Uma noite com Aláfia, a banda dos caminhos abertos

Grupo paulistano mistura rap, MPB, funk e música de terreiro e coloca público que lotou o Teatro Paiol para dançar

O palco em arena do Teatro Paiol ficou pequeno na noite do dia 23 de maio, não apenas pela ocupação dos 13 integrantes – e seus instrumentos – da banda Aláfia, mas para a festa que o grupo paulistano promoveu no meio do teatro.

Talvez você já tenha visto esse nome incomum estampado, em caixa alta, contra o fundo amarelado do line up 2019 do Lollapalooza Brasil: logo ali, entre nomes já conhecidos do público curitibano, como Carne Doce e Duda Beat. Nem mesmo o frio típico do mês de maio, e a chuva, desanimaram: com ingressos esgotados, em pouco mais de uma hora e meia de apresentação, Aláfia botou o Paiol inteiro para dançar.

A palavra de ordem é “encontro”. Composta por tantos músicos, que formam a cara da banda, tudo gira em torno desse movimento: “Sem esses encontros o Aláfia não tem sentido, nem para se formar, nem para se estabelecer, nem para se comunicar com o público”, salienta Eduardo Brechó, uma das vozes. O nome da trupe vem do yorúbà, uma língua de tradição oral, ligada às raízes negras do Brasil, significa “caminhos abertos”, como salienta Jairo Pereira, que também compõem “as vozes” do Aláfia.

As letras do grupo cantam a violência, o racismo, o urbano, a cidade, mas também o afeto e a ancestralidade – essa última, um dos principais fundamentos da banda, de acordo com Jairo. “Sempre tivemos esses temas em comum. São coisas do nosso dia a dia, da estrutura de vida de cada um. Nós também questionávamos esse sistema estabelecido, que cria essas opressões”, comenta.

Além da denúncia, o engajamento e crítica das músicas da banda vêm, justamente, do afeto. “Falar dos embates, e simplesmente ficar nisso, acaba não dando o caminho de cura. Fomos descobrindo a importância do afeto”, salienta Jairo.

Em Curitiba, a formação atual da banda, que conta com 13 integrantes. Crédito da foto: Giorgia Prates

Em termos de influências e referências, também é do encontro entre múltiplos que o Aláfia se constrói: rap, MPB, funk, música de terreiro, flertes com black music carioca, lá dos anos 1970, funk norte americano e africano…

Como chegaram ao Aláfia de hoje? “Segredo”, brinca Brechó. O bom humor e a brincadeira entre os integrantes é uma das tônicas do grupo, que não deixa a música de lado nem mesmo durante o jantar tardio, após o show, no Largo da Ordem.

O novo disco da banda de caminhos abertos, tem previsão de lançamento para o segundo semestre desse ano, e já tem single lançado: “Canção para Nós”. Se em obras anteriores as reverências foram, em grande parte, entidades divinas, Brechó garante que no novo álbum o afeto ficará mais próximo. “Procuramos outras reverências a se fazer […], queremos reverenciar a questão do mais próximo, artistas brasileiros, que também fizeram com que o som do Aláfia mudasse”, comenta.

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