Sobre como descobri Silvia Federici e uma nova história das mulheres no livro “Calibã e a Bruxa”

A bela edição da editora Elefante convida leitoras e leitores para revisitar o período da caça às mulheres

Outro dia, procurando um título em uma livraria, dei de cara com “Calibã e a Bruxa”, de Silvia Federici. Eu já estava participando de uma leitura coletiva do livro por iniciativa do Leia Mulheres Umuarama. O gozado é que o volume, publicado pela Editora Elefante em 2017, estava na seção de misticismo, o que me fez rir, já que trata de acumulação primitiva, capitalismo e o corpo das mulheres.

Digo isso porque o nome do livro não é uma metáfora. Federici fala justamente das bruxas, mas de uma perspectiva histórica e traçando um longo – e por vezes denso – panorama sobre a situação das mulheres desde a Idade Média até o advento do capitalismo.

A autora faz um interessante recorte da questão de classe sob um viés feminista e estudou o tema por mais de três décadas antes de publicar o livro. Para situar: Federici é italiana, nascida em Parma no ano de 1942 e mudou-se para os Estados Unidos em 1967, onde mora até hoje.

Federici é militante da tradição feminista marxista autônoma e já nas primeiras linhas do livro afirma que “Calibã e a Bruxa” não é um “apêndice ao relato de Marx sobre apropriação primitiva”.

Além de jogar luz sobre a caça às bruxas nos séculos 16 e 17, tão mistificada nas telas do cinema, Federici também passeia pela colonização da América.

A autora escolheu esse nome para o livro como uma alusão à peça “A tempestade”, de Shakespeare. Na obra do dramaturgo, Calibã é filho da Bruxa Sycorax para a qual não é dada a importância necessária, segundo análise de Federici.

Apesar de o livro de Federici não ser ficcional, ela usa analogia e se refere ao proletariado como “Calibã” e às mulheres (proletárias e burguesas) como “Bruxas”. Ao contrário de “A tempestade”, a intelectual constrói toda a narrativa do livro por meio de vozes femininas.

Há muitas notas de rodapé ao longo do texto, o que deixa o ritmo de leitura mais lento. As observações, no entanto, são necessárias para se entender a conjuntura dos fatos citados.

Num contraponto, o projeto gráfico assinado por Bianca Oliveira e Karen Ka é muito agradável. Em azul e vermelho, com várias imagens de domínio público e fontes suaves, a edição publicada pela editora Elefante é belíssima.

Livro

“Calibã e a Bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva”, de Silvia Federici. Tradução do coletivo Sycorax. Editora Elefante, 466 páginas, R$ 63,90. Publicado no Brasil em 2017, o livro se tornou um dos mais procurados no catálogo da Editora Elefante.

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