O jornalista Rodrigo Ghedin, do site “Manual do Usuário”, é um homem com uma missão: escrever sobre tecnologia com coragem e honestidade. Duas qualidades que não se encontra fácil por aí. Ele é o cara, para você ter uma ideia, que defende o botão de menu num celular enquanto o resto do mundo parece não se preocupar em enterrá-lo. Ou que defende a compra de um celular mais simples enquanto multidões babam pelo iPhone-de-último-tipo.
Ele é também um dos poucos jornalistas de tecnologia que se aventurou a explicar o que diabos é um NFT e fez isso sem artifícios. “NFTs são o produto perfeito do capitalismo tardio: gera valor do nada e justifica-se em si mesmo com base em direitos arbitrários de propriedade e causando um impacto ambiental gigantesco no processo”, escreve ele.
“Manual do Usuário”
Rodrigo Ghedin criou o “Manual do Usuário” em 2013 porque sentia falta de uma publicação “menos acelerada”, “onde fosse possível apurar histórias, refletir e escrevê-las sem pressa”. As aspas aparecem no link “sobre” do site. Agora, ele reuniu algumas das histórias e reflexões dos últimos dois anos em um belo livro artesanal: “Outros jeitos de pensar a tecnologia”.
Faz sentido que o “Manual do Usuário” lance um produto físico, o seu primeiro, e que esse produto seja um livro – aliás, uma tecnologia espetacular. Ghedin prefere se referir à publicação como um zine, talvez para ressaltar o aspecto artesanal do projeto. De qualquer forma, o volume de cem páginas costurado à mão tem um design bacana, não consome bateria e é bastante intuitivo, inclusive com os QR codes que levam aos links citados pelo autor.
Tecnologia
Disponível apenas no site da Casatrês, “Outros jeitos de pensar a tecnologia” reúne dez textos que enfrentam temas palpitantes e às vezes difíceis. Além dos NFTs, Ghedin analisa a web3, as mudanças da Netflix e a crise das big techs. Ele escreve sobre a fadiga de novidades (quando fica difícil se interessar pelo lançamento de uma nova traquitana tecnológica) e sobre o quanto ações individuais são mesmo úteis para enfrentar problemas globais (naquele que é talvez o melhor texto da seleção).
Ele também faz uma das melhores críticas que já li sobre nossa dependência do WhatsApp como ferramenta de comunicação e negócios. E demonstra a paciência necessária para experimentar e pesquisar tecnologias que, com frequência, são consumidas e festejadas sem nenhum bom senso. Assim, ele pode criar e administrar um grupo no Telegram para as pessoas do bairro onde mora como uma espécie de experimento social e depois escrever a respeito.
Por fim, os textos têm alguns elementos em comum que dão unidade ao conjunto, como a qualidade das informações e o argumento original, costurados por um senso de humor peculiar. Do tipo que você precisa ter para lidar com o mundo hoje, dentro e fora da tecnologia.
Livro
“Outros jeitos de pensar a tecnologia – Textos selecionados do Manual do Usuário”, de Rodrigo Ghedin. Casatrês Editora, 100 páginas, R$ 35. Não ficção.
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