome de sua família. Assim, décadas depois de decretar falência, em pleno século 21, Curitiba viu ressurgir uma de suas empresas mais importantes de todos os tempos: a fabricante de pianos Essenfelder.

A história começa no fim do século 19, com o patriarca Florian Essenfelder, que aprendeu a fazer pianos na fábrica C. Bechstein, na Alemanha. Ele abriu a Essenfelder na Argentina, em 1890. Depois da morte da esposa, ele decidiu se mudar para o Brasil. Mais especificamente para Curitiba. Assim, a Essenfelder Ltda. abriu as portas na avenida João Gualberto, em 1920.

Madeira de araucária

A empresa da família cresceu. Os pianos eram fabricados com matéria-prima de primeira qualidade – incluindo madeira de araucária – e os instrumentos eram vendidos até para fora do país.

Na década de 1930, com a popularização do rádio, a Essenfelder enfrentou sua primeira grande crise. “O rádio fornecia música e entretenimento por um valor muito mais baixo”, diz Alanderson, bisneto de Florian.

Apesar da era do rádio, a fábrica seguiu com as atividades e aprendeu conviver bem com a concorrência.

Mais tarde, entre os anos 1970 e 1980, a empresa chegava a vender 200 pianos por mês. O mercado mudou muito de lá para cá. Para se ter uma ideia, hoje, cerca de 100 pianos novos são vendidos por mês, somando o movimento de lojas no Brasil inteiro.

Essenfelder, 100 anos

Em 1990, quando a empresa completou 100 anos, um concerto com obras de Mozart marcou a data. O evento reuniu três pianistas. Uma delas foi Analaura de Souza Pinto, da Orquestra Sinfônica do Paraná. Analaura conta que tem uma relação afetiva com a marca.

“O meu primeiro piano ganhei aos 6 anos, da Pianos Brasil. Mas foi na adolescência, aos 15 ou 16, que ganhei um Essenfelder novinho. Nossa, ele tem uma sonoridade muito bonita, muito gostoso de tocar”, diz Analaura.

Pouco tempo depois do concerto que celebrou os 100 anos da marca, desacordos familiares e preocupações ambientais ligadas ao fornecimento de madeira causaram fissuras irremediáveis. Esses percalços culminaram na decretação da falência em 1996.

“Foi uma notícia terrível. Lamentei profundamente o fechamento da fábrica”, diz Analaura.

Uma foto da família Essenfelder. (Foto: Arquivo pessoal)

Ressurreição

A massa falida da empresa tentou leiloar a marca Essenfelder em 1999 para custear dívidas trabalhistas. Não houve interessados. Nesse meio tempo, uma empresa de Santa Catarina registrou junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) o nome Essenfelder.

“Como é um sobrenome, eles precisavam de autorização da pessoa mais velha viva da família, que é meu pai. A empresa não tinha esse registro e por isso o INPI suspendeu o registro. Quando isso aconteceu, pensei que a gente não podia deixar o legado do meu bisavô morrer. Porque, aos poucos, a história está sendo apagada”, diz Alanderson.

Em 2015, o engenheiro civil herdou a marca e criou um novo negócio unindo a tradição da família com um modelo mais moderno e lucrativo.

A concorrência com o mercado internacional era uma questão a se pensar. Por isso Alanderson recorreu à China. Ele visitou diversos fabricantes de piano, trouxe exemplares para Curitiba e pediu para que pianistas daqui testassem os instrumentos. Até encontrar o modelo ideal.

Com investimento inicial de R$ 700 mil, a nova Essenfelder iniciou a produção na China. Em vez de concorrer com a modernidade, Alanderson fez dela uma aliada e assim os pianos digitais – rechaçados no passado – passaram a integrar o catálogo.

Além disso, o novo negócio expandiu a atuação para a área educacional. Atualmente, há o credenciamento de escolas de música que usam a metodologia da Essenfelder para ensinar piano – um novo nicho que faz bem aos negócios. Em Curitiba, estão credenciadas as escolas Dream Concert e JAM Music.

Elitista

A Essenfelder educacional vai ao encontro da estratégia da empresa de popularizar o piano. Para Alanderson, as próprias empresas reforçam a imagem do piano como algo elitizado. “Não tem um programa social ensinando crianças a tocar piano”, diz Alanderson. “E, apesar de ser um instrumento cujo custo de produção é caro, os [pianos] digitais estão abrindo esse caminho junto com as escolas de música.”

