Com “Encanto”, Disney cria uma animação tão exuberante quanto a América Latina

Filme é um ponto de virada para o estúdio que produziu "Frozen" e tem músicas de Lin-Manuel Miranda, o garoto prodígio da Broadway

Os musicais da Disney têm uma vantagem sobre os demais: como o desenho animado já te coloca de cara num clima de fantasia, fica menos estranho o proverbial momento em que o personagem, do nada, começa a cantar. Numa animação, tudo pode acontecer, e a música entra nesse pacote de suspensão total da descrença. Deixa os desenhos cantarem, oras.

“Encanto” tem muita música e em nenhum momento fica chato por isso, mesmo para quem não é muito fã de musicais (isso dito por alguém que decididamente não é muito fã do gênero). E as músicas, além de tudo, são excelentes. Assinadas por Lin-Manuel Miranda, o garoto prodígio da Broadway, têm tudo para ficar na sua cabeça por dias depois do filme, e isso não é necessariamente ruim.

Oscar 2022

O filme recebeu três indicações ao Oscar 2022: melhor filme de animação, melhor trilha sonora original e melhor canção. A história se passa na Colômbia, e envolve uma família que, sabe-se lá por que, ganhou o direito a dons mágicos. Cada membro da família Madrigal tem uma espécie de superpoder: uma das mulheres tem força descomunal, um dos homens se transforma em quem quiser; uma terceira personagem cura os outros com comida, e assim por diante.

Só uma integrante da família não ganha dom algum. E é a partir dos olhos dela que vemos a história. Mirabel é desde o começo apresentada como uma menina hiperfofa que não entende bem porque não mereceu seu dom, mas que nem por isso se ressente da família. Ela adora a casa em que eles moram, que é capaz de todo tipo de truque de magia, e se orgulha dos parentes.

É claro que não haveria filme da Disney se tudo isso não estivesse correndo perigo iminente. E é claro que, se estamos seguindo tudo por meio de Mirabel, é porque será ela a responsável por salvar a família, a casita mágica e os dons de todos os Madrigais. Saber disso desde o começo não estraga em nada a festa.

A Disney passou por momentos ruins no começo dos anos 2000. Levou couro da Pixar ano após ano, até se render à superioridade dos rivais e decidir comprar a empresa. Mesmo assim, enquanto a Pixar emplacava bilheterias escandalosas como “Toy Story”, “Carros” e “Monstros S.A.”, a Disney fazia filmes absolutamente esquecíveis como “Nem que a vaca tussa” e “Dinossauro”.

Deslumbrante

De uns anos pra cá, o estúdio começou a retomar seus bons momentos com “Frozen”, por exemplo. “Encanto” parece ser o momento decisivo da virada. O filme é deslumbrante, tanto em termos de animação quanto em todos os outros aspectos: trilha sonora, roteiro, a beleza das cores, tudo.

Assim como nas melhores animações da Disney, e como nos grandes musicais que o estúdio fez nos anos 90 – como “Rei Leão” e “A Bela e a Fera” –, há uma mensagem que parece simples e pode quase esbarrar para a autoajuda se você estiver num dia mais ranzinza. Mas se a gente lembrar que os filmes são feitos principalmente para crianças, não deixa de ser bom que essas obviedades sigam sendo repetidas.

A descoberta pelos grandes estúdios da importância de explorar um universo “multicultural” e especialmente a herança latina que tem a ver com tantos americanos hoje também tem seu legado mantido em “Encanto”. O filme não quer repetir o clima adulto do realismo mágico que marcou a literatura colombiana com Gabriel García Márquez. Mas a ideia básica de um continente tão exótico e exuberante que só pode ser explicado por meio de magia e encanto está lá. E é bonito de ver.

Streaming

“Encanto” está em cartaz no Disney+.

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