Chegada dos 30 anos é como uma bomba prestes a explodir em “Tick, Tick… BOOM!”

Filme da Netflix conta a história de Jonathan Larson, o criador do musical "Rent" que morreu antes de ser reconhecido

O musical da Broadway é uma instituição americana, assim como o Super Bowl, a Oprah Winfrey e o apoio a ditaduras na América Latina. Hoje, se milhares de jovens atletas sonham em ser o mais novo Tom Brady, outros tantos mais afeitos à música dariam tudo para ser o próximo Stephen Sondheim (1930–2021). “Tick, Tick… BOOM!” é a história real de um deles – uma história de tremendo sucesso, ainda que póstumo.

Jonathan Larson escreveu um dos grandes sucessos da Broadway de todos os tempos: “Rent”, um musical que ficou anos em cartaz, rendeu milhões de dólares e influenciou uma geração. Mas morreu um pouco antes da estreia, sem saber que o trabalho de sua vida tinha sido, finalmente, reconhecido.

“Tick, Tick… BOOM!” fala de um momento da vida dele, no começo de carreira, em que o jovem compositor precisa conciliar o trabalho em seu primeiro musical (fadado a ser um fiasco comercial) com o trabalho de garçom. As coisas vão se deteriorando e ele quase desiste de tudo para ganhar dinheiro com publicidade (as cenas maldosas com o mundo da publicidade estão entre as melhores do filme).

Jonathan Larson

O filme é baseado no segundo musical de Larson – em que ele conta como o primeiro naufragou. Uma ideia ao mesmo tempo simples e simpática: um musical sobre como é difícil ser um compositor de musicais.

A primeira tentativa de estrelato de Larson teria naufragado porque a história era um pouco convencional demais. “Superbia” seria então uma tentativa de levar a ficção científica interestelar para a Broadway, um lugar acostumado a histórias românticas e talvez um pouco menos excêntricas – embora gatos falantes e fantasmas também sejam temas um tanto extravagantes.

Então Larson compôs algo igualmente inovador. Falou de sua vida, de seu trabalho fracassado e da pressão que sentia às vésperas de fazer 30 anos. A chegada da data seria como uma bomba tiquetaqueando: ele precisa impedir o “bum”.

No processo de contar sua história, Larson fala também dos dramas de sua geração: principalmente de seus amigos gays que morrem na terrível epidemia de aids. Mas também de amores, de falta de dinheiro, de trabalhos pouco interessantes.

Lin-Manuel Miranda

É bonito que o musical tenha sido levado para o cinema por Lin-Manuel Miranda, a nova estrela da Broadway, autor de “Hamilton” e, ao que tudo indica, fã devoto de Larson. Soa como um tributo a quem possibilitou novos jeitos de levar a arte do musical adiante, com temas e estilos até então inconcebíveis, o que certamente abriu caminho para a obra ainda menos convencional de Miranda.

O desempenho de Andrew Garfield no papel principal é impressionante (ele foi indicado ao Oscar 2022), cheio de vivacidade e carisma; a música é bonita; e o filme consegue manter o ritmo e o humor durante quase todo o tempo.

Larson, morto aos 35 anos em decorrência de um aneurisma, ganha uma bela homenagem e com certeza voltará a inspirar mais uma geração de adolescentes a escrever suas histórias para os palcos da Broadway.

Streaming

“Tick, Tick… BOOM!” está em cartaz na Netflix.

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