Rentáveis

Os pianos acústicos não são os mais rentáveis para a empresa. Em termos financeiros, 70% do lucro da empresa vem dos pianos digitais, cujos compradores são pessoas que estão aprendendo a tocar, ou que não dispõem de R$ 25 mil – valor do piano mais barato – para comprar um acústico.

A estratégia de unir a tradição da Essenfelder com novas aspirações durante a criação da nova empresa deu resultado. O faturamento anual é R$ 2 milhões desde o início das atividades, em 2015.

Pianos Essenfelder

As vendas dos pianos Essenfelder são feitas diretamente no site da empresa ou por meio de representantes. O cliente pode parcelar a compra ou usar o PIX – que garante desconto de 10% para pianos digitais. Também é possível visitar a loja, que fica na rua dos Alfeneiros, no bairro Boa Vista, em Curitiba.

Sobre o/a autor/a

34 comentários em “Empresa de pianos Essenfelder se reinventa para o século 21”

  1. Parabéns pelo retorno ao mercado. Importante negócio para a sociedade. A música é uma arte admirável e o piano é pura delicadeza e emoção . Amei!

  2. Ao infeliz Luiz Riggo, quero só dizer uma coisa. A “lacração de direita” para mostrar serviço ao país, gerando empregos etc não comporta competição com o mercado externo para um produto que vende pouco no Brasil. Seria no mínimo irônico “fazer um serviço” desse a um país cuja população em massa não valoriza, ou não pode adquirir o produto feito aqui. Você sabe disso, eu sei disso, todos sabemos. A nova Essenfelder não poderia iniciar seus trabalhos sem um investimento ao menos inicial que fosse dessa forma.
    Agora, se tu deixasses a tua queixa tosca de lado para pelo menos comparar as especificações de produto entre a FD(que nome é esse afinal, que não é um sobrenome nem significa nada?) e a Essenfelder, é nítida a diferença entre os produtos. A FD diz “pinho”(genérico assim mesmo… seria americano?reflorestamento? pinho por pinho não significa qualidade) já a Essenfelder diz “spruce”, a madeira usada pelas melhores marcas; a FD diz “feltro de lã”, a Essenfelder dá a procedência e a marca do fabricante de materiais e do maquinário, que por sinal fabrica para outras marcas grandes. Maquinário esse que vem do Japão ou da Alemanha, dois países conhecidos por fabricar pianos de alta qualidade . Um padrão como esse em linhas de piano de “baixo custo”(em comparação com o mercado de pianos no mundo) só se vê em marcas como a Essex, que por sinal pertence à Steinway & Sons, e isso o o Brasil nunca teve(já teve pianos de qualidade, mas não nesses padrões e na era contemporânea).
    O que mancha não é um produto chinês, é tu com teu desconhecimento e preconceito para achar que dá pra nascer um piano 100% nacional do zero, “pagável” pela população do Brasil, e que seja de qualidade(algo que muitos pianistas têm cuidado em relação à FD). Quem sabe o sr. começa a plantar araucária, sr. Luiz, que daqui 50 anos poderá cortar a madeira para fabricar um microscópico lote de pianos pequeninos para vender por 100mil e ninguém poder comprar.

  3. Estudei em dois pianos Essenfelder: um vertical da década de 50, que está comigo até hoje, e um de meia cauda que está com minha mãe. Referências na minha vida e forte memória afetivs.

  4. Paulo Mendonça Souza

    Tenho um piano acútsico essenfelder, da década de 50, porém embora em ótimo estado, apareceu agora, vestígio de cupim na lateral esquerda e pé no mesmo lado. Como posso eliminar esta infestação, que acredito estar no início.

  5. Sou o primeiro afinador de piano de Mato Grosso do Sul.
    Comecei em 1963. Comprei um piano Pleyel que o móvel era lindo, mas o piano não prestava. Tive que aprender a afinar porque não havia afinador no Estado. Ensinei meu pai a afinar e a mais 30 discípulos que estão espalhados pelo Brasil e EEUU.
    Em l972 meu pai me deu dinheiro para começar uma loja de pianos. Fui a Curitiba e a dona Ester Essenfelder me disse que daria a representação se eu comprasse 5 pianos por mês.
    Fui procurar a Fábrica de pianos Schneider e me tornei revendedor deles.
    No site http://www.albinopianos.com.br pode me conhecer melhor.
    Gostaria de ser revendedor da Essenfelder.
    Aguardo contato.

  6. Respondendo ao Sr Luís Riggo , realmente , por enquanto , não será a mesma Essenfelder , mas melhor levantar o “quadril” do assento e colocar mãos à obra , que ficar condenando quem faz !!!
    Não importa por onde , o importante é começar /recomeçar , e nesta hora , nada melhor do que um incentivo !
    Nunca palavras de frustração , provavelmente de alguém q nem tentar conseguiu.
    O menino do nome estranho , merece muitas palmas !!!!

  7. Luiz Renato Kobylarz

    PARABÉNS à toda familia Essenfelder e tenho orgulho de conhecê-los
    pessoalmente.Muito bom para o Paraná que reconqustamos ésta indústria.
    AVANTE CORAJOSOS ,MANTENHAM VIVA A CRIAÇÃO DE VOSSO AVÔ.

  8. Meu pai Wilson Batista de Lara trabalhou por mais de 20 anos no departamento acabamento pianos cauda, nesta que foi a maior fabricante de pianos no Brasil. Eu tambem trabalhei por 5 anos na parte administrativa, final gestao Sr.Acir e inicio Sra. Esther Essenfelder.

  9. Desde criança vi e ouvi,minhas irmãs tocando piano e com o tempo se tornaram professoras usando o piano Essenfelder.Parabéns.
    Ivan Schulz.

  10. Na minha família temos um piano Essenfelder o som é extraordinário foi adquirido através da antiga loja HM, meu filho é pianista. Parabéns ao herdeiro pela iniciativa de manter essa tradição viva. Sucesso

    1. Rosiane Correia de Freitas

      Oi Sara, que pout-pourri de lembranças, hein? A Essenfelder e a HM. Duas marcas da história curitibana. Rosiane

  11. Liane Essenfelder

    Isto eh otimo, mas esqueceram de fazer isto corretamente. Liane Essenfelder Frank, 82 anos, Que eh direta descente da Familia ainda esta Bem e muito viva – nunca aprovou isto.

  12. Parabéns para a iniciativa do herdeiro da Essenfelder. Trabalhei na chefia do R.H. a partir de 1988 e onde conheci e fiz grandes amigos. Fui o precursor da primeira confraternização de funcionários e seus familiares dentro da empresa e para comemorar “100 ANOS” e como dizia D.Esther sem gastos. Bons tempos.

  13. Os pianos Essenfelder apresentam uma sonoridade limpa, tenho um Essenfelder de 1979 que é afinado pelo Sr. Bonifácio, que foi afinador da fábrica. A qualidade de um Essenfelder é um presente. Tocar, estudar e lecionar num bom instrumento é maravilhoso. Ainda não conheço o material da Essenfelder Educacional, bem que o púbico hoje que deseja estudar piano é bem diversificado. Então poucos são os estudantes que chegam a um nível mais adiantado.

  14. Ubiratan Siqueira Gomes

    Olá, lembro sim dessa fábrica que foi nosso orgulho em Curitiba, pois passava todos os dias em frente, para trabalhar, muito bom que esteja ressurgindo, parabéns tem história sim.

  15. E algo extraordinário.

    Em um cenário no século 21, com tantas distrações entrar em um mercado como esse e algo muito desafiador. Sem contar que desafiar uma tradição de 100 anos de um processo artesanal desenvolvido industrialmente que gerou qualidade e padronização com uma grande eficiência e um legado e algo que para alguns chega ser ofensivo.

    O legado de desenvolver um produto que não tem nenhuma mão de obra de Curitibana ou Brasileira. E um insulto. Muito mais ainda levar a industrialização para um processo que não traz absolutamente nada para o Brasil, muito menos para Curitiba que muitos dos paranaenses desejaram e ainda desejam ter um instrumento fabricado na velha fabrica da João Gualberto.

    Muito lindo ver um belo piano novo com o nome Essenfelder. Mas oque ele tem de Essenfelder além de um nome? Não tem nada. Uma patente ? Um produto de desenvolvimento nascido entre as lindas araucárias usando madeiras de procedência com selos ambientais ? Não sabemos? Vem da China? Vem da China? Tudo vem da China. São lindos parabéns quem idealizou isso tudo. Mas por favor não venha com essa linda história sendo manchada pela China. Não e o Essenfelder.

    E um Piano Chines muito bonito. Mas ele ofende a todos os empresários, industrias, ofende o DNA do próprio Floriam Sênior que era considerado um empresário de vanguarda.

    Desejo sucesso na venda de Pianos Eletrônicos mas vender pianos Essenfelder não e para amadores.

    E mais ainda a Fabrica Fritz Dobert se reinventou trouxe parte da produção dos pianos da China mas mantem o processo de fabricação no Brasil. Mantendo as origens e gerando empregos e novos artistas e mais ainda desenvolvendo a indústria Brasileira.

  16. Marilena Oliveira.

    Parabéns pela iniciativa.
    Achei excelente a reportagem.
    Tb tenho um piano Essenfelder, que herdei dos meus pais.
    É um piano lindo, maravilhoso.
    Parabéns ! Felicidades !
    Deus abençoe o trabalho de vocês !!!

  17. Ruy Mauricio de Lima e Silva Neto

    Parabéns, ótimas notícias, até que enfim uma grande notícia após tantas décadas. Sempre ouvi falar maravilhas dos pianos Essenfelder. Não sou propriamente pianista, embora de vez em quando “dê as minhas cacetadas”, como dizia um quadro humorístico da TV carioca, dos anos 60. Fiquei muito triste com a notícia da falência da Essenfelder, a esta altura tido e havido como o melhor piano brasileiro. Portanto agora fico quase rejuvenescido e bastante aliviado por saber que ele retorna às suas atividades normais. É um verdadeiro milagre e espero que sua produção regular seja ininterrupta por muitas e décadas. Se possível, séculos.

  18. César A Crepaldi

    Tenho um Essenfelder vertical modelo C (o mais alto) de 1952, com radica de imbuia, o qual eu mesmo afino. Tem sonoridade maravilhosa, e gosto de tocar jazz e bossa nova. Tenho alguns amigos mais velhos que trabalharam na fábrica. Muitos funcionarios ficaram sem receber seus direitos! Se a prefeitura de Curitiba, que gosta tanto de ajudar os empresários do transporte coletivo, tivessem ajudado a fábrica, ainda teriamos este patrimônio cultural ativo, sem precisar ser um representante comercial chinês, e fabricando um intrumento acústico de excelência, coisa que 1 piano digital nunca será…

  19. César A Crepaldi

    Tenho um Essenfelder vertical modelo C (o mais alto) de 1952, com radica de imbuia, o qual eu mesmo afino. Tem sonoridade maravilhosa, e gosto de tocar jazz e bossa nova. Tenho alguns amigos mais velhos que trabalharam na fábrica. Muitos funcionarios ficaram sem receber seus direitos! Se a prefeitura de Curitiba, que gosta tanto de dar dinheiro pros empresários do transporte coletivo, tivessem ajudado a fábrica, ainda teriamos este patrimônio cultural ativo, sem precisar ser um representante comercial chinês, e fabricando um intrumento acústico de excelência, coisa que 1 piano digital nunca será…

  20. Fui vizinha da fábrica de pianos desde que nasci. O apito da fábrica sempre foi minha referência.
    Possuo um piano Essenfelder, fabricado em 1937, que passou por uma restauração, era originalmente feito em fórmica.
    Parabéns pela iniciativa e muito sucesso nos negócios.

  21. Muito triste esta história da Essenfelder ter se tornado mais uma importadora de produto chinês. No fim, os descendentes usam o sobrenome famoso pra lucrar, e só.

  22. Parabéns Alanderson pela bem sucedida decisão de reabrir a fábrica de Pianos Essenfelder, orgulho dos Paranaenses como um tido e dos Curitibanos em Particular. Sucesso e que Deus ilumine a tradicional familia Essenfelder.

  23. Silvia Helenice Wagner de Souza

    Que boa notícia. Como a pianista Analaura, tenho uma ligacao afetiva muito grande com o “Piano Essenfelder”. Sou proprietária do primeiro ou segundo piano produzido pela Essenfelder no Brasil, cujo foi apresentado e premiado na Feira Mundial em Paris. Que bons ventos soprem para essa geracao de Essenfelder…

  24. Que legal! Meu pai trabalhou muitos anos na empresa, inicialmente como secretário da D. Esther e posteriormente responsável por compras de madeiras para a fabricação dos pianos. Tive o previlégio de conhecer a fábrica e me lembro de alguns funcionários da época, entre 1985 e 1995. Parabéns ao Alanderson e à família por conseguir retomar as atividades!

  25. Que legal! Meu pai trabalhou durante muitos anos com d. Esther Essenfelder e também no setor de compras de madeiras para os pianos Essenfelder e eu tive o previlégio de conhecer a fábrica por dentro, mesmo sendo criança, me recordo de funcionários da época e de alguns setores!!

  26. Parabéns… orgulho de ver que acreditou…
    Tenho uma filha Síndrome de Down.
    Musica ajuda muito… por agora é violão mais vamos pensar oaravter um piano da nova geração.
    .um dia, um dia.
    Novamente parabens

